Salve-se quem puder. Não há efetivo policial suficiente no Pará

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Raimundo Nonato de Oliveira de Sousa, 51 anos, policial militar, foi torturado e morto com requintes de crueldade. Segundo informações do Instituto Médico Legal (IML), foram quatro facadas e quatro tiros. “Santarém” como era conhecido por seus pares de corporação, estava na PM há 23 anos.

O assassinato cruel do agente de segurança acabou por desencadear uma onda de violência em Parauapebas, na última semana. Em menos de 24 horas da morte do PM, 10 pessoas perderam a vida por arma de fogo na “capital do minério”, todos com características claras de execução. Ainda não se pode associar a sequência de mortes com o assassinato do cabo “Santarém”, mas há proximidade temporal inegável nos casos. Já não é novidade a matança que se faz quando morre um policial. Exemplos não faltam.

Parauapebas, município de porte médio (levando com critério o quantitativo populacional do IBGE de 200 mil habitantes) já vinha enfrentando alto índice de violência, sobretudo, após a cidade mergulhar em uma crise econômica, com alto índice de desemprego (especulasse que hoje existam em Parauapebas, cerca de 40 mil pessoas sem emprego) o que pode ser apontado como uma grande causa para a onda de violência que a “capital do minério” vive.

O que venho falando e escrevendo de forma sucessiva… Falta claramente efetivo (homens) a Polícia Militar paraense. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (Segup) existem hoje no Pará cerca de 13 mil policiais militares. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda-se que exista um policial militar para cada grupo de 250 habitantes. Ou seja, pela população atual temos um policial para cada 600 habitantes, mais do que dobro do recomendado. Isso já demonstra que falta efetivo para combater o crime e garantir o mínimo de segurança ao cidadão. Fora os que estão fora das ruas, cumprindo expediente em repartições públicas e exercendo funções administrativas.

A situação em Carajás em relação a efetivo policial é dramática, para não dizer, caótica. Segundo informações conseguidas por este blogueiro, o 23º Batalhão de Polícia Militar de Parauapebas é responsável por cobrir Curionópolis, Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás e Serra Pelada, Serra dos Carajás e área do Contestado.

Além da violência urbana, temos um barril de pólvora na região. Conflitos a todo momento: questão agrária que causa interdição de ferrovia, rodovias, e por ai vai…

São 240 homens (PMs) para cobrir toda a referida área relatada, o que, em média, consiste em 30 policiais por turno. Segundo informações, o município de Canaã de Carajás, por exemplo, conta, em média, com seis PMs e Parauapebas mantém, também em média, 16 homens por turno. Pelos cálculos da ONU, pela população atual de Parauapebas (200 mil segunda a estimativa do IBGE), a “capital do minério” deveria ter 800 policiais militares. Mas como apresentado, nem metade disso cobre toda a região. No caso de Canaã dos Carajás, com população estimada em 36 mil pessoas, o efetivo segundo recomendações da ONU, estaria em 144 homens e não seis por turno, conforme a realidade.

No caso da morte do “cabo Santarém” a violência veio à tona da sua forma mais cruel, mortes ao varejo, com 10 assassinatos, em menos de 24 horas. Após a morte do policial em Parauapebas, outro no Marajó também perdeu a vida. Já são 28 PMs assassinados em 2017. Em termos comparativos, em 2015, 19 policiais militares perderam a vida. No ano seguinte, em 2016, 23 foram à óbito. No ano corrente já ultrapassamos a triste estatística e infelizmente, a possibilidade é de aumento.

Não há, pelo menos, a curto e médio prazos tendência de melhora ou diminuição dos alarmantes índices de violência que o Pará atravessa. Não há o básico: efetivo. Em 2018, o PSDB completará 20 anos governando o Pará, 16 deles de forma ininterrupta. No caso da segurança pública, as duas décadas de gestão tucana, o Pará só piora. Salve-se que puder.

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