A Vale terá condições de manter os níveis elevados de investimento como os verificados em 2024, em que deve fechar o exercício com um valor de investimento entre US$ 6,3 e US$ 6,5 bilhões? Esta é a pergunta que o mercado está fazendo, depois que a empresa fechou o acordo de reparação de Mariana, pelo qual terá de desembolsar anualmente cerca de US$ 1 bilhão. De acordo com o novo presidente da Vale, Gustavo Pimenta, que assumiu em 1 de outubro de 2024, a companhia deve manter seus planos de crescimento no portfólio que possui hoje, focado em minério de ferro de alta qualidade e minerais para transição energética como cobre e níquel.
Em minério de ferro, a Vale já estabeleceu como meta elevar o seu nível de produção para 350 milhões t/ano, com a conclusão dos investimentos que está realizando em Minas Gerais e no Pará. No território mineiro, a empresa conta com a entrada dos projetos Vargem Grande e Capanema, que acrescentarão, cada um, 15 milhões de toneladas à capacidade de produção, o que permitiu que a Vale elevasse suas projeções de produção para 2024 de 310-320 Mt para 323-330 Mt. Vargem Grande começou a operar em setembro deste ano (um mês antes do previsto) e Capanema deve entrar no primeiro semetre de 2025. No primeiro, a Vale investiu US$ 67 milhões, enquanto no segundo a previsão total de investimentos é de US$ 913 milhões. A explicação para a diferença nos níveis de investimento é que enquanto Vargem Grande envolveu a transformação da planta de processamento a umidade natural para processamento a úmido e expansão das minas de Horizontes e Tamanduá, o projeto Capanema implicou na retomada da operação da mina e a produção de sinter-feed com processamento a umidade natural.
O plano de curto prazo da Vale também prevê a expansão da capacidade de produção naquele que hoje é o seu principal ativo, o S11D, na região de Carajás, cuja capacidade produtiva aumentará em 20 milhões t a partir do segundo semestre de 2026, o que demanda um investimento de US$ 2,8 bilhões.
No horizonte até 2030, a mineradora tem na sua carteira de projetos, ainda em minério de ferro: a instalação de um britador de compactos em S11D, que acrescentará 50 milhões t de capacidade; o acréscimo de 6 milhões t na mina N4 (Serra Norte); expansão da mina Serra Leste, com mais 4 milhões t. E, indo mais além de 2030, há várias outras possibilidades, como abertura das minas S16 e S17 (na Serra Sul); minas N1/N2 e Morro 2 (na Serra Norte); minas S11A, S11B e S11C (também na Serra Sul); concentração do minério Jaspilito (rocha dura em S11D); minas Serra do Rabo, Apolo, Fazendão itabiritos, Fábrica Nova Itabiritos, Pico Itabiritos e aproveitamento de áreas de disposição de rejeitos em Minas Gerais.
Para crescer sua capacidade de produção de minério de ferro, a Vale conta também com a modernização da legislação sobre cavidades, que poderia liberar para a lavra reservas da ordem de 1,6 bilhão de toneladas. Somente na Serra Norte poderiam ser lavradas adicionalmente 30 milhões t/ano.
A empresa também aposta também no avanço dos Mega Hubs, formados por unidades de mineração, plantas de concentração, plantas de aglomeração (para produção de briquetes e pelotas) e plantas de redução direta (produção de HBI). A ideia é ter Mega Hubs no Oriente Médio (Omã, EAU e Arábia Saudita), no Brasil e nos Estados Unidos. No Oriente Médio, já foram selecionados e assegurados terrenos nos três países e está sendo negociado o suprimento de gás natural e energia, estão sendo feitos os estudos de engenharia para as plantas de briquetagem e HBI e, segundo a Vale, já existe um grande interesse por parte dos investidores. No Brasil, a empresa já concluiu o estudo de seleção do local e está realizando os estudos de pré- -viabilidade. Também há conversas com potenciais parceiros. Nos Estados Unidos, a Vale negocia, com o Departamento de Energia, a concessão para instalação de uma planta de briquete de redução direta (HBI) com capacidade de 1,5 milhão de toneladas/ ano e investimento de US$ 283 milhões. Os estudos de engenharia para essa planta já estão sendo realizados e a expectativa é que o start up ocorra em 2029.
Com os projetos em andamento e aqueles que estão em seu pipeline, a Vale espera otimizar e diversificar o seu portfólio em minério de ferro, a fim de obter valor em um mercado segmentado, aumentando o percentual de produção de aglomerados dos atuais 13% para 27% e reduzindo o minério de alta sílica de 10% para 2%.
Uma das grandes vantagens que a Vale tem em sua perspectiva de crescimento é a quantidade e qualidade de suas reservas, sobretudo em Carajás, onde as reservas totais de minério de ferro somam 5,2 bilhões de toneladas com 65,2% Fe e recursos de 2,4 bilhões de toneladas com 62,9% Fe. Além disso, o minério de ferro de Carajás tem baixo teor de impurezas, abaixo de 2,8% de sílica e alumina.
Metais para transição energética
Nos metais para transição energética, a estratégia de crescimento da Vale (através de sua controlada Vale Base Metals) está focada no Brasil e também no exterior, principalmente no Canadá. No Brasil, a empresa comemora a operação bem sucedida do projeto Salobo 3 (eleva a capacidade de produção para 220 mil t/ano de cobre), que já está com 90% da capacidade, enquanto no Canadá os fatos positivos são o “renascimento” dos ativos em Sudbury, que tiveram um aumento de 30% nos volumes processados e o ramp up de Voisey’s Bay, seguindo um plano atualizado.
A Vale considera a mina de cobre de Salobo como um ativo singular, que já produziu 1,8 milhão de toneladas de cobre desde 2012 e ainda tem reservas de 1,1 bilhão de toneladas com 0,62% de cobre e 0,35 gramas de ouro por tonelada, o que aponta para uma perspectiva de mais 40 anos de vida útil. Mas, de acordo com a Vale, Salobo ainda tem potencial para aumento significativo de recursos, o que poderá ser comprovado por sondagem profunda. Além das reservas, Salobo tem atualmente recursos de 551 milhões de toneladas com 0,47% de cobre e 0,23 gramas de ouro por tonelada. A empresa tem planos de aumentar a capacidade de produção em Salobo através de melhorias operacionais, como a introdução da flotação das partículas grossas, que poderia melhorar a produtividade em 25 a 30%, com potencial de produção adicional de 20 a 30 mil t/ano e a maximização de sinergias com os equipamentos e infraestrutura atuais, para aumentar a capacidade da planta Salobo 3, o que poderia agregar mais 20 mil t/ano à capacidade.
Com informações de Brasil Mineral
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