EXCLUSIVO: Entrevista com Ilke Moraes, presidente da CMM

Ilker Moraes Ferreira, nasceu em 30 de setembro de 1980. É casado, pai de dois filhos. Filiado ao MDB, foi reeleito vereador por três vezes. Com mais de 10 anos de trajetória política, Ilker se destaca pelo posicionamento a assertivo em diversas pautas importantes, conhecido por ser um legislador que fiscaliza e acompanha a gestão pública. Esteve à frente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da mineradora Vale, intervenção que conseguiu o valor de 115 milhões de reais que serão investidos em melhorias no munícipio de Marabá.

Há dez anos no parlamento marabaense, Ilke Moraes conseguiu se eleger presidente do parlamento municipal para o biênio 2025-2026. Recebeu em seu gabinete para essa entrevista os jornalistas Henrique Branco, do site “Blog do Branco”, e William Ramalho, responsável pelo site Portal “Tudo de Bom”. Oportunidade que tratou sobre a expectativa de seu mandato, o futuro político e a relação com o Executivo em meio a uma crise na saúde pública, muito ocasionada por falta de maior empenho na transição de governo por parte do novo gestor.

Vamos à entrevista…

Primeiramente, nós (Blog do Branco e Portal Tudo de Bom) queremos agradecer pela recepção e o atendimento que recebemos. Presidente, fale sobre sua relação com o parlamento

IM: Vou falar em 10 anos, porque eu vou fazer o recorte que é o tempo que eu estou aqui.  Eu não posso falar antes que eu não estava aqui na Câmara Municipal. Estou indo para o quarto mandato, mas só para vocês entenderem, na época do João Salame (ex-prefeito de Marabá), eu só tive dois anos de mandato, porque era primeiro suplente. E aí assumi, enfim, tenho dez anos aqui na Câmara Municipal. E assim, a gente viu a transição do João (Salame) para o Tião (Miranda, ex-prefeito). A transição é o quê? Acabou a eleição, o prefeito que foi eleito monta uma equipe técnica, obviamente, para poder diagnosticar como é que tá a situação do executivo do município.

BB/PTB – Para se ter um norte pra começar a fazer um plano de ação…

IM: Se a gente olhar, é praxe todo governo fazer um plano para 100 dias. Não sei se vocês lembram disso, né? Eu estou falando da lógica, da política, todo local, não sei se é município, estado… Até o governo federal falando assim, nós vamos fazer um plano de ação pra 100 dias, né? Porque 100 dias realmente é um tempo aceitável. Aceitável, inclusive, para a gente, para a classe política, para os parlamentares, enfim, para a sociedade, inclusive. E a gente vinha, obviamente, acompanhando a transição, ou a falta de transição, vou chamar assim, do que aconteceu aqui em Marabá.

BB/ PTB: Então, o senhor está dizendo que alguns problemas que estão acontecendo na nova gestão, estão relacionadas às falhas na transição de governo? 

Em parte sim. Fui por várias vezes ao próprio Tião Miranda perguntar: “Tião, a equipe veio aqui, tá tendo conversa?” Ele falou: “Não, não, ninguém me procurou, não”. Então, isso já meio que nos preocupou, né? E, obviamente, informações de determinadas secretarias, né? Não, e aí, como é que tá, né? Foi anunciado quem seria o secretário de educação e até dias atrás a SEMED (Secretaria Municipal de Educação) não tinha a pessoa responsável pelos recursos humanos da pasta. Imagina o que que é isso. Hoje nós temos escola sem aula ainda. Entendeu? Então assim, isso não dá pra aceitar. Transição mal realizada. Inclusive, se diz, olha, tipo assim, se o prefeito tem que fazer o que eu eleito? Buscar o outro prefeito e dizer assim, prefeito, o senhor é o atual, mas eu preciso dessas determinadas licitações, que nós sabemos que tudo agora é pregão eletrônico. Então, tem que ter a licitação da merenda, de máquinas para recuperação de estrada vicinal. Tu tem que ter, obviamente, dos insumos para a saúde, e por ai vai.

BB/PTB – Então, presidente, infelizmente, Marabá enfrenta grandes entraves na saúde pública…

IM: Por exemplo, eu estou com dificuldade de médico especialista. É possível abrir uma nova chamada pública para um OSS (Organizações Sociais de Saúde)? É. Ou abrir um PSS (Processo Seletivo Simplificado)? Ou abrir um concurso público? Aí depende de qual decisão você vai tomar, vislumbrando que tu vai ter problema, obviamente, a partir do dia 1º, dia 2 de janeiro. E, infelizmente, culminou com essa quantidade de mortes que é inadmissível. Uma morte já é inadmissível, ainda mais 26. Então, assim, isso nos preocupa. Tenho sempre falado isso… Cobrei a gestão passada, irei cobrar essa gestão. Só tenho falado o seguinte, a minha cobrança antes era no gabinete 11 (mandato passado), hoje é o gabinete 11 e 15 (Presidência). Por quê? Porque hoje eu estou com o presidente da Câmara Municipal. Então, eu sempre tenho dito, a minha responsabilidade aumenta, mas o meu poder de cobrança e de fiscalização também aumentam. É na mesma medida. E aí, independente de quem fosse prefeito… Inclusive, falei isso na campanha. Apoiava um candidato que perdeu (deputado estadual Chamonzinho) e disse a ele, não vamos misturar amizade com profissionalismo. Entendeu?

Então, falei isso, inclusive, em reuniões com a presença do candidato que apoiei, independente de quem esteja lá, eu vou fazer o meu papel, porque isso eu não vou abrir mão, né? Mesmo que isso possa irritar algumas pessoas que amam o prefeito atual, mas isso pra mim é insignificante.

BB/PTB – Justamente por isso, por ser presidente de um Poder, o senhor tem que ter autonomia…

Com certeza. Tem que servir essa divisão de poderes, né? Por isso que fizemos esse documento, a gente fez uma visita ao HMI, um grupo de vereadores, ouvimos o diretor clínico, uma pessoa bem-intencionada, que está lá há muito tempo. Mas a minha avaliação também é que a mudança de pessoas da gestão interna de um hospital não pode ser feita daquela forma. Trocar todo mundo de uma vez só? Isso gera impactos negativos no serviço. Pelo menos foi isso que a gente percebeu. Acho que tem que ser de forma planejada, feito na transição. Ah, eu vou tirar aqui 30%, melhor é indo mudando aos poucos. A partir dessa visita ao HMI (Hospital Materno Infantil), em que fizemos essa reunião com objetivo, por exemplo, que nos apresente um plano de ação, ou seja, que o Executivo nos apresente ações em curto, médio e longo prazos. Sabemos que Marabá é um polo, portanto, todas essas cidades ao nosso redor procuram atendimento principalmente em nosso HMM (Hospital Municipal de Marabá) e HMI. Inclusive foi proposto ao Tião (ex-prefeito Tião Miranda), que o HMI fosse estadualizado, caso não fosse, teria que se construir um outro hospital.

BB/PTB – Inclusive estamos fazendo um levantamento em relação às finanças de diversos municípios da região… Em Nova Ipixuna, uma gestão do MDB, a situação é caótica, com quase nada funcionado, o que pressiona ainda mais o sistema de saúde de Marabá, por ser uma cidade polo…

IM – Verdade, sofremos uma enorme pressão por sermos uma cidade polo. Só para vocês terem uma ideia, o Hospital materno Infantil do estado, surgiu a partir desta discussão nossa lá em 2019 com o governador, com a presença do prefeito na mesa, quando propusermos estadualizar o HMI, e cobramos o Helder (governador Helder Barbalho) sobre essa questão. Deixou-se à época uma questão em aberto: se não vai for estadualizar, terá que se construir um novo hospital. Vale ressaltar que a Alepa (Assembleia Legislativa) abriu uma CPI contra a Vale, e esse hospital é uma condicionante por um, digamos assim, um acordo pelas dividas que a Vale tem com o governo do Estado, ou seja, a empresa construir um hospital materno infantil regional em Marabá.

BB/PTB – Presidente, estamos acompanhando a seara política daqui, e se percebe que Marabá caminha, digamos, para um isolamento político, muito relacionado às decisões e atitudes do prefeito Toni Cunha, que, por exemplo, desfiliou Marabá da AMAT Carajás, entidade que reúne os municípios do sul e sudeste do Pará. Também vem promovendo cortes que estão gerando polêmica. O ex-prefeito Tião Miranda chamou isso de “economia de palito”…

IM – Vejo dessa forma também… Por exemplo, na questão da alimentação, os estagiários que fazem  um serviço importante. Sobre esse ponto, o que temos que olhar pela lógica do senso comum, de que tudo é “cabide de emprego”, e não é isso. Estamos na verdade contribuindo para o desenvolvimento e profissionalismo de um jovem, que muitos cursam o nível superior e precisam desse suporte financeiro para se manter, para que lá na frente seja um bom profissional e que vai ajudar a sociedade seja dentro do serviço público, seja na iniciativa privada. Então é essa a nossa visão. No caso que envolve a Escola de Música, se percebe que foi uma decisão equivocada, no afã de ver um número (R$ 97 mil/mês). A própria questão da alimentação, vou lhe dar um exemplo… Marabá não tem coletivo de ônibus. O servidor que está ali roçando (agente de conservação), que recebe o fornecimento de alimentação, não tem como voltar na casa dele para ter as duas horas de almoço, até porque não tem transporte público. O que se tem de transporte o custo é caro (táxi-lotação, moto-táxi, Moto-Uber, Uber)… Essa alimentação a um custo diário de R$ 20 reais, gera um custo. O que, sinceramente, penaliza os que mais precisam. Agora, é claro, há excessos. Há repartições do governo, que segundo informações recebiam marmita sem necessidade alguma. Agora penalizar toda uma gestão por excessos de um ou outro lugar, ai discordo.

Ele tomou essa medida para economizar, mas vou lhe passar um fato… Acompanhamos aqui que o governo fez uma licitação via Saneamento Ambiental, que é uma autarquia, para atender a saúde. Sinceramente, não consigo entender essa lógica. Ou seja, se anuncia uma coisa em rede social, mas administrativamente se faz outra coisa? Disse que iria comprar carros. Tudo bem! É uma decisão administrativa. A avaliação de todos que conversamos, pessoas do ramo, dizem que não compensa comprar carros, melhor é alugar. Do dia que o prefeito anunciou essa medida, já têm contratos de aluguel de carros. É muito digital, é muito like nas redes. O que nós precisamos é de um prefeito que seja gestor. Essa questão do isolamento é preocupante. Temos que entender que Marabá é um município polo e a política é a arte do diálogo. Se não tiver capacidade de diálogo com os municípios vizinhos, inclusive nessa problemática da saúde, que sabemos que não se resolve sozinho.

BB/PTB – Ter uma boa relação com o Governo do Estado…

IM – É muito importante com ter essa relação com o Estado, assim como com o Governo Federal. O que não dá é pra ficar com essa bandeirinha partidária, uma briga entre “bem e o mal”, quem vai pagar essa conta, quem vai ser prejudicada é a população. E outra, tem que entender que ganhou a eleição com 51% dos votos, ou seja, 49% do eleitorado marabaense não votou nele. Lá atrás, O Tião Miranda ganhou a eleição com 74% dos votos, e nem assim ele é unanimidade em Marabá. Por isso, é bom calçar as “sandálias da humildade” e trabalhar. Se precisar de ajuda, obviamente o parlamento estará aqui para contribuir. Até agora não recebemos nenhum projeto de lei, nada. Nosso papel até agora é acompanhar esses problemas relatados junto com o Ministério Público.

BB/PTB – Quais as suas propostas na condição de presidente do Poder Legislativo junto aos seus pares, junto à Casa, seus projetos, etc.

IM – Assumimos esse compromisso com os vereadores em uma campanha dialogando com todos, independente de ter tido apenas 12 votos, tendo outra chapa concorrente, mas conversei com todos durante esse processo. A minha visão é que precisamos fundamentalmente aproximar mais o parlamento da sociedade. Temos que desmistificar essa história de que vereador não trabalha. Esse apontamento para mim não se encaixa, pois eu sei o que faço e comprovo o que eu faço. Tanto que estou no recesso trabalhando. Estou tratando ainda sobre a CPI da Vale, na qual fui presidente, em que conseguimos R$ 115 milhões para Marabá. Grande parte desse recurso será investido em asfalto. Estamos ajudando a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Unifesspa (Universidade do Sul e Sudeste do Pará) sobre o tema da mineração. Cerca de cinco milhões do montante será destinado à Câmara Municipal, para ampliação deste prédio, que tem como principal proposta melhorar o trabalho da Escola do Legislativo, que busca capacitar o cidadão. Então teremos dois novos prédios ao lado, um para essa escola e outra para a Procuradoria da Mulher, que é uma prioridade para nós. Vamos ainda ter a possibilidade de criar um espaço para a cidadania, em que poderemos melhor atender a população, por exemplo, com emissão de documentos.

BB/PTB – Estamos de frente com o futuro prefeito de Marabá? Quais são as suas pretensões políticas? 

IM – Estou vereador desde a eleição de 2012… Eu posso afirmar que a gente cresceu politicamente. Fui candidato a deputado estadual duas vezes, inclusive. Lhe garanto que não é uma campanha muito fácil. É um “jogo” muito difícil, vamos chamar assim. Fui cotado em algumas conversas para ser vice na chapa do candidato Chamonzinho nesta última eleição. Eu trabalho para crescer, não escondo isso, diferente de alguns políticos que dizem: “ah, eu não quero”, e depois estão lá disputando. Eu sempre deixei claro: eu não estou aqui para ser apenas vereador. A minha meta pessoal, obviamente sei que tenho que trabalhar muito é um dia ser prefeito de Marabá , sendo bem sincero, honesto e direto. Mas isso vamos ver mais para frente.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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