Governo Darci: uma gestão “Laissez-faire”

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Tomo a liberdade de emprestar o famoso termo “Laissez-faire” (em tradução livre significa: “deixe ir, deixe passar…”) para analisar a gestão do prefeito Darci Lermen, após o primeiro ano de governo. O leitor perguntaria em que consiste tal uso do termo francês? Qual relação com uma gestão municipal de uma cidade interiorana? Depois de um ano de gestão, o termo faz sim muito sentido na prática.

Darci Lermen chegou pela terceira vez ao Palácio do Morro dos Ventos através de um amplo acordão político-partidário. Foram 16 legendas que acamparam o seu projeto político e o fizeram vencer uma eleição difícil, contra uma poderosa máquina pública municipal que disputava à reeleição, com apoio do governo estadual. A estratégia eleitoral foi perfeita, com marketing poderoso e recursos que mantiveram bom nível de campanha, Darci venceu.

Desde o início da nova gestão, ao acompanhar as etapas de construção dos nomes que iriam compor o primeiro escalão, estava claro que poderiam ocorrer alguns desarranjos na gestão por conta da disputa partidária por espaços no novo governo. Dezesseis partidos precisavam ser acomodados na máquina, além de antigos “companheiros” e outros que chegaram na campanha e precisariam de “agasalhos”. Estou resumindo só as ocupações funcionais de 1º escalão, cargos de direção, etc. Sem contar os milhares de apoiadores que logo nos primeiros dias de governo foram ao Palácio do Morro dos Ventos cobrar as conhecidas promessas de campanha (movimento que ficou conhecido como “prefeito, emprega eu”).

Com poucas exceções, o primeiro escalão foi montado – em sua maioria – por agentes políticos. A ampla maioria dos ordenadores de despesas são dirigentes partidários. A estratégia foi clara: acomodar os agentes políticos apoiadores e tornar a gestão com ótimo nível de articulação política. Esse foi o primeiro passo. Dentro do espectro da articulação política viriam os passos seguintes (2,3): o controle do legislativo e dos maiores veículos de comunicação da cidade, ou seja, manter acomodado a maioria das mídias locais. Tudo isso foi gradativamente dando certo, especialmente os dois últimos. O Palácio do Morro dos Ventos não tem oposição na Casa de Leis. Tudo foi muito bem “costurado” possivelmente em caráter pessoal pelo próprio prefeito.

Aí vem a questão central desta análise (dando título ao texto): governo Darci: uma gestão “Laissez-faire”. O governo tornou-se uma grande reunião de feudos. Cada secretária parece ter um donatário. Institui-se capitanias na estrutura institucional da máquina municipal. Por mais que o prefeito negue isso (o que já ocorreu em entrevista ao blogueiro Zé Dudu), essa desarticulação organizacional é evidente, clara, irrefutável e parece promover que a gestão “rode em círculos”, que “patine”.

Todo governo tem o seu chamado “núcleo duro”, o que aqui chama-se de “comitê gestor”, composto pelos principais integrantes do governo, no caso da atual gestão é composto, além do prefeito Darci, por Keneston Braga (Sefaz) e Edson Bonetti (Chefe de Gabinete). Outros como o secretário de Planejamento João Corrêa e o de Administração, Cássio Flausino, orbitam ao redor do grupo. Parece que esse “comando central” não está dando conta do gerenciamento dos feudos criados dentro da gestão. Cada gestor setorial parece definir as suas ações e interesses sem antes combinar com o comando do governo. O ano corrente é de eleição, portanto, esse sistema feudal poderá se aprofundar e complicar ainda mais o funcionamento da máquina como um todo. O que falta para exigir mais comprometimento? Ações? Se há cobranças, encontros periódicos de avaliação setoriais do governo, e mesmo assim continuam os sucessivos deslizes, há, portanto, complacência do “comando central” para manter os apoios e acordos políticos.  

As duas secretarias que promoveram a troca de seus gestores (Saúde e Segurança Institucional) tiveram seus respectivos orçamentos estourados meses antes do fim do exercício orçamentário. Os novos gestores tiveram que fazer alquimia orçamentária para fechar o ano. No caso da Saúde (pela própria complexidade da pasta) não foi possível. Isso mostra a falta de zelo, gerenciamento e no caso do comitê gestor, acompanhamento e monitoramento das ações setoriais.

Darci Lermen na condição de prefeito ao transitar no campo político foi bem. Suas ações e presença fora do território parauapebense garantiram vitórias ao município (maior arrecadação através do reajuste da Cfem e dezenas de milhões de dólares de investimentos e financiamentos para grandes projetos, neste caso o de macrodrenagem e a orla). Mas as ações exógenas de Darci parecem ter lhe custado desgaste de sua imagem internamente, ou seja, avaliação popular não se apresenta bem. O que na prática se configura por muitas vitórias políticas fora, mas com o custo alto negativo da avaliação interna de seu governo.

No ano que se inicia será decisivo sobre diversos aspectos. Primeiro o governo estará gerenciando o próprio orçamento e com as diretrizes operacionais alinhadas (pelo menos na teoria pelo PPA e a LOA). Todas as pastas terão que apresentar e executar seus respectivos orçamentos planejados e dimensionados conforme suas necessidades. Não há desculpas para a falta de recursos ou o estouro antes do exercício de execução.

A montagem do governo para atender aos acordos de campanha sempre tem um peso político negativo, em qualquer gestão. Mas no atual governo Darci esse peso político está sendo além da conta, o que começa a fazer desabar a avaliação da gestão perante a opinião pública. O que falta para acertar se a grande parte da mídia e o poder legislativo estão do lado? Competência gerencial…

Falta ao prefeito Darci Lermen olhar mais para “dentro” e menos para “fora”. Acompanhar mais, cobrar mais, trocar – se for necessário – algumas “engrenagens” da máquina pública. Darci já mostrou e demonstrou que é um habilidoso articulador político, mas só isso não basta, ainda mais na atual configuração de sua gestão. Precisa eliminar o perfil “Laissez-Faire” que se instaurou em seu governo e que está lhe custando caro em relação à sua avaliação. Um olhar mais endógeno já melhoraria muito.

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