Em uma tarde ensolarada, no dia 06 de maio de 1997, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, acontecia até aquele momento, a maior privatização de uma empresa brasileira. No centro deste processo estava a então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que a partir da data descrita, deixaria de ser estatal, passando a ser controlada pelo capital privado. No ato de venda da Companhia, quem governava o Brasil era Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
À época, a mineradora era a segunda estatal brasileira de maior valor, logo atrás da Petrobras, estatal até hoje. A Vale, como é chamada, era a maior exportadora de minério de ferro do mundo, hoje ocupa a segunda posição no mundo. Em 1997, no ato de sua venda, a então CVRD foi avaliada pela cotação em bolsa internacional pelo valor de US$ 60 bilhões ou R$ 60 bilhões, pois a cotação do real era de paridade para o dólar (R$ 1,00 = US$ 1). A empresa foi vendida por R$ 3 bilhões, ou seja, equivalentes, na época, a 5% do valor efetivo e comercial da Vale – venda feita por 20 vezes menos que o valor da companhia. A pergunta que mais se fazia à época era: Por que vender uma empresa lucrativa, que não representa ônus para a União? A réplica estava pronta: “Para gerar ainda mais lucros aos país”.
Quando foi privatizada, a Vale produzia 114 milhões de toneladas/ano, nível que se manteve praticamente estável nos dois anos subsequentes à privatização, para subir acentuadamente em 2000. Logo após o processo de venda, entretanto, os lucros da empresa aumentaram consideravelmente. Nos anos seguintes a Vale fez uma sequência considerável de aquisições.
Em 2005, sua produção de minério de ferro – que engloba também das empresas que foram incorporadas – se elevou a 255 milhões de toneladas. Esse enorme ganho de lucratividade se deveu, sobretudo, ao grande aumento havido no preço do minério de ferro no mercado internacional, o crescimento exponencial da procura do minério em questão, em especial pelo mercado chinês.
Em uma breve pesquisa dos balanços da mineradora, percebe-se que, por exemplo, o lucro líquido apenas nos exercícios de 1998 a 2000, logo após a venda, totalizou R$ 4,2 bilhões (valores históricos), isso antes do período do “boom das commodities”, em que a companhia chegou a lucrar R$ 37,8 bilhões em um único ano. E isso não por causa da privatização, mas porque a cotação do ferro, cuja Vale é a maior produtora mundial, garantiu esse resultado.
Os críticos da Vale afirmam que após a privatização ficou claro que a exploração mineral seria feita sem relação com as estratégias de desenvolvimento nacional e local; a mineradora iria focar na transferência do lucro para acionistas, sobretudo de fora do Brasil; teria um impacto como o do crescimento da terceirização e do trabalho precário; e ampliação da degradação ambiental e dos crimes ambientais.
A privatização da Vale S.A. foi controversa por não ter levado em conta o valor potencial das reservas de ferro em possessão da companhia na época, apenas o valor de sua infraestrutura, o que tornou na prática, o valor pago algo irrisório frente ao seu potencial de lucro.
De acordo com a Economatica, o valor de mercado da Vale já aumentou R$ 116,3 bilhões no acumulado de 2021 e mais que dobrou nos últimos 12 meses. Em 27 de abril do ano passado, a empresa estava avaliada em R$ 228,5 bilhões, e encerrou 2020 com valor de mercado de R$ 448,6 bilhões. A mineradora ocupa a liderança da lista das empresas de capital aberto mais valiosas da América Latina desde 23 de fevereiro, quando desbancou a Mercado Livre, que tinha assumido o posto em meados de 2020.
O processo de privatização da Vale sempre foi taxado como um grande erro estratégico do país, primeiro pelo valor pago pela empresa (considerado por muitos como crime de lesa-pátria) apontado como baixo quando se analisa o potencial de divisas que a médio e a longo prazos se poderia obter, o que, de fato, aconteceu. Segundo é a questão estratégica, do governo brasileiro perder autonomia da exploração de seus recursos minerais.
Esta semana completou 24 anos em que o melhor minério de ferro do planeta (Minas Gerais e Pará) com 67% de teor de pureza, deixou de ser controlado pelo governo brasileiro.