Esvaziamento dos debates

A eleição presidencial que se aproxima deverá ser, infelizmente, um deserto de propostas e projetos dos que pretendem governar o Brasil. Em entrevista nos últimos dias a um apresentador de TV, o presidente Jair Bolsonaro, do PL, assumiu que deverá ir aos debates, mas apenas no segundo turno. Seu maior adversário e que lidera até aqui as pesquisas, o ex-presidente Lula (PT) também disse que não tem interesse em comparecer aos debates que antecedem a eleição do dia 02 de outubro. Mas caso aceite ir, quer redução dos mesmos, que aconteçam no máximo três encontros.

Portanto, podemos não ter os dois principais candidatos ao Palácio do Planalto nos debates de primeiro turno. O fato não é algo inédito. Em 2006, por exemplo, Lula disputava a reeleição e não foi aos debates daquele ano, só nos do segundo turno, oportunidade que venceu o então tucano Geraldo Alckmin, hoje filiado ao PSB e pré-candidato a vice em sua chapa. Em 2018, Jair Bolsonaro só foi a dois encontros, pois sofreu um atentado a faca, em Juiz de Fora, Minas Gerais, o tirando de todos os outros marcados.

Nesta decisão de não ir aos debates dos dois principais, hoje, pré-candidatos à Presidência da República, como fica o eleitorado? Como ficam as avaliações de propostas, de projetos de país? O Brasil vive uma grave crise econômica. Teremos, portanto, um esvaziamento de ideias de propostas? Teremos debates só com os que, possivelmente, não terão nenhuma chance de vitória? Caso ambos não compareçam, os debates podem ser cancelados ou no mínimo reduzidos.

A decisão de não ir aos debates é uma estratégia política. Geralmente quem lidera pesquisa ou está no governo, evita esses encontros, justamente para não se expor, não virar alvo dos adversários. Por outro lado, cria um vácuo de ideias e proposta e até prestação de contas ao não ter a oportunidade em ser confrontado.

Na questão do processo eleitoral de 2022, as pesquisas apontam que as intenções de votos em Lula e Bolsonaro somam 70%, e são altamente – até aqui – cristalizadas. O que deixa claro que, dificilmente, migrarão para qualquer outra candidatura do campo da Terceira Via. Dito isto, em que as ausências nos debates do ex-presidente e do atual implicam na decisão de voto do eleitorado de cada um?

Pelo visto, caso a eleição não seja decidida em primeiro turno, algo que penso não ser provável que aconteça, está claro que Lula e Bolsonaro irão deixar o embate entre ambos para o segundo turno. Até lá, a discussão sobre o Brasil será adiada. Os debates antes do dia 02 de outubro serão meramente protocolares, sem a presença dos dois principais concorrentes.

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