Entre todos os pré-candidatos que se colocam dispostos a concorrer à Presidência da República, sem dúvida, o mais vazio, sem a mínima noção da responsabilidade de tal pretensão, é o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (Podemos).
O leitor deve se perguntar em que fundamento essa minha afirmação se sustenta? Não precisa pesquisar muito, basta acompanhar algumas entrevistas do citado, em que fala de projetos ao Brasil. O ex-magistrado deixa claro todo o seu desconhecimento sobre o próprio país. O leitor pode se perguntar: mas ele tem obrigação de conhecer tudo, toda a complexidade chamada Brasil? Claro que não. Nenhum dos pré-candidatos ao posto máximo de nossa política, tem. Todavia, a maioria deles tem certo conhecimento; alguns em áreas mais especificas, como no caso de Ciro Gomes (PDT) que discorre sobre economia como poucos; Lula sobre o Social; João Dória (PSDB) sobre mercado, e por ai vai. E Moro?
O leitor poderia continuar a provocar e duvidar das afirmações deste articulista, afirmando, por exemplo, que o ex-juiz conhece com propriedade sobre segurança pública e Justiça. Sinto informar aos simpatizantes do citado, chamados de “moristas”, que nem isso. Os mais atentos podem afirmar que, em 2019, período que Moro esteve ministro do governo Bolsonaro, os crimes de forma geral caíram no Brasil. Na verdade, desde 2017, a linha de medição de crimes vinha caindo, com acentuada queda no ano em que Moro assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Tal feito pode ser colocado exclusivamente em sua conta?
Como um Midas reverso, o ex-juiz, ex-ministro da Justiça e futuro ex-candidato à Presidência construiu uma carreira assombrosa como a muralha da China, em termos de visibilidade, mas destituída de alicerces. Cada uma de suas realizações desabou, com o tempo, justamente pela falta de sustentação jurídica que se esperaria de alguém capaz de alcançar tal evidência.
O site “Ora Essas” fez uma bela síntese de Sérgio Moro, que reproduzo em partes aqui:
“Na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde se notabilizou por conduzir o processo da Lava Jato, sua principal realização, materializada nas condenações do ex-presidente Lula, derreteu na medida em o que o Supremo Tribunal Federal pôs olhos atentos aos métodos do juiz e à forma como se relacionava com os promotores da força-tarefa encarregada das investigações.
Num caso raríssimo, Lula foi descondenado em razão da instrução errática dada a seus processos – o que, em qualquer país sério, deveria equivaler a uma condenação ao funcionário que gastou tinta, papel, tempo e recursos públicos cometendo barbeiragens judiciais. Mas aqui a lambança fica por isso mesmo. Ou, pior, será preciso gastar tudo isso de novo para refazer os processos. Ou, ainda muito pior, acabará se consolidando o decurso de prazo – que permitirá ao ex-presidente continuar dizendo que saiu inocentado de processos que, na verdade, apenas caducaram por inépcia funcional de Sergio Moro”.
Moro é uma caricatura de si mesmo. Se agarra na possibilidade de usar a segurança pública e o combate à corrupção como bandeiras de sua candidatura ao Palácio do Planalto, sem ter noção que tais plataformas – segundo cientistas políticos – deixarão de ter a mesma importância eleitoral que tiveram, por exemplo, nas eleições de 2018 e 2020. A economia será o tema principal das eleições de 2022. E sobre esse assunto, Moro terá que estudar muito.
Desistência da candidatura?
No último dia 03, rodou nos principais portais de notícias a informação que foi repassada por interlocutores do ex-juiz à jornalista Carolina Brígido, colunista do UOL, de que, se confirmada a performance ruim nas pesquisas, o ex-juiz buscará uma cadeira no Senado. Atualmente as intenções de voto em Moro variam entre 9% e 11%. Para chegar ao resultado esperado, portanto, o ex-juiz precisará de um salto significativo em apenas um mês, o que convenhamos, é muito difícil.
Já tratei do tema em diversos artigos. Moro – mais do que ninguém – sabe que precisa de foro privilegiado. Contra ele pesa acusações, como a de suspeita de que se beneficiou financeiramente ao atuar no escritório Alvarez & Marsal, que presta consultoria para a Odebrecht, condenada por ele enquanto era juiz. A suspeita é de que ele tenha recebido para fornecer informações privilegiadas de processos e também da sua atuação como ministro do governo Jair Bolsonaro (PL).
Defendo há meses a tese de que o ex-juiz será candidato ao Senado. De todo modo, Sérgio Moro é um candidato oco.