A caminho do “terraplanismo” republicano

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Não é novidade e nem gera espanto que o presidente Jair Bolsonaro antes mesmo de vencer a corrida presidencial, já demonstrava o seu desejo de mudança do atual regime democrático para um modelo mais centralizador. Na cadeira presidencial, sua postura sempre foi de ataque às instituições democráticas. Assim foi quando seus apoiadores pediram o fechamento do Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro sempre deixou claro que estava impossibilitado de governar, que o parlamento (local que esteve por trinta anos) torna inviável politicamente o governo. Sempre reclamou de alguns posicionamentos dos ministros da Suprema Corte, os acusando de interferência. No período pandêmico, em que o presidente se recusou a reconhecer a gravidade do problema, não reconheceu a independência dos governos estaduais e municipais.

Bolsonaro não aceita os limites impostos pelo regime democrático. O equilíbrio de forças, dividida em três, sem sobreposição entre elas, não cabe no Bolsonarismo. Desde quando assumiu a Presidência, Bolsonaro sempre promove um jogo de esticar e solta a corda. Promove ações de confronto, depois recua. Mas, como já dito aqui antes, mesmo recuando, se avança “uma casa”.

O Bolsonarismo promove o conflito. Fomenta o embate. Esse estado beligerante serve não só como combustível para a tropa, mas desvia a atenção para diversos problemas que o governo tem de enfrentar e, pelo visto, não tem noção de como resolvê-los. Dito isto, torna-se, portanto, necessário manter um inimigo invisível, criar atritos contra tudo e todos, pois tal postura alimenta o sentimento de conflito que o bolsonarismo propaga a quem o segue. E assim será.

Bolsonaro quer a ruptura institucional. Esse tema já foi debatido diversas vezes neste Blog. Defende o que chamo de “terraplanismo republicano”, que, para ele, basta apenas um poder, neste caso, o Executivo. A questão é que Bolsonaro não conseguiu o apoio que queria das Forças Armadas. Ao seu lado para dar prosseguimento à ruptura, há poucos militares, a ampla maioria – inclusive muitos da ativa – ocupa cargos no governo.

Anteontem, 29, Brasília “ferveu”. Em poucas horas, seis ministros foram demitidos. O caso mais polêmico foi o de Fernando Azevedo e Silva, agora ex-ministro da Defesa, destituído do cargo por não concordar com alguns posicionamentos e ordens do presidente. Ontem, 30, os três comandantes das Forças Armadas (Aeronáutica, Exército e Marinha) foram desligados pelo novo ministro Braga Netto, ex-Casa Civil.

Bolsonaro não consegue entender que as Forças Armadas são instituições de Estado. Portanto, não seguem governos. Sabe que sem o apoio da ampla maioria dos militares, a sua intenção de ruptura institucional não toma forma. A história recente nos diz que, desde o início do atual governo, toda vez que o presidente e aliados estão acuados, a tendência é ir para o embate. Irá desta vez, em um novo contexto político, em que o Centrão está dando as cartas? Braga Netto, o novo Ministro da Defesa, indicará os novos comandantes das três forças que estejam alinhados ao governo e não ao Estado?

Todas essas mudanças às vésperas do 31 de março, data que marca o golpe militar que culminou com o início da ditadura que durou 21 anos. Está claro que, o Bolsonarismo não consegue conviver em seus quadrantes, por isso, os rompantes golpistas que servem, substancialmente para medir o aceite. A corda continuará a ser esticada.

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