Ciro Gomes e a grande mídia: o autofagismo declarado

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Acompanhei por semanas, sempre em horários alternados, sem a expectativa do “ao vivo” (por conta das obrigações docentes), a sabatina com os presidenciáveis na rádio Jovem Pan, no programa “Jornal da Manhã”.

Thiago Uberreich, Vera Magalhães, Denise Campos de Toledo, Joseval Peixoto e Marco Antônio Villa, compõe a bancada de entrevistadores e mediadores do programa diário. Com viés claramente direitista, a Jovem Pan promoveu a rodada de sabatina, bem democrática, diga-se de passagem.

Para ser justo, os componentes da banca foram incisivos com todos os convidados. Porém, com teor mais ácido, procurando claramente o embate em direção a Guilherme Boulos (Psol) e Ciro Gomes (PDT), que receberam a maior carga de questionamentos e acusações (o que já era esperado), pois ambos estão posicionados mais à esquerda dos demais.

Assistir pacientemente por mais de uma hora cada sabatina. De modo geral, parece que a ampla maioria dos que estão postulando o cargo mais importante do país, estão aquém das reais necessidades e demandas nacionais. O portfólio vai desde a resolução dos problemas em frases de efeito, como Bolsonaro insiste em fazer; até algumas saídas complexas que Ciro consegue formular, mas didaticamente não as consegue explicar, ou provar a sua aplicabilidade.

Vou me ater a analisar Ciro Gomes na sabatina. Inegavelmente (e as pesquisas confirmam isso), sem Lula, o pedetista cresce, portanto, é quem mais recebe votos do eleitorado lulista (mesmo com a manutenção do autofagismo entre o ex-ministro e o PT). No intervalo das divulgações das pesquisas (independente da metodologia usada em cada uma), Ciro iniciou uma leve curva de crescimento, que se tiver sustentação, poderá encaminhá-lo ao segundo turno.

Pois bem, como esperado, até pelo próprio Ciro, os sabatinadores da Jovem Pan foram ao ataque. De forma articulada (com um rápido ensaio prévio nos bastidores), cercaram a questão do temperamento do ex-governador do Ceará. Mesmo com as justificativas do entrevistado, as réplicas dos jornalistas continuaram sobre o tema. A proposta era clara: fazer Ciro perder a compostura e externar a sua voracidade no seu sentido mais extenso (o que não é muito difícil de acontecer).

Após a extensa insistência em relação ao seu temperamento, a pauta seguinte foi a incoerência política. A sua extensa vida partidária (a migração continua entre o centro-direita ao centro-esquerda), e com atual possibilidade de ter o polêmico apoio do DEM. Neste momento, o pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto “mordeu a isca”, já bastante instigado, soltou a frase que a bancada queria: “Esse Fernado Holiday… Esse ‘capitãozinho do mato’…”. O suficiente para provocar comentários e críticas de todas as ordens (em alguns casos elogios pelo entendimento do contexto da fala). Mas a referida frase foi o ápice da entrevista, o que anulou as propostas, as saídas, os projetos ao país. E reduziu uma hora de conteúdo (em arranjos teóricos o melhor entre os candidatos) a uma frase. Culpa do próprio Ciro que fez o jogo que queriam. Portanto, assim como em 2002, o presidenciável pelo PDT se auto sabota, ou no mínimo, faz o jogo da grande mídia, que não o tem como a melhor opção de candidatura, assim como também o mercado financeiro.

Em meio a devaneios, o simplismo, a resolução por frase de efeito, Ciro é um nome que reúne a maior experiência gerencial entre os presidenciáveis. O maior problema para a sua candidatura, parece ser ele mesmo. Sem Lula na disputa, o alvo será Ciro Gomes. 

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