Ela foi entre todas as candidaturas femininas ao parlamento municipal, a única a se eleger. A maranhense Eliene Soares (MDB) em breve iniciará o seu terceiro mandato como vereadora. Nesta entrevista mostrou o nível de produtividade de seu mandato. Disse que gostaria de presidir a Casa de Leis. Sobre ser prefeita? A parlamentar disse que ainda é cedo para tratar do assunto, mas tem vontade, porém segundo ela “tudo no tempo de Deus”. Neste processo dialético, Soares mostrou a sua satisfação e frustração no exercício parlamentar. Ainda na pauta se discutiu a sua trajetória de vida, planos e o que pensa para o futuro.
A senhora é natural de Gonçalves Dias, município maranhense. Imagino que assim como muitos, a sua chegada neste município teve como objetivo buscar melhor oportunidade. Conte aos leitores do Blog esse processo.
R: Primeiramente como faço sempre, agradeço a Deus, agradeço também ao Blog por essa oportunidade. A minha história é muito parecida com os maranhenses que vieram para Parauapebas, pois viemos sonhando com oportunidades. Chegando aqui eu fui acolhida, fui abraçada, tanto que hoje eu represento o município. Então, a minha trajetória é a mesma dos que vieram para cá em busca de melhorias.
O seu direcionamento para a política foi algo natural? A senhora é servidora concursada da Educação…
R: Meu pai sempre gostou muito da política, então desde muito cedo eu comecei a cuidar de gente. Quem me conhece, pois aqui tem muita gente de minha cidade natal, sabe que eu já fazia esse trabalho desde criança. Morávamos na cidade e meu pai no interior e assim ele trazia as pessoas, então eu sempre fazia esse trabalho social de atender as pessoas que vinham do interior para fazer cirurgias, consultar e aposentar, e quem fazia esse trabalho era eu. Eu sempre gostei de gente. Na Educação eu comecei a trabalhar como contratada e depois passei em concurso, e isso já se vão 27 anos. Já estive muitos anos em sala de aula, já fui diretora, fui para a Administração (Semad), sempre cuidando de gente. Aí eu recebi um convite pessoalmente do prefeito Darci Lermen (na época no PT). Eu trabalhava na Administração, quando um dia ele chegou lá e me fez o convite para ser candidata a vereadora. Nas pesquisas feitas por ele o meu nome sempre aparecia bem, por isso ele fez o convite.
Ao se pesquisar a sua trajetória política, percebe-se que, em termos de votação, a senhora sempre se manteve com boa margem de votos. Em 2012, por exemplo, se elegeu com 1.877 votos. Na eleição seguinte (2016) caiu para 1600 votos. Nesta última, sua votação alcançou 2990 indicações nas urnas, sendo a segunda mais votada ao parlamento municipal. Qual o balanço a senhora faz desse processo?
R:Eu sempre falo que o nosso voto é o voto qualificado, consciente. Nesses últimos quatro anos eu trabalhei de domingo a domingo fazendo o papel de escutar, ouvindo e através desse ouvir eu transformei em indicações, proposições, projetos de lei… Tanto é que eu fui a vereadora que mais propus. Foram mais de 280 proposições durante esses últimos quatro anos. Quase 99% das minhas proposições vem dessas rodadas de conversas com o povo. O meu mandato é assim, é de conquistar, de andar nos bairros ouvindo a população e transformando esse ouvir em ações nesta Casa. Após essa entrevista, por exemplo, eu irei receber uma equipe da Secretaria de Saúde para me apresentar projetos importantes sobre a Mulher. Inclusive estamos prestes a ganhar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, que também foi uma de minhas indicações. Hoje, independe de partido, religião, sou procurada no campo e na cidade. A população vê em mim uma voz que realmente representa o povo.
Durante o mandato do ex-prefeito Valmir Mariano (PSD), a senhora por uma questão lógica, se posicionou na oposição. Seu mandato foi bastante enérgico com a gestão citada. Na eleição seguinte passou para o lado da situação, tornou-se, portanto, governo. É uma mudança brusca… Como a senhora se adequou a isso? Como ser governo sem perder a postura crítica que sempre foi a sua marca?
R: Branco, eu acredito que eu mantive a mesma postura. Como eu sempre falo, o nosso caráter é independente de sigla partidária, de religião, de classe, de raça. Eu mantive o mesmo caráter, a mesma postura. O que eu mantive? A defesa da classe trabalhadora. Nada mudou. Fui e continuo sendo muito respeitada pelo nosso prefeito, ele me respeita muito. Sempre quando vinha para essa Casa de Leis, tanto no governo do Valmir, quanto no governo do Darci, projetos que eu percebia que não era uma medida popular, eu votei contra. Votei a favor dos trabalhadores. Sempre defendendo o povo. E assim eu tenho conquistado a confiança, e essa confiança foi provada nas urnas.
Após as eleições municipais de 2020, Parauapebas iniciará um novo ciclo político, pois grandes figurões como o ex-prefeito Valmir Mariano e ao atual Darci Lermen, não estarão mais disputando. Por outro lado, outros agentes surgem. Na minha frente está uma pré-candidata a prefeita, em 2024?
R: Branco, de verdade eu vou me preocupar em fazer um bom mandato. Um mandato que eu acredito que foi dado pelo Senhor Jesus e pelo povo. Eu sempre procurei e coloquei Deus na frente. Eu acho que está cedo para falar, eu acredito que nesse momento eu tenho que me preocupar com esse mandato, porque foi isso que eu recebi e quero fazer bem feito. O futuro está nas mãos do Senhor; se for da vontade de Deus…
Em sua opinião, quais os maiores desafios que a classe política que a senhora está incluída, irá ter pela frente em relação ao nosso município?
R: Eu acredito que a gente precisa todo dia e utilizar os meios de comunicação para conscientizar sobre qual o verdadeiro papel do vereador? Durante esses oito anos eu não trabalhei com assistencialismo. Eu congrego em uma igreja, eu entrego o meu dizimo, dou as minhas ofertas como cristã e não como vereadora. Eu faço o que eu acredito. O assistencialismo é totalmente errado. O papel do vereador é ouvir a população, ouvir anseios, necessidades, sugestões e transformar isso em projetos de lei. É isso que a gente precisa dizer nos quatro cantos desta cidade, que esse é o papel do vereador. Precisamos fazer que esta cidade melhore, justamente nós (Poder Legislativo) representando o povo; o vereador sabendo o seu papel e a sociedade também sabendo o seu papel e o nosso… Esse é o meu sonho. Que nas próximas eleições o voto seja mais qualificado ainda. Nessa eleição a gente já viu a diferença. Essa Casa teve uma importante renovação. Observo que a sociedade está muito mais exigente.
A senhora tem pretensão de se lançar candidata para presidir este parlamento no próximo biênio (2021–2022)? Já que atualmente é a primeira secretária da Casa…
R: Branco, eu acredito que não é uma tarefa fácil. Eu tenho vontade em ser presidente desta Casa. Primeiro, eu tenho experiência. Eu não lancei o meu nome, mas eu gostaria sim de compor a Mesa (Diretora), pois eu sei a importância. Eu tenho certeza que se eu for presidente, seria muito melhor para a sociedade.
Em seu próximo mandato, quais serão as ações principais?
R: Garantir direitos em prol da empregabilidade, da geração de empregos de carteira assinada e também ações que gerem renda para as mulheres. Branco, uma das coisas que precisamos é buscar garantir esses direitos. Por exemplo, na Prefeitura nós mulheres recebemos igual aos homens. Se formos olhar isso nas empresas e eu já fiz pesquisa, a diferença salarial é muito grande e injusta. Como eu vou exercer a mesma função, porém por ser mulher eu vou receber menos? Então essa é uma das “brigas” que nós iremos fazer diretamente. Eu apresentei uma indicação de um projeto e ele veio para a Câmara e foi sancionado pelo nosso prefeito que defende muito o direito das mulheres. Esse projeto garantirá que 5% das moradias populares construídas pelo governo municipal, sejam destinadas as mulheres vítimas de violência doméstica, que inclui a física, psicológica, sexual e patrimonial. A gente precisa fazer com que isso seja garantido porque a lei já foi sancionada. Além disso, eu entrei com o pedido da Procuradoria da Mulher na Câmara e eu estou aguardando e cobrando duramente do presidente (Luiz Castilho), porque a gente precisa garantir essa rede de proteção as nossas mulheres. No estado de Alagoas foi criado a Casa da Mulher Brasileira, e eu inclusive quero conhecê-la. Sobre isso eu conversei com a deputada federal Elcione Barbalho (MDB) que prometeu colocar emenda para que se possa fazer esse projeto aqui em Parauapebas. Aqui nós temos a Secretaria da Mulher e poucos municípios no Brasil, tem. Esse projeto da Casa da Mulher Brasileira é uma forma de melhorar a vida de todas as nossas mulheres de Parauapebas. Porque teremos em um único espaço todos os serviços… Ter delegacia, procuradoria, de forma geral todos os apoios que a mulher necessite de uma vez só.
Inegavelmente a sua principal plataforma é a Educação, o que foi feito nessa área pelo seu mandato e o que ainda pretende fazer?
R:Eu sou professora concursada, sou sindicalizada e sei que é através da Educação é que podemos ter uma vida melhor. Todo mundo que me conhece sabe que eu tenho essa bandeira e não é só eu, todos os políticos devem ter. É através da Educação, Branco, que se pode ter uma vida melhor. Eu sou exemplo disso. Sabemos que o gestor que investe em Educação isso se transforma em desenvolvimento. Eu trabelhei muito nesses últimos quatro anos e irei agora trabalhar muito mais no fortalecimento da Educação municipal; nós precisamos fortalecer essa questão através de projetos, programas. Um exemplo prático é o retorno do reforço escolar, nós precisamos retornar com essa ação até pela necessidade que a pandemia nos impôs, além que está claro que os pais não possuem o devido preparo para ensinar, como um professor que é qualificado para isso. Outro ponto é o retorno da sala de leitura que é muito importante. Existem muitas propostas. Mais um exemplo: escola em tempo integral. Fui em Palmas e acompanhei tanto a escola adaptada, quanto a integral. Imagina uma escola em tempo integral no bairro Tropical, no complexo VS-10, você transforma a realidade desses jovens. Ainda tem a questão da parceria com o Governo do Estado em relação ao ensino médio, melhorar as condições aos nossos alunos e professores. Precisamos também do cursinho popular, nós estamos trazendo a Universidade do Estado do Pará (UEPA) com cursos de graduação e mestrado. Nós votamos um projeto muito importante que garante que toda a arrecadação da Cfem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) será destinada para um fundo superior. Precisamos ampliar a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), assim como o Instituto Federal do Pará (IFPA) que é uma excelência em qualidade de ensino. Nós entramos com o pedido de um terreno ao lado do prédio, pois eles querem ampliar, pois a demanda é muito maior que a capacidade em ofertar vagas. Vou continuar lutando para que a nossa cidade seja um polo universitário, nós precisamos diversificar a nossa matriz econômica.
Na legislatura atual que está se encerrando, temos quatro vereadoras. Nesta eleição só a senhora se elegeu entre todas as candidaturas femininas. Como a senhora analisa isso? Considera um retrocesso perigoso? A que fato se atribui essa diminuição da representação feminina em nossa política?
R: Foi um retrocesso. Fiquei muito triste de só uma mulher se eleger. Está provado nas urnas a discriminação. A gente precisa dessa união, porque nós mulheres avançamos nas garantias de direitos, mas precisamos continuar lutando. Fiquei triste com essa queda na representação feminina nesta Casa.
Como nem tudo são flores, durante a sua vida parlamentar, até aqui, qual foi o momento mais difícil? O que lhe deixou triste ou desmotivada?
R: Eu sempre coloco que não existe vida perfeita. Não existe família perfeita. O que existe é família abençoada e família feliz. Não existe mandato perfeito, existe mandato feliz. O nosso eu não tenho dúvida que foi Deus. É o terceiro mandato que Deus está me dando. É um mandato abençoado e um mandato abençoador. Passamos por dificuldades, por problemas, tem hora que vem as tribulações, mas colocamos Deus na frente. Foram muitas batalhas que eu travei aqui, mas não travei sozinha. Eu fui vitoriosa, em nenhuma – para a Gloria do Senhor – eu perdi. Eu tenho pedido para Deus que me conceda sabedoria, discernimento e humildade. A humildade é necessária. Nós representamos vida, gente. Nós precisamos ter humildade na forma de falar, de olhar, de agir. Quantas pessoas vem aqui em nosso gabinete que não dormiu, que está passando por inúmeros problemas e a gente olhar com desprezo… Por isso peço a Deus sabedoria e discernimento.
O que mais lhe orgulhou ou a orgulha na condição de parlamentar?
R: As pessoas se sentirem representadas. Eu tenho defendido em todas as áreas e não só na Educação. Na Saúde se você por olhar as nossas proposições. O que mais me alegra é poder representar o meu povo.
O Blog agradece a oportunidade desta entrevista, lhe deseja sorte e sucesso neste novo mandato que se inicia e lhe deixa à vontade para as suas considerações finais.
R: Peço para que Deus coloque pessoas boas para me ajudar, porque o vereador sozinho ele não consegue. Precisa ter uma equipe boa, que encaminhe pessoas iluminadas, pessoas que realmente amem Parauapebas, para que se possa contribuir para que o nosso mandato possa ser participativo, coletivo. O mandato não é meu, ele é do povo.
Agradeço imensamente o Blog do Branco por me ouvir, por colocar a nossa voz nos meios de comunicação, e que vocês (imprensa) estejam mais próximos da gente, de nosso mandato levando. Você Branco é uma pessoa muito respeitada, principalmente na nossa área de Educação. Que através de você e do Blog venha mais proposições para este mandato para que a gente possa melhorar a vida de nosso povo.
Agradecimento a Felipe Borges.