Não há dúvida (as próprias circunstâncias atuais reforçam isso) que o maior desafio do novo governo será desbolsonarizar a gestão, sobretudo, a área militar, via Ministério da Defesa. Os primeiros dias do ano que culminaram no terrorismo do último dia 08, com clara conivência das Forças Armadas, foi a maior comprovação de como os militares estão em sua maioria ligados à política, esquecendo que são forças de Estado e não de governo. Na prática, o bolsonarismo os trouxe para à seara política.
Acabamos de sair de um governo civil, mas com perfil militar. Natural que componentes das Forças Armadas tivessem maior presença no governo. Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU) foram identificados 6.157 oficiais ocupando cargos comissionados em funções civis em 2020, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, esse número representa mais que o dobro em 2016, que tinha 2.957, quando o PT deixou o poder após o impeachment de Dilma Rousseff. Dados ainda que estão sendo fechados pelo citado tribunal, apontam que até dezembro último, quase nove mil militares estavam no governo passado.
No governo Lula a ordem é a de desmilitarizar a Esplanada dos Ministérios. Os militares da ativa e da reserva começaram a ser retirados de cargos políticos já nos primeiros dias do petista no poder. Esse processo atinge integrantes das Forças Armadas, policiais e mulheres e filhos de oficiais.
Mesmo com o pente fino feito pelo PT, o processo de “desbolsonarização” das FFAA levará meses. A questão não se resume apenas a “tirar” militares de cargos civis, mas repactuar a relação entre o governo e os militares, vide o que vem acontecendo desde novembro: acampamentos na porta dos quartéis, com clara conivência militar, além da inércia na invasão à Praça dos Três Poderes, no último dia 08.
A influência bolsonarista, por exemplo, no Exército, não irá cessar. Na verdade, ela sempre se fez presente (antes mesmo de qualquer referência ao termo usado). O que se precisa fazer é conter qualquer arroubo golpista, de ataque à democracia ou mesmo desrespeito à Constituição Federal.
O primeiro grande passo foi dado no último sábado, quando o ex-presidente Lula exonerou o general Júlio César de Arruda do posto de comandante do Exército, nomeando para o seu lugar o comandante do Sudeste, Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, que viralizou ao discursar em um evento militar, cobrando que os militares respeitem o resultado das urnas e que se comportem como membros de uma instituição de Estado, e não a serviço de governos.
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