Aprendendo sobre o conflito em Gaza

“O sonho do oprimido é um dia virar o opressor”. Essa frase nunca fez tanto sentido como hoje, ao olharmos para o conflito em Gaza. Recuso-me a usar o termo “guerra”, pois isso sugeriria dois países, forças minimamente parelhas e não paus e pedras contra tanques e caças supersônicos.

Antes das considerações, um pouco de história… De acordo com o livro cristão, Moisés tirou os hebreus com a promessa da terra prometida, Canaã. Devido a conflitos no caminho, diz a Bíblia que eles foram obrigados a vagar 40 anos pelo deserto sem, no entanto, chegar a Canaã. Seus descendentes chegaram e se estabeleceram naquela região, hoje conhecida como Israel, Palestina, Líbano e Jordânia.

Muito tempo depois, conquistados pela Babilônia, os israelitas (como passaram a ser chamados depois do Êxodo e fixação em Canaã), grande parte foi exilada. Foi no fortalecimento em torno da Torá, da aliança com Deus e do Templo de Jerusalém, que o termo judeu começou a substituir os anteriores.

Durante o Império Otomano, que durou até 1917, os palestinos — que eram em sua maioria árabes (muçulmanos e cristãos), mas também com comunidades judaicas e drusas — viviam na região chamada Palestina dentro do Império Otomano. Era dividida em distritos administrativos (sanjaks) e incluía cidades como Jerusalém, Jafa, Haifa, Nablus, Hebron, GAZA, além de centenas de aldeias agrícolas.

Nesse período:
• A população era majoritariamente árabe palestina (cerca de 1,2 milhão em 1930);
• Havia uma minoria judaica (cerca de 170 mil em 1930), que cresceu com as ondas de imigração incentivadas pelo movimento sionista e pela perseguição antissemita na Europa;
• As cidades costeiras (Jafa, Haifa) e Jerusalém tinham grande mistura de comunidades e elas viviam em paz;
• A maioria dos palestinos vivia em vilarejos rurais, praticando agricultura, não terrorismo.

Conforme a população sionista crescia, principalmente fugindo da perseguição europeia, os conflitos foram se intensificando, já que a disputa por terras passou a ser uma questão central.

PAUSA PARA ESCLARECIMENTO. DIFERENÇA ENTRE JUDEUS E SIONISTAS

JUDEUS
Quem são? O povo judeu é uma comunidade etnorreligiosa com mais de 3 mil anos de história.
Origem: antigos hebreus/israelitas.
Religião: Judaísmo (embora existam judeus seculares, que não praticam a fé).
Identidade múltipla: pode ser religiosa, cultural, étnica ou nacional.
Distribuição: vivem em todo o mundo (maioria em Israel e nos EUA).
Ser judeu não implica automaticamente apoiar Israel ou o sionismo.
Existem judeus ortodoxos que são anti-Israel e judeus seculares críticos do
sionismo.

SIONISTAS
Quem são?
Sionismo é uma ideologia política moderna surgida no final do século XIX (Theodor Herzl, 1897).
Objetivo: criar um Estado judeu soberano na Palestina, vista como a “terra ancestral”.
Base: resposta ao antissemitismo europeu e à falta de segurança para os judeus.
Tipos de sionismo:
Político: foco no Estado e na diplomacia.
Religioso: vê o retorno a Sião (Jerusalém) como cumprimento profético.
Pragmático: ligado ao assentamento agrícola e migração para a Palestina.
Ser sionista significa apoiar o projeto nacionalista de um Estado judeu na Palestina (Israel).

DIFERENÇA-CHAVE
• Judeus → um povo/etnia/religião, com milhões de membros espalhados pelo
mundo.
• Sionistas → uma corrente política e ideológica (nem todos os judeus são
sionistas, e nem todos os sionistas são judeus – há cristãos sionistas, por
exemplo).

PARA O CONFLITO ISRAEL-PALESTINA
Israel foi fundado em 1948 como realização do projeto sionista. Muitos palestinos (e parte da comunidade internacional) veem o sionismo como um movimento colonialista, porque resultou na expulsão de grande parte da
população árabe local (Nakba). Ou seja: ser judeu é diferente de ser israelense, que é diferente de ser sionista.
Essa confusão é comum, mas importante separar: CRITICAR O SIONISMO OU ISRAEL NÃO É O MESMO QUE CRITICAR OS JUDEUS COMO POVO OU RELIGIÃO.

NAZISMO x PALESTINOS

Os israelenses dizem defender-se de ataques sofridos por atos terroristas dos palestinos. Alguns chamariam de resistência, afinal, quem foi expulso das suas terras e lares foram os palestinos. E se compararmos força, treinamento, equipamento, poderio militar e financeiro, a disputa é claramente desigual. Os nazistas (europeus, alemães, brancos) assassinaram aproximadamente SEIS MILHÕES de judeus durante o Holocausto (1941-1945). Já os israelenses mortos por árabes ou palestinos desde 1920 estão entre 25 e 30 mil (em 100 anos) e em defesa de suas terras, como os gráficos acima mostram claramente, eles foram varridos de sua terra originária.

Os israelenses, por sua vez, no mesmo período, mataram ou expulsaram centenas de milhares de palestinos, e os confinaram em campos de concentração, onde estão até os dias de hoje, afinal, Gaza nada mais é que uma gigantesca prisão a céu aberto.

APRESENTANDO: A FAIXA DE GAZA

O que hoje o mundo conhece como a “Faixa de Gaza” nada mais é que um corredor estreito de 40 km de comprimento por 10 km de largura em torno da cidade de Gaza. Gaza é uma Cidade antiquíssima, habitada há mais de 3.000 anos. Foi um centro comercial muito importante nos Império Romano, Bizantino, Islâmico e Otomano.

Com o passar dos anos e já durante o Mandato Britânico (1917–1948), Gaza tornou-se apenas uma cidade palestina no sul da região, com vilas agrícolas ao redor. A cidade de Gaza continua existindo, mas deixou de ser apenas “mais uma cidade palestina” e virou o coração de um enclave superpovoado, empobrecido e sob bloqueio.

Quem vive nela são basicamente palestinos — tanto habitantes originais quanto refugiados da Nakba e seus descendentes. Gaza sofre com taxas de desemprego estratosféricas. Sua população sobrevive na dependência de ajuda humanitária (ONU, Cruz Vermelha e ONGs) e sofre com bloqueio israelense desde 2007.

SOBRE O CONFLITO ATUAL

Sempre tem alguém pra falar: “Ah, isso tudo é horrível, mas por que eles começaram então (os palestinos), em 7 de outubro de 2023?” Bom, vamos lá… Neste dia, membros do Hamas (descrição mais abaixo), romperam o cerco da
fronteira entre Israel e Gaza e conseguiram se infiltrar em algumas comunidades próximas à fronteira. O número de mortos chegou a quase 1.300, além de vários terem sido feitos de reféns e alguns ainda o serem até hoje.

PAUSA PARA ESCLARECIMENTO. O QUE É O HAMAS

“O Hamas é uma organização nacionalista e islamista que surgiu na Palestina, na década de 1980, e tem como foco a luta contra Israel. Essa organização possui um braço armado, mas também atua politicamente, possuindo grande parte das cadeiras do Legislativo palestino desde 2006, além de realizar trabalhos sociais Israel, Estados Unidos e a União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.”

Em primeiro lugar, devemos esclarecer que este conflito não começou em 2023. Começou em 1948, quando Israel executou uma “limpeza étnica” na região, matando milhares e expulsando os demais. Aproximadamente 750.00 pessoas foram afetadas nessa ação, que tem um nome para os árabes: “Nakba”, palavra árabe que significa catástrofe ou desastre. Em relação ao conflito israelopalestino, o termo Nakba ou al-Nakba se refere ao êxodo palestino (Essa palavra lembra alguma coisa para os cristãos?) durante e após a guerra árabe-israelense de 1948. Estima-se que mais de 700 mil pessoas tenham fugido ou sido forçadas a deixar suas casas no que hoje é Israel e nos territórios palestinos.

A sessão anterior, “PARA ENTENDER COM FIGURAS”, já mostrou o tamanho e a forma agressiva com que Israel se apossou do território secularmente habitado pelos palestinos. Há que se perceber que a imensa maioria das pessoas que habitam Gaza são refugiados de uma região chamada “Majdal Askalan”, que agora é o sul de Israel. Seus moradores, os que não foram mortos, foram forçados a se mover na direção de Gaza e presos lá, em campos de prisioneiros e mantidos cercados e sob supervisão militar por décadas. Israel então começou a assentar judeus refugiados (da perseguição na Europa) nesses assentamentos, para impedir que os palestinos voltassem.

Em Gaza, é Israel quem decide se os moradores terão ou não eletricidade e por quanto tempo; água, alimentos, ajuda, enfim, tudo. Tem pessoas que se chocam quando um homem amarra explosivos ao corpo e se explode, matando várias outras pessoas, mas acha que está tudo bem se for de longe, em segurança, apertando apenas botões, na segurança de seus escritórios, matando uma quantidade muito maior de pessoas. Entendam que não estamos relativizando violência terrorista. É deplorável e merece TODO o nosso repúdio. Mas genocídio também é. Limpeza étnica também é.

Tudo em nome de uma crença que os faz pensar serem donos de uma terra que em que eles estiveram há mais de dois mil anos. Por essa lógica, tudo bem então nossos índios – moradores ancestrais do Brasil – entrarem em nossas casas, nos expulsarem e se reclamarmos, nos matarem. Afinal, eles estavam aqui antes de nós. Hoje, assistimos em tempo real, o extermínio de um povo.

Por Vicente Reis

Imagem: reprodução

Vicente Reis

“cogito, ergo sum.”

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