A mais nova da “Perereca da Vizinha”

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Ana Célia Pinheiro é uma competente jornalista. Já trabalhou nos jornais A Província, O Liberal e Diário do Pará. No rádio, esteve na Cultura. No campo governamental, prestou serviços ao Senado Federal e ao Governo do Estado. Ao sair dos ambientes palacianos, se dedicou a um trabalho autoral, e desde então vem mantendo de forma independente o Blog “A Perereca da Vizinha”, que vem sendo nos últimos anos um espaço relevante de análise política.

Ana Célia se especializou em promover investigações jornalísticas direcionadas aos governos do PSDB. Iniciou uma saga contra o governador Simão Jatene (quando este retornou pela segunda vez, em 2011, ao governo do Pará e que mantém – com menos frequência – até hoje), com dezenas de textos sobre os desmandos nas gestões do PSDB. Pinheiro intercalou neste período abordagens sobre a gestão do prefeito Zenaldo Coutinho na capital do Pará, com críticas duras em diversos textos ao Poder Judiciário paraense. De forma nominal e direta, sempre destilou o seu “veneno” ao publicitário Orly Bezerra, o grande marqueteiro das gestões tucanas. Fez do seu espaço um ringue contra o referido publicitário, uma exposição pública de desavença e ranço pessoal.

Hoje o seu blog é atualizado esporadicamente. Célia não consegue viver dele, pois não aceita publicidade, e não se rende aos “acordos”, conforme a mesma deixa sempre claro.

Mesmo de forma espaçada, a “Perereca” voltou à blogosfera paraense. Dessa vez, trouxe à tona a disputa pelo governo do Pará. O blog reproduz na íntegra o texto. A análise da referida jornalista é abrangente, envolve diversos atores do processo político-eleitoral e se posiciona próximo ao que foi analisado por mim, semanas atrás, através do texto: “Márcio Miranda será o ‘boi de piranha’ de Jatene”. Vale a pena ler:

Opinião: Jatene vai fritar o candidato tucano ao Governo

“Se eu fosse o deputado estadual Márcio Miranda ou o prefeito Zenaldo Coutinho, pensaria trezentas vezes antes de ser o candidato do governador Simão Jatene, ao Governo do Estado, nas próximas eleições de outubro.

Isso porque o candidato de Jatene terminará exatamente como Almir Gabriel, nas eleições de 2006: “pendurado na escada”, sem máquina, sem dinheiro, sem nada e ainda responsabilizado pela derrota.

A questão é simples: Jatene não tem o menor interesse na vitória de Márcio, Zenaldo, ou de qualquer de seus aliados, neste momento.

O que ele quer é que o PSDB se esfacele, exatamente como aconteceu no day after de 2006.

Assim, em 2022, poderá, novamente, ser o “salvador” dos tucanos paraenses, e emplacar a filha, Izabela, como governadora.

Daí que o “candidato do coração” do governador, nas próximas eleições, não é nem tucano nem democrata.

É um petista ou até um psolista, que Jatene poderá submeter a uma perseguição implacável, durante quatro anos, exatamente como aconteceu com a petista Ana Júlia Carepa.

Com isso, a retomada do poder pelos tucanos, em 2022, será muito mais fácil, do que se o eleito for Helder Barbalho, já que o PMDB possui quadros técnicos, capilaridade, trânsito e um poderoso grupo de comunicação, para governar e se defender.

O que estou dizendo pode parecer loucura, fantasia. 

No entanto, qualquer pessoa com um olhar mais atento desse tabuleiro político chegará à conclusão que cheguei. 

A bem da verdade, a estratégia jatenista é bastante inteligente (do ponto de vista de seu projeto dinástico de poder), e tem razão de ser. 

São enormes as semelhanças conjunturais entre 2006 e 2018. 

Há um grande desgaste do tucanato, talvez acelerado pelo fato de o PSDB deter, além do Governo, a prefeitura da capital, com administrações decepcionantes, para a maioria da população. 

Há escândalos em série, especialmente no Governo. 

Há a incompatibilidade (cada vez mais visível) entre a milionária propaganda e a realidade das ruas, principalmente na Segurança Pública. 

Há a enorme possibilidade de as oposições vencerem as próximas eleições, a partir da reunião de um amplo leque de lideranças partidárias, em torno de um candidato com reais expectativas de poder. 

E creio que nem é preciso dizer que essa máquina de guerra e potência eleitoral que é o PMDB entrará em campo para ganhar ou ganhar. 

Até porque se trata de uma questão de sobrevivência: o cenário nacional, que desde a redemocratização nunca foi tão nebuloso, poderá, de fato, reconduzir o PSDB à Presidência da República. 

O governador já percebeu, com certeza, que os ventos sopram a favor das oposições paraenses. E, mais do que isso, quer e precisa manter o controle partidário.

Ele nunca permitiu – e nem permitirá – o crescimento de qualquer outra liderança tucana, a não ser que lhe seja ligada por laços sanguíneos. 

Será sintomático, aliás, se o escolhido para a imolação for o deputado Márcio Miranda. 

Na pesquisa Ibope de fevereiro deste ano, Márcio aparece com 6%. 

Isso até nem seria ruim, se resultasse de um desconhecimento pelo eleitorado, o que não parece ser o caso: além de deputado várias vezes reeleito e com atuação em uma das regiões de maior densidade eleitoral (o Nordeste paraense), Márcio também é figura fácil em entrevistas televisivas em municípios estratégicos, até pelo fato de ocupar, há anos, a Presidência da Assembleia Legislativa. 

No entanto, ele ainda pode crescer bastante, até com o engajamento de prefeitos e militantes do PSDB em sua campanha. 

E isso nos leva ao verdadeiro xis da questão: o problema de Márcio é o próprio Márcio. 

Ele é uma “bagagem” pesada, numa eleição dificílima para os tucanos e na qual será preciso, mais do que nunca, domínio do palanque eletrônico (linguagem simples, clara, marcante, concisa, convincente, acompanhada de expressão corporal compatível), além de uma belíssima dose de carisma – coisas que, definitivamente, ele não tem. 

O próprio perfil meio zen, diplomático, de Márcio deverá pesar contra ele, nos debates eleitorais: é difícil imaginá-lo sendo incisivo, e até um pouco agressivo ou irônico nas respostas e indagações, em caso de necessidade. 

No entanto, Márcio candidato ao Governo cairia como uma luva nos planos de Jatene, que poderia encaçapar várias bolas com uma só tacada. 

Por um lado, a derrota de Márcio aquietaria, por longo tempo, o assanhamento do DEM de querer encabeçar chapa, em aliança com os tucanos. 

Por outro, um Márcio sem mandato, durante quatro anos, turbinaria o controle do Nordeste paraense por Eduardo Salles, o sobrinho testa-de-ferro de Jatene. 

E para quem acha que Jatene jamais trairia o fidelíssimo DEM, basta lembrar o que aconteceu com Valéria, quando ela concorreu à Prefeitura de Belém, contra a “cria” e queridinho do governador, o ex-prefeito Duciomar Costa. 

A queda ali foi feia. Mas agora será bem pior. 

Outro “cordeiro” que cairia como uma luva na imolação planejada por Jatene seria o prefeito Zenaldo Coutinho. 

Não há dúvida de que ele é um candidato muito superior a Márcio. 

Zenaldo tem carisma; um grupo político forte e azeitado e um impressionante domínio do palanque eletrônico. 

O problema, além da péssima administração que realiza em Belém (o maior colégio eleitoral do estado) é o fato de ter sido a “cara” do Não, no plebiscito sobre a divisão do Pará. 

Vale salientar: o que foi espezinhado naquele plebiscito não foi um suposto “conluio de lideranças partidárias”. 

Em verdade, foram os sonhos, as esperanças, de milhares de cidadãos, do Sul e Sudeste e do Oeste do Pará, que foram espezinhados. 

Trata-se, portanto, de um “fator emocional”, complicadíssimo até para o sapateado de catita do prefeito de Belém, e mais ainda, pela dificuldade das próximas eleições para o tucanato. 

Mas a derrota de Zenaldo também seria muito interessante para Jatene. 

Se permanecer prefeito, ele poderá aglutinar os derrotados tucanos e se cacifar às eleições ao Governo, se o desejar, em 2022. 

Isso levaria a uma grande disputa interna no PSDB e dificultaria a ascensão de Izabela, especialmente se os tucanos, ao juntarem os cacos, conseguissem perceber a traição do governador. 

Mas em caso de disputar a eleição ao Governo e perder, Zenaldo carregará a culpa pela derrota. 

O grupo político que o sustenta, como é muito forte, evitará que amargue o ostracismo. 

Mas ele não mais representará qualquer ameaça aos planos de Jatene, até pelo seu fraco desempenho no Executivo municipal. 

Essa, aliás, não seria a primeira rasteira que Zenaldo levaria de Jatene. 

A primeira foi quando concorreu à Prefeitura de Belém, contra Edmilson e Duciomar, e acabou transformado no “garoto do Bombril”, o que o fez perder o bonde da história (ele poderia ter sido o sucessor de Almir).

 A segunda foi quando recebeu “de presente” a prefeitura de Belém, após a passagem do “furacão” Duciomar. 

Há outros nomes aventados como possíveis candidatos à sucessão de Jatene, como é o caso do prefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro, o eterno “patinho feio” do PSDB, um pouco melhor do que Márcio, mas inferior a Zenaldo. 

No entanto, considero que Márcio e o prefeito de Belém são os mais prováveis à imolação, justamente porque, com a derrota, deixarão de representar problemas, presentes e futuros. 

A meu ver, os tucanos paraenses e seus aliados estão é em um mato sem cachorro. 

Porque, para alcançar o seu projeto dinástico de poder, o governador não hesitará em atirar às feras quem quer que seja, como tem feito, aliás, ao longo de toda a sua trajetória política.”

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