No Pará, mais um baluarte da moralidade caiu

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Raimundo Nonato Pereira, 53 anos, radialista, até a semana passada apresentava o programa “Mix Atualidades”, no início de cada manha, durante a semana na rádio Mix FM, antiga Marajoara, de propriedade do ex-governador Carlos Santos. Nos últimos anos, Nonato Pereira se tornou  o radialista mais polêmico e de maior audiência entre os programas das rádios paraenses. Confesso que por algum tempo, fiz obrigação acompanhá-lo, sempre do rádio do carro, quando saia pela manhã para trabalhar. Fiz disso uma rotina por dois anos, pelo menos.
Aos poucos fui deixando de ser um espectador diário para ser esporádico por alguns motivos, não só pelas obrigações profissionais, e sim pela parcialidade clara do referido radialista, sempre atacando um lado e defendendo ou sendo solidário com outro. Sem cerimônias, claramente, Nonato Pereira com a proximidade dos processos eleitorais, deixava evidente a sua defesa do projeto de poder do PSDB, sendo um fiel escudeiro do governador Simão Jatene.
Utilizava o seu programa como uma extensão da propaganda política dos tucanos. Quando ficou escrachado essa postura do comunicador, deixei de acompanhá-lo. Aliado a isso, por questões profissionais, deixei Belém, a capital do Pará e passei a morar em Parauapebas, sudeste paraense, onde o sinal da emissora não chega.
Nonato Pereira é, sem dúvida, um bom comunicador. Sabe conduzir programa de rádio, sabe ser polêmico, segurar a audiência como poucos. Não ,por acaso, tornou-se um campeão de audiência. O seu horário era de sua propriedade, ou seja, pagava para ter o programa na rádio. Passou a fazer a linha jornalística já conhecida e que levou alguns radialistas ao poder, um deles, inclusive, se elegeu deputado federal por anos; outro vem almejando voos maiores na política, inclusive ser prefeito de Ananindeua ou Belém.
A voz imponente se apresentava como o baluarte da moralidade, de um cidadão que se apresentava como o último alicerce da ética e combatente da corrupção. Tornou-se o “caça prefeito”. Em seu programa quase
diariamente apresentava denúncias contra diversos mandatários municipais, como isso, tornou-se um programa indispensável, inclusive para membros do poder judiciário.
Isso tudo descrito até semana passada, quando na última quarta-feira (24) foi deflagrada em ação conjunta da Polícia Federal, Controladoria Geral da União, Receita Federal e Ministério Público Federal, a
operação “Lessons” (Lição) que cumpriu mandatos de prisão, apreensão e buscacontra diversos suspeitos, acusados de fraudar recursos do Fundeb no Pará. As investigações apontaram a criação de duas empresas: BR7 – Editora e BR Cursos On Line Ltda, que tinham como objetivo fornecer a prefeituras e ao governo do Estado do Pará, livros de inglês, correspondente a um kit-educativo, composto por três livros didáticos e três dvds. As investigações apontam que a fraude chegou a 10 milhões de reais, aplicados em seis prefeituras paraenses. Em relação ao governo estadual, o contrato não chegou a ser firmado.
Entre os investigados estão justamente o personagem descrito e central deste artigo: o radialista Nonato Pereira, que não foi encontrado e, até o momento, está foragido. Nonato tinha a função de cobrar em seu programa as prefeituras, ameaçando-as caso não aceitassem o acordo. O fato causou e ainda causa o maior reboliço no meio jornalístico da capital do Pará. O que pensar? Em quem acreditar? Qual o valor da palavra,
da atitude?
Nonato Pereira é mais um triste exemplo da diferença entre os que se apresentam como os “messias”, os baluartes da moralidade, os exemplos de ética. Mais um desmascarado. Vivemos no Brasil, talvez o maior período de predominância da hipocrisia, de falso moralismo. Exemplos ruins não faltam neste meio jornalístico, infelizmente, no Pará temos exemplos que nos envergonham.

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