Na política traições e não cumprimento de acordos não é algo novo ou fatos isolados. Para essas situações começou-se a utilizar comumente o termo “picado pela mosca azul”. No diciionário o termo é explicado da seguinte maneira: “a aspiração por poder e glória; em referência a quem busca cargos de prestígio dentro de empresas ou governos: o vice foi picado pela mosca azul e agora quer a cadeira do presidente”. Origem da expressão. O poema Mosca Azul, de Machado de Assis, conta a história de um plebeu que, ao deparar-se com uma curiosa mosca azul, com “asas de ouro e granada”, deslumbra-se e passa a sonhar com poder e riquezas, ilusão que acaba comprometendo sua sanidade e seu senso de realidade
João Dória assumiu o terceiro maior orçamento público do país com a promessa e de fazer diferente, promover uma revolução na administração pública. Afirmava colocar à serviço do Estado o espírito e a postura privada, do mundo corporativo. O tucano que sempre (especialmente na época da campanha, apoiado pelo marketing) negou ser político (sentido clássico do termo) e sempre se apresentou como gestor. Desta forma ganhou em 1º turno.
Não demorou muito para se cogitar a sua candidatura à Presidência da República, em 2018. Dória prometeu que cumprirá o seu mandato. Outros também, e não cumpriram, a exceção foi Fernando Haddad. Historicamente a capital paulista elege prefeito para dois anos, ou seja, duração até o próximo processo eleitoral.
Dória parece seguir a mesma lógica. Definiu duas agendas: a de prefeito (cada vez mais escassa) e a de agente público peessedebista à nível nacional. Irá percorrer nas próximas semanas diversos estados brasileiros, com ênfase no Nordeste. Enquanto isso, sua gestão acumula críticas e erros primários. Sua imagem de “bom gestor” já não é a mesma. Seus correligionários já o criticam publicamente. Enquanto a sua gestão padece, Dória só pensa no Palácio do Planalto.
À médio prazo, em poucos meses deverá ter um grande embate interno no ninho tucano paulista. O governador Geraldo Alckmin pleiteia a vaga de presidenciável. O mandatário da política de São Paulo disputou a Presidência em 2006, perdendo para Lula, que, na ocasião, disputava a reeleição. Na relação de criador e criatura, ainda haverá muitos desdobramentos. Alckmin lançou e bancou Dória à PMSP, quando muitos tucanos não apoiavam a ideia. Ocorreu à época cisão no PSDB, por conta de decisão do governador.
O plano de Alckmin era (o que ainda poderá acontecer) ser candidato a presidente e lançar em seu lugar Dória ao Palácio dos Bandeirantes, abrindo caminho para outro tucano de carteirinha: Bruno Covas, hoje vice-prefeito, assumir o comando político da capital. Estava evidente que a PMSP era algo pequeno, pouco para João Dória. Suas pretensões políticas são bem maiores. Alckmin sabia disso, mas não contava que seriam tão instantâneas, podendo quebrar a hierarquia política, de forma até rasteira.
O processo avança pelos bastidores. O prefeito de São Paulo vem recebendo sucessivos elogios de Michel Temer e Rodrigo Maia. Há a possibilidade de saída do PSDB e ingresso ao PMDB e DEM? A princípio não. Essa questão dependerá da atitude de Alckmin. O prefeito de São Paulo já foi picado pela “Mosca Azul” há muito tempo, só o governador de São Paulo que não percebe isso. Por enquanto, Dória governa a capital paulista de longe, e com o pensamento em Brasília…