Governo sigiloso

A banalização do recurso de sigilo previsto na Lei de Acesso à Informação no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) tem se tornado uma marca. Há, claramente, abuso de seu uso. Vamos lembrar ao leitor do Blog do Branco, como funciona a regulamentação deste decreto. Pois bem, A Lei de Acesso à Informação (LAI) surgiu em 2011 para regulamentar o acesso a documentos oficiais de interesse público, que ajudam a conhecer a história do país. Há, porém, informações que a mesma lei permite manter em sigilo por serem “consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado”. A questão é: o que pode ser considerado imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado?

Documentos oficiais podem ter acesso negado quando ganham status de sigilosos, secretos ou ultrassecretos a pedido de órgãos públicos. Porém, nesses casos, o limite máximo de tempo para restrição da informação é de 25 anos. O prazo máximo é de 100 anos, e seu sigilo independe de classificação por qualquer órgão público. O tempo máximo, ou seja, um século é o espaçamento temporal mais utilizado no governo Bolsonaro.

Há inúmeros exemplos. No final de julho de 2021, o governo impôs sigilo de cem anos sobre informações dos crachás de acesso ao Palácio do Planalto emitidos em nome de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do presidente. O Exército brasileiro decretou sigilo sobre as ações do general Eduardo Pazzuello, que como militar da ativa não deveria ter participado em ato de apoio ao presidente no Rio de Janeiro. O sigilo foi definido pelo próprio comandante da citada Força, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Ainda sobre Pazuello, o governo decretou sigilo de cem anos sobre documentos referentes a sua gestão como ministro da Saúde. Outro exemplo, este mais polêmico diz respeito ao sigilo decretado de um século em relação à carteira de vacinação de Bolsonaro. Na ocasião, segundo a própria assessoria da Presidência, o decreto se justifica porque os dados “dizem respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem” do mandatário nacional.

Não precisa ser integrante do governo, basta, pelo visto, ser apoiador da gestão federal. Isso pode ser confirmado através do caso do médico bolsonarista Victor Sorrentino, detido no Egito em maio de 2011 por fazer piadas de cunho sexual a uma vendedora no Cairo. Também sob a alegada proteção à intimidade, o Itamaraty decretou sigilo de 100 anos nos documentos relacionados às negociações que realizou para a liberação do médico pelas autoridades egípcias.

O mais recente exemplo é o caso do cartão corporativo. Foi decretado sigilo de dez décadas sobre os gastos do presidente e de sua família. A decisão ocorreu justamente quando se buscava junto à Lei de Acesso à Informação (LAI) quando aumentou a pressão pela divulgação dos dados aos gastos feitos. Segundo informações do jornal O Globo, divulgadas em ao fim de janeiro deste ano, Bolsonaro gastou R$ 29,6 milhões com cartões corporativos nos três primeiros anos da sua gestão. O valor é 18,8% maior que o de presidentes anteriores, como Dilma Rousseff e Michel Temer ao longo de quatro anos, que gastaram R$ 24,9 milhões no mandato, o que também não deixa de ser um absurdo.

Há decretos de sigilos com espaçamento temporal menor, como, por exemplo, o caso do Ministério da Saúde determinou sigilo de 10 anos sobre os documentos do segundo contrato de compra da vacina contra a Covid-19 da Pfizer. Mesmo a quantidade das doses serem exatamente iguais à primeira compra (100 milhões), o governo federal irá pagar R$ 1 bilhão a mais.

Conforme dito por diversos juristas, o fato do excesso de decretos em caráter sigiloso é algo muito sério e preocupante. Nenhum outro governo desde a redemocratização se utilizou deste recurso. O uso sem maiores critérios esconde uma necessidade de evitar maiores informações e apurações sobre fatos. O que tanto o presidente Jair Bolsonaro quer esconder? Tal prerrogativa é a comprovação do que se prometeu na campanha e não se conseguiu fazer na prática.

Definitivamente vivemos sob um governo sigiloso, isso em um regime democrático.

#veja mais

MDB de Canaã realiza convenção para lançar candidaturas de Josemira e Dinilson

O MDB de Canaã dos Carajás realiza neste sábado (3), às 17 horas, no ginásio Antônio Chorão, a convenção partidária municipal de lançamento da candidatura

Parauapebas recebe treinamento do Cadastur e mapeia demandas por cursos

Desde segunda-feira (14) e até sexta-feira (18), uma equipe da Gerência de Qualificação dos Serviços Turísticos, da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) está no

O futuro continua sendo sabotado

Já faz parte do imaginário popular que o Brasil é um dos países que menos ler no mundo. A questão é que a afirmação não

Eleições 2024: Dra. Érica Ribeiro assume o comando do PSDB em Parauapebas

Acordo firmado com a Executiva estadual desde o dia 10 de maio, foi tornado público no último dia 07, com a divulgação da nova composição

Pesquisas eleitorais não precisam ser registradas em ano sem eleições

As empresas que realizarem pesquisas de opinião pública sobre as eleições, assim como sobre candidatas e candidatos, para conhecimento público, são obrigadas a registrá-las na

Por que votamos em Hitler?

Ao longo da década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levavam a sério.