Saudade do Lula e a disputa presidencial

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A combinação de duas pesquisas divulgadas nos últimos dias é reveladora dos motivos pelos quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mantém à frente das intenções de voto para 2018. No último dia 15 a pesquisa CNT/MDA divulgou estudo reiterando a preferência por Lula, que continua liderando com 30,5%, 31,8% e 32,8%, dependendo do cenário de primeiro turno. Na segunda-feira (13), o jornal Valor Econômico tornou pública pesquisa qualitativa realizada pela empresa Ideia Inteligência, segundo a qual a intenção de votar no ex-presidente se deve a um sentimento de saudade, ou nostalgia, do período de seu governo, de 2003 a 2010.

O sentimento de “saudade” na política, na questão eleitoral é algo altamente relevante. Define de forma sólida, por exemplo, um voto. Essa “saudade” é explicada, principalmente, pelo fato de ter sido uma época em que se ganhava melhor e o povo se sentia mais valorizado. Portanto, o aspecto econômico é o óbvio e principal fator que explica a persistência de Lula à frente das pesquisas, apesar das denúncias e campanhas midiáticas contra ele.

Em recente pesquisa divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) a “Era Lula” foi considerada a melhor dos últimos 60 anos no Brasil, sobretudo, na questão econômica. O referido período foi marcado pela pujança do consumo, do pleno emprego, do acesso aos bens de consumo que antes não passava de desejo e eterna pretensão, especialmente aos menos abastados.

O governo Dilma Rousseff veio em seguida e gradativamente essas conquistas começaram a ruir. Os dados econômicos já anunciavam que os “bons tempos” estavam com os dias contados. A recessão econômica estava vindo e atingiria o Brasil em cheio, sem que se pudesse ter ou aplicar ferramentas para blindar ou amenizar os impactos.

A eleição de 2014 chegou e com ela a vitória apertada de Dilma. Mas o cenário econômico já estava com sinais práticos de queda, por exemplo, da atividade industrial e aumento do desemprego. Em 2015 o governo não conseguiu melhorar nenhum índice da economia e apenas foi “empurrando” os problemas. Veio 2016 e com ele a crise política que culminou no impeachment de Dilma. Foi o segundo presidente afastado em definitivo em apenas 24 anos de democracia no Brasil. Nosso presidencialismo é capenga.

Saiu Dilma e entrou Temer. Já se passaram oito meses do novo governo e não há o que comemorar. A economia continua inerte, em recessão, sem sinais claros que a curva de recuperação está sendo construída. Especialistas da área (os que não estão exercendo o papel de porta-vozes do Palácio do Planalto e que mostram isenção em suas análises) afirmam que em 2017 não se pode esperar mudanças positivas. Talvez, em 2018, isso possa ocorrer de forma tímida.

Neste contexto, Lula, aparece como franco favorito ao Palácio do Planalto pela terceira vez, algo inédito após o processo de redemocratização. Pesquisas de opinião apontam a vitória do petista em 1º turno. Sobre essa questão tem duas variantes: a questão da comoção pública (Lula acabou de perder a sua esposa Marisa Letícia) e a falta de um nome que possa – de fato – tirar o país do atual atoleiro econômico.

Aécio Neves desidrata politicamente. Alckmin seria a saída em substituição ao senador mineiro. Marina Silva já demonstra que seu “time” parece ter passado. Ciro Gomes (outro do campo progressista, a exemplo de Lula), mas sempre se auto sabota pelo próprio processo dialético.

Saudade é o principal combustível que deverá manter acesa a chama político-eleitoral de Luís Inácio Lula da Silva. É que faz, por exemplo, se manter competitivo frente a uma verdadeira caçada da justiça e de grande parte da mídia (ainda sem comprovar nenhuma acusação feita ao ex-presidente). Goste ou não, Lula tornou-se um mito na seara política brasileira.

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