A dialética esquizofrênica

Duas semanas se passaram desde a vitória de Jair Bolsonaro, e o que se viu até aqui foi uma verdadeira esquizofrenia dialética vinda de todos os lados: do presidente e de seus auxiliares diretos (futuros ministros) e até de terceiros. Diversos assuntos e pretensões foram desmentidas, reconsideradas e alteradas. O vexame dos primeiros dez dias de articulação para a montagem do novo governo dominou o noticiário e provocou uma avalanche de críticas. As palavras que definem esse primeiro momento de Bolsonaro na liderança de um governo são: desorientação, confusão, atrito, ingerência e diversionismo.

Desastrosas narrativas acabaram por abalar a imagem brasileira no exterior: inferiorização do Mercosul; transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, questionamentos sobre a relação comercial com a China, decisões internas no formato do novo governo, etc.

Estrutura do Estado

Sobre este ponto apenas uma certeza: a estrutura do Governo Federal será menor. Mas como se dará a redução e fusão de ministérios, por exemplo, ainda não se tem um direcionamento. Narrativas iniciais davam certo a fusão das pastas de Meio Ambiente e Agricultura, depois essa unificação foi descartada. Decidiu-se pela extinção do Ministério do Trabalho, sem antes o mínimo debate sobre a questão. Iniciou a discussão sobre a criação de “super ministérios”, como o da Economia, que unificaria a própria as pasta de Planejamento e Indústria e Comércio; o da Justiça, sob comando de Sérgio Moro, que ainda se juntaria ao da Segurança Pública.  A proposta é reduzir o números de ministérios, mesmo sem saber em quantos. Desde fevereiro de 2018 são 29 pastas ministeriais, sendo 23 ministérios, duas secretarias e quatro órgãos equivalentes a ministérios. A proposta – que muda o tempo todo – seria ter 18 pastas, no máximo.

O futuro governo do presidente eleito caminha para uma linha neoliberal. Seu mentor é Paulo Guedes que esbouça a nova estrutura estatal, bem menor e com menos presença do Estado na economia. Aliás, está vindo de Guedes as frases mais infelizes e que estão gerando conflitos desnecessários ao novo presidente. O futuro ministro da economia mostra-se um noviço quando se trata de relações políticas (nunca exerceu um cargo público, se restringiu até hoje em atuar no setor privado). Sua estada no meio da semana passada no Congresso Nacional, com conversas reservadas com os presidentes da Câmara e Senado foram um desastre. Sua narrativa em tom de cobrança e mostrando total desconhecimento dos ritos legislativos, além de mostrar pouco interesse no orçamento de 2019, algo fundamental ao seu trabalho e ao novo governo. Sua atenção se resume a reforma da previdência, e só.

De fato, é perceptível que o novo governo não tem uma linha de trabalho definida, ou melhor, não há equipe formada. O processo de montagem do novo governo está sendo em doses homeopáticas e com a definição de nomes seguindo critérios de apoio político.

Os desafios serão enormes ao novo governo. A “saída” inicial foi tentando achar um rumo, que parece ainda não ter sido possível ainda, a começar pela narrativa horrível, desencontrada e até esquizofrênica. E não há um porta-voz oficial, todos falam.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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