Na Copa de 1958, conta a história que, antes do jogo com a URSS, vencido pelo Brasil por 2×0, o treinador Vicente Feola fazia sua preleção, incentivando os jogadores até que olhou para o ponta-direita Garrincha, o anjo das pernas tortas, onde se prosseguiu o seguinte diálogo:
– Garrincha, é o seguinte: você pega a bola e dribla o primeiro beque. Quando chegar o segundo, você dribla também. Aí vai até a linha de fundo, cruza forte para trás, para o Vavá marcar (o gol)”.
Garrincha, calado, assustado com as instruções, falou:
– Tudo bem, Feola, mas o senhor já combinou com os russos?
Desde então, a expressão “faltou combinar com os russos” é usada quando algo que parecia combinado não acontece. É, com certeza, um bom ensinamento para a política, visto que muitas vezes as organizações e/ou movimentos programam ações sem prever o que o “outro lado da história” possa fazer.
No dia de ontem, 15, Parauapebas acordou sob um intenso reboliço político. A capital do minério ainda se recuperava de um intenso vendaval que provocou muitos estragos pela cidade, além de um eclipse solar, ofuscado por um clima nublado, quando rodou nas primeiras horas da manhã um áudio do deputado federal Keniston Braga (MDB), afirmando que nas horas seguintes estaria lançando à sua pré-candidatura a prefeito de Parauapebas. Tal anúncio, diga-se de passagem, é um direito do citado, em relação a isso, nada a falar. Cabe aqui, analisar o que levou o citado parlamentar de forma inesperada a anunciar sua pré-candidatura à cadeira mais importante da capital do minério?
Primeiramente, cabe lembrar ao leitor que, atualmente, a base do prefeito Darci Lermen (MDB), conta com quatro nomes que almejam ser o próximo mandatário municipal: Rafael Ribeiro, que preside a Câmara Municipal; Keniston Braga, atualmente deputado federal. Ambos são do MDB. Ainda na base mas em outro partido, aparece o deputado estadual Ivanaldo Braz, filiado ao PDT, e ainda o empresário João Vicente, que comanda o União Brasil. Entre os nomes apresentados, o dono da White Tratores parece ser o único que não conta com nenhum apoio do governador Helder Barbalho (MDB).
Neste contexto, Rafael, Keniston e Braz disputam quem será o indicado por Lermen. Neste jogo, narrativas são produzidas a todo o momento, sustentadas por pesquisas feitas pelos citados, que demonstram que nenhum citado lidera pesquisa, e que o segundo lugar e disputado acirradamente entre Braz e Rafael. Nesses apontamentos, Keniston aparece em seu melhor cenário em quarto lugar.
Nos últimos dias ocorreram conversas de bastidores, que incluíram encontros com mandatário estadual, em que Braz seria o candidato escolhido, com apoio de Keniston, em troca deste indicar a vice, neste caso, sua filha Thamires Braga, que dirige o PTB Mulher em Parauapebas. Nada foi confirmado, apenas informações que eram repassadas ao público, com intuito de “bater o martelo” forçadamente.
O alinhamento entre os dois citados parecia algo muito bem “amarrado”, que incluiu diversas reuniões com a presença de ambos. Todavia, na virada do último sábado para domingo, tudo mudou e Braga se lançou pré-candidato a prefeito. Detalhe: nem o prefeito Darci Lermen e nem o presidente municipal do MDB, Cássio Flausino sabiam da decisão e nem se fizeram presentes na reunião que oficializou a posição do deputado federal.
A questão que fica é: por que uma decisão feita em cima da hora, de forma açoitada? O que levou Keniston Braga a tomar tal decisão, pegando todos de surpresa? Seria efeito do eclipse solar? Do vendaval?
Analisando o processo, o Blog do Branco traçou dois cenários que divergem, mas são os caminhos mais lógicos para buscar o entendimento sobre a decisão de Keniston Braga.
Tese 1
Tudo não passaria de um acordo entre Braz e Keniston, em que ambos acordaram tal ação em um teatro de fazer inveja à oficina de atores da Globo, buscando o isolamento de Rafael Ribeiro, que ficaria sem espaço dentro do MDB para concorrer a prefeito, tendo que se contentar com a reeleição de vereador. Podendo até sair de seu atual partido e se filiar ao PSDB (ação que foi muito cogitada por muitos na data de ontem). O que sustenta essa tese é a grande aproximação entre Keniston e Braz nos dias que antecederam a decisão do deputado federal.
Tese 2
Keniston resolveu romper com Braz por ter descoberto algo ou ter entendido que caso não se colocasse (mesmo sem apoio de Lermen, Flausino e até mesmo de Barbalho) estaria fora do “jogo”, tendo como critério as pesquisas que o colocam fora de qualquer possibilidade de vitória. Segundo informações que chegaram ao articulista, o grupo do deputado Braz recebeu a notícia com bastante surpresa (desconsiderando a “tese 1”) e decepção.
Com o movimento feito de ser colocar oficialmente como pré-candidato a prefeito (mesmo depois de ter afirmado diversas vezes que não era hora – ano de 2023 – de pensar em sucessão e sim ajudar Darci em sua gestão), caberá a Keniston e sua turma tentar crescer nas pesquisas, se tornar, de fato, um pré-candidato viável, o que, digamos, não será tarefa fácil.
O que teria levado Keniston Braga a tomar tal decisão nas primeiras horas da madrugada de ontem? Seria influência do eclipse solar? Vendaval? Mensagem divina? Uma ligação de alguém muito influente? Certo mesmo é que a decisão foi vista como um ato de desespero, como se fosse uma “bala de prata”.
A disputa está, digamos, livre, ou seja, que os pré-candidatos estejam nas ruas em busca de indicações de votos para que se posicionem nos levantamentos, que serão usados como critério para a decisão. Uma pesquisa que saiu hoje, mostra que Keniston Braga terá muito trabalho pela frente caso queira sentar na cadeira de Darci Lermen.
Foto: San Diego.