Estamos em uma encruzilhada. Além do número insuficiente de imunizantes disponíveis para vacinar a população (seis milhões de doses da Coronavac (Sinovac/Instituto Butantan), podemos ter a produção de novas doses parada por conta da falta de insumos. O contrato entre o Butantan e a Sinovac é para 46 milhões de doses, sendo que, até o momento, o Brasil obteve 6 milhões — 1,4 milhão ficou em São Paulo e outros 4,6 milhões começaram a ser distribuídos, ontem, a outros estados e ao Distrito Federal.
O imbróglio gira em torno da questão diplomática entre os governos do Brasil e da China. O país asiático estaria dificultando a liberação dos insumos, justamente por represália aos ataques proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos, alguns ministros e assessores ao governo Chinês. O envio de insumos por parte da potência asiática, sendo ela a maior produtora no mundo desse tipo de substância, exclui o Brasil de suas prioridades.
Estamos pagando um alto preço da irresponsabilidade ancorada a uma ideologia que não se sustenta, que só se abriga em mentes extremistas. Como sempre, a ala ideológica do governo atrapalhando todo o conjunto gerencial da máquina federal. Bolsonaro escolheu (seguindo orientações de seu mentor Donald Trump) a China como inimigo desde o início de sua gestão, sendo que, o citado país é o nosso maior parceiro comercial. Qual presidente em sã consciência ficaria criando crises com a nação que mais contribui para o superávit primário de sua balança comercial?
Se não bastasse a questão dos insumos chineses, também estamos com problemas com a Índia. O segundo país mais populoso do mundo resolveu não enviar os duas milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca (Fiocruz), que já estão liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para serem usadas de modo emergencial. Tudo porque a relação diplomática entre Brasil e Índia não é das melhores, abalada pela questão de patentes junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
No plano internacional de análise de combate à pandemia, o Brasil é um exemplo do que não fazer. Diversos países ao redor do mundo restringem o acesso de brasileiros aos seus territórios, justamente por reprovarem a forma como o governo brasileiro se comporta na crise sanitária mundial.
Fora do plano referente a saúde, temos ainda a pressão e reprovação mundial no combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia. Portanto, estamos caminhando a passos largos em relação ao isolamento dentro da geopolítica mundial. Isso já se reflete no caso de insumos para vacinas, o que poderá inviabilizar o processo de imunização de nossa população.
O mundo real se impõe cedo ou tarde. Os devaneios ideológicos do governo Bolsonaro cobram agora a fatura. O país começa a sentir o peso do isolamento internacional, e isso em meio a uma pandemia que já tirou a vida de 210 mil brasileiros.