Que a descarbonização da economia é um caminho sem volta para fazer frente às mudanças climáticas, é um consenso. A grande questão é saber quem paga a conta. Esta foi uma das principais conclusões do evento “Descarbonização no contexto atual: oportunidades para o setor mineral?”, realizado por Brasil Mineral em 26 de março de 2025, que contou com a participação de cerca de 120 pessoas representando empresas e entidades do setor mineral, da cadeia de suprimento da mineração, da produção de energias renováveis, de engenharia e consultoria, de escritórios de advocacia e do setor financeiro, dentre outros.
Realizado no auditório da Mattos Filho, parceiro na organização, juntamente com a AP Consultoria e Caputo, Bastos e Serra advogados, o evento se iniciou com uma palestra de Wilson Brumer, membro do Conselho de Administração da Companhia Brasileira de Lítio, que abordou o tema “Contribuição da Cadeia Mineral para a Descarbonização da Economia”.
Iniciando sua apresentação, Brumer disse que a descarbonização deve ser vista como um processo, que não vai ser resolvido da noite para o dia. E lembrou que desde o início da década de 1970 – portanto há quase 50 anos – se começou a falar em sustentabilidade. “E naquela época, quando falávamos de sustentabilidade, vinha em mente o quê? Meio ambiente. Mas todos nós sabemos que sustentabilidade é meio ambiente, sim, mas é também pessoas, novas tecnologias, governança adequada, capitalização das empresas de forma adequada e assim por diante. E até hoje continuamos falando de meio ambiente. Depois disso veio o ESG e agora a descarbonização”.
O executivo alerta que, naquilo que se refere à descarbonização, temos que estar preparados para picos e vales, idas e vindas. “Vamos ter momentos em que se vai andar mais rápido e outros em que vão prevalecer as discussões”.
Na linha do que tem que ser feito, ele colocou a seguinte reflexão: quem vai pagar a conta, já que se trata de investimentos altíssimos? “Será que as empresas, na linha da descarbonização, de repente vão trocar processos do dia para a noite? Creio que não. Mas quando se tiver que trocar um processo, um equipamento — qualquer que seja — certamente se vai levar em conta esse momento, esse movimento, porque temos certeza de que ele é inevitável, assim como foi a discussão sobre o ponto de vista ambiental e da sustentabilidade”.
A questão, alerta Brumer, é que as empresas vão fazer a conta no final do dia e cobrar da sociedade. “Mas será que a sociedade como um todo está disposta a pagar por isso?”, indaga, acrescentando que ele tem suas dúvidas. Ao mesmo tempo, Brumer pondera que as empresas que não fizerem isso terão o seu mercado afetado. “Esta é uma tendência e uma reflexão que certamente todas as empresas e organizações terão que fazer. E aí entra a questão da geopolítica. De repente, muda o governo dos Estados Unidos e muda uma série de conceitos. Vem a discussão sobre carro elétrico na China. Hoje há uma expectativa de crescimento de carro elétrico que foi, a meu ver, um pouco exagerada. Que vai continuar crescendo, não tenho dúvida. Mas vai crescer na velocidade que se imaginava? E onde está a grande produção de baterias para atender o segmento de carro elétrico? Na China. Qual é a energia gerada na China para atender os carros elétricos? Energia gerada à base de carvão. Então, se analisarmos friamente, vemos uma certa incoerência: porque estamos produzindo carro elétrico, em linha com a descarbonização, mas para gerar a energia que alimenta para aquele carro estamos fazendo isso à base de carvão”. No caso brasileiro, Wilson Brumer questiona se vamos renunciar a certas coisas, lembrando o caso das reservas de petróleo da linha Equatorial. “Se chegarmos à conclusão que de fato tem petróleo ali, a pergunta que fica no ar é: vamos abrir mão disso? Meu sentimento é que não”.
Falando especificamente da descarbonização no setor mineral, ele lembra que o setor não deve olhar para si, mas para a cadeia de produção, que é muito extensa. Detendo-se no caso específico da energia, ele disse que, sob o ponto de vista da descarbonização, do meio ambiente, da sustentabilidade, a energia eólica e solar são super-importantes e o Brasil tem uma vantagem competitiva indiscutível nesse aspecto. Mas pergunta: “para onde é que vai o excesso da energia solar que é gerada e não consumida durante o dia? Vai para a linha de transmissão. E hoje já estamos vendo problemas sérios nas linhas de transmissão”. Em razão disso, ele afirma não ter dúvidas em afirmar que é uma questão de tempo ter que desenvolver no mundo o armazenamento de energia. “O não armazenamento significa um prejuízo, não só para as empresas que consomem aquela energia, mas também para o produtor da mesma”.
Para acessar o artigo na íntegra: Brasil Mineral
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