Desistir de desistir. Essa foi a tônica do agora ex-governador de São Paulo e ainda pré-candidato à Presidência da República, João Dória, do PSDB. Como é sabido, nas primeiras horas da manhã da última quarta-feira, 30, Dória chamou o seu vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), para anunciar que não deixaria o governo, ficando, portanto, até o último dia. A decisão caiu como uma bomba no ninho tucano, pois Garcia havia acertado a sua entrada no partido após a garantia que assumiria o governo e no cargo disputaria à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.
O objetivo de Rodrigo em assumir o quantos antes a gestão estadual paulista, é justamente imprimir a sua marca. Pesquisas contratadas pelo PSDB identificaram que a rejeição a Dória era maior do que a de seu governo, portanto, a imagem do ex-governador era o problema, e não necessariamente a sua gestão. Por isso, o processo de “descolamento” de imagem é muito importante para que o agora governador possa se tornar um nome competitivo para que, quem sabe, salvar a manutenção da dinastia tucana no controle da política paulista, que se mantém desde 1994.
O que levou João Dória em ameaçar não cumprir os acordos que havia feito? O ex-governador provocou uma manobra para que pudesse conseguir garantias de apoio do partido a sua campanha presidencial. Com o PSDB rachado, com quase metade da legenda não querendo que Dória seja o candidato a Presidente, justamente por sua alta rejeição, o que faz com que ele não consiga se tornar competitivo nas pesquisas. Ao anunciar que não sairia do cargo, forçou o PSDB a lhe apoiar e manter o seu nome na disputa, evitando, portanto, que o nome do ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, crescesse internamente.
O fato obrigou, por exemplo, o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, a assinar um documento garantindo a Dória o apoio – pelo menos em tese – do partido a sua candidatura ao Palácio do Planalto. Na prática foi montada uma verdadeira operação interna para forçar o ex-mandatário paulista a deixar o cargo. Esse foi o primeiro processo do PSDB contra Dória; o segundo é tirá-lo da candidatura presidencial, algo que será possivelmente feito nas próximas semanas.
O ex-governador paulista quis ao ameaçar se manter no cargo, emparedar o próprio partido. Ter a garantia de apoio mesmo apenas formal ao Palácio do Planalto. Enfrentou três nomes que se colocam contra suas pretensões: Rodrigo Garcia, Bruno Araújo e Aécio Neves, os dois últimos que trabalham nos bastidores para que Leite substitua Dória como candidato tucano na corrida presidencial.
Dória tem a seu favor o resultados das prévias e um documento assinado por Araújo lhe dando garantias de apoio. E ameaça caso perceba que o partido possa está fazendo “corpo-mole”, ameaça judicializar a questão. Em questão está o autofagismo tucano em curso. O partido quer eliminar João Dória, e ameaça afundar ainda mais o ninho tucano. Enquanto isso, Eduardo Leite se coloca como pré-candidato não oficial. Que situação vive o PSDB.