Economia não é mais sinônimo de popularidade em alta

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O Brasil está vivendo um momento peculiar. A inflação está controlada. Em 2023, a taxa de desemprego foi a menor em quase dez anos. E o PIB, como vem acontecendo nos últimos anos, cresceu bem acima do esperado pelos analistas. Ou seja, a economia vai bem. E, até não muito pouco tempo atrás, isso era sinônimo de um governo com a popularidade em alta.

Mas não foi isso o que sinalizaram pesquisas recentes sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Três diferentes institutos – Quaest, AtlasIntel e Ipec – mostraram aumento da rejeição e queda na aprovação de Lula muito relevantes. À primeira vista, fica fácil pensar que, no mundo polarizado de hoje, a economia, apesar de continuar sendo um pilar fundamental, não seja mais isoladamente tão relevante nessa avaliação.

Mas a minha suspeita é outra: a popularidade de Lula está em queda por conta dele mesmo. Lula está, de certa forma, sabotando o seu próprio governo. Para começar essa análise, basta lembrarmos que Lula foi vitorioso numa eleição polarizada, conquistando votos de muitas pessoas que nunca haviam votado no PT – mas que viam no atual presidente um político capaz de pacificar a nação.

Existia uma expectativa de que Lula olhasse para o mapa de votação, compreendesse que dessa vez havia sido eleito por um eleitorado mais amplo e fizesse um governo mais alinhado com esse mix de apoio recebido de perfis diferentes. Mas não estamos vendo isso. Diferentemente do esperado, estamos vendo uma aposta contínua de Lula na polarização. Uma aposta redobrada, até. O presidente e alguns dos nomes atualmente mais relevantes do PT e do governo também têm feito de tudo para implementar uma agenda que azeda a relação com o mercado.

Eles insistem em ideias fixas, num modelo falido que é a exemplificação do que deu errado no governo Dilma. São declarações no sentido de fazer uma política industrial, por meio do BNDES. Ou de que o governo vai aumentar o crédito por meio de bancos públicos. Houve ainda tentativas de intervenções em empresas, como no caso da indicação de um novo presidente para a Vale e da disputa de poder e da retenção de dividendos no caso da Petrobras.

A exceção tem sido o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma escolha no início do governo que primeiro desagradou, mas transformou-se numa grata surpresa para os investidores. O ministro segue fiel ao compromisso com o arcabouço fiscal, inicialmente visto com ceticismo pelo mercado, mas que agora já está acontecendo, estamos vendo contingenciamento de despesas. Haddad tem se posicionado como uma voz destoante e, apesar de ter que lidar cotidianamente com o “fogo amigo” do presidente e seu governo, ele tem mantido sua linha de gestão e entregado resultados.

Os economistas estão revisando para cima as projeções para o PIB deste ano e com viés de alta. A inflação, em torno de 3,6% está abaixo do teto da meta. Na AZ Quest, estamos estimando o PIB em 1,8% e o IPCA em 3,7% em 2024. O saldo comercial é fantástico, assim como o aumento do nível de emprego. Seria o momento ideal para qualquer governante surfar essa onda de bons resultados na economia e dar mais força ao principal personagem desse cenário – o ministro Haddad.

Mas, além de trazer esses resultados todos para o governo, ele tem tido o trabalho extra de lidar com a autossabotagem no discurso de Lula para manter a sua gestão de controle fiscal e ancorar as expectativas do mercado, mesmo com tantas tentativas de interferência na economia e nas empresas. E são situações que, apesar de afetarem o espírito do empresário e dos investidores, trazendo insegurança, na minha visão devem ficar só no discurso equivocado. Fazer intervenções como essas, no cenário de hoje, não é mais tão simples como foi em outros governos do PT – seja pelo incremento da governança, pela configuração dos Poderes, entre outras razões.

No entanto, esse discurso põe medo em investidores e pressão constante nos preços – basta ver a retirada de capital estrangeiro da bolsa nos últimos meses. Nós já deveríamos estar em outro patamar de preços, não fosse esse ruído constante. As principais figuras do PT ainda não perceberam que a Selic importa menos do que as taxas de juros futuros no mercado, que vão balizar os empréstimos concedidos pelos bancos para estimular a economia

Mas, graças a esse discurso de “cachorro pequeno”, que faz barulho, mas não morde, estamos vendo uma redução de investimento no Brasil num momento em que tudo vai bem. Parece que a grande surpresa dessa volta de Lula ao governo é a decepção com a imagem que todos tinham do presidente de ser um político hábil, sagaz e de percepção afinada. Hoje, parece que tudo isso se perdeu – estamos vendo, inclusive, um desastre na política externa, que machuca a imagem do Brasil. Lula passou a ser uma figura dissonante.

Na prática, o único fato que está sustentando a popularidade de Lula acima de 30% parece ser a economia, que não vai mal. Mas aparentemente a percepção das pessoas é de que ela vai piorar, porque estão preocupadas com todo esse ruído gerado dentro do próprio governo. A maneira como Lula sabota o próprio governo atrapalha muito, traz muita volatilidade para o mercado e prejudica os resultados do governo. Esse discurso retrógrado ameaça muito mais os preços do que os fatos.

Já passou da hora de “trocar esse disco” que coloca risco elevado no mercado o tempo todo. Esse discurso não deixa a Bolsa decolar, faz as pessoas serem mais conservadoras em decisões de portfólio, deixa os empresários mais reticentes para investir. Ele cria, endogenamente, um risco ao seu próprio governo. E mostra, ainda, um desconhecimento da atual gestão do que deu certo no país e o fez sair da situação delicada que estava quando o presidente Michel Temer (2016 – 2018) assumiu para cá: reformas estruturais, aumento da produtividade e incremento de investimento privado. Esse discurso atual do governo vai na contramão disso tudo.

Por Walter Maciel CEO da AZ Quest desde 2011 (Extraído de Infomoney). 

Imagem: reprodução Internet. 

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