Na última sexta-feira, 08, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em sessão histórica, ter definido a questão da prisão em segunda instância, em que, neste caso, respeitou-se a Constituição Federal, que diz que o preso só pode cumprir pena após o trânsito em julgado, ou seja, após exaurir todas as possibilidades de recursos, e não como foi acordado em 2016, em que o condenado passava a cumprir pena após a condenação em segunda instância como no caso do ex-presidente; sendo assim, Lula foi solto.
A proposta deste artigo não é a de ser ater aos meandros jurídicos que o caso carrega, mas sim ao impacto político da decisão do STF, sobretudo no que se refere ao ex-presidente Lula, agora solto. Fique claro que o petista está condenado, e segundo a Lei da Ficha Limpa, está inelegível. Porém, inegavelmente, a sua soltura e liberdade é um fator político importante, que pode mudar os movimentos do tabuleiro político.
Ao leitor mais atento, o título deste artigo parece não fazer muito sentido. Como e de que forma o bolsonarismo ganha com Lula solto? Em diversos aspectos, entre os mais relevantes: primeiro que a liberdade de Lula provoca – quase que por inércia uma reunificação dentro do PSL – totalmente dividido após a crise com o governo -, pois, a partir de agora o “inimigo” maior está nas ruas e tende a fazer crescer o movimento oposicionista; segundo e não menos importante é que, Lula solto, cria a unificação de um polo à esquerda e, de quebra, como em um jogo de boliche, a “bola Lula”, tira de cena diversos adversários que estão se formando contra o presidente, como João Dória, Luciano Huck e Ciro Gomes, só para citar os exemplos mais emblemáticos. E o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel? Este caso não se aplica diretamente, ele está dentro da órbita bolsonarista, e passou a ser um caso “interno”, que precisa ser resolvido entre os que apoiam o presidente.
No plano político o maior derrotado com a liberdade de Lula é, sem dúvida, o PSDB, que até então, vinha se posicionando na oposição ao presidente, com o enfraquecimento do PT. Agora, tudo muda. Liderado por Lula, o PT se reposiciona como o principal agente oposicionista – e que poderá aglutinar outros campos à esquerda para fortalecer o movimento – contra o governo Bolsonaro, que até então – diga-se de passagem – estava correndo “solto”, sem pressão oposicionista.
Não há dúvida que, a partir de agora, Lula solto cria uma forte polarização que, na atual conjuntura, mais ajuda do que atrapalha o bolsonarismo, como já dito por este Blog inúmeras vezes, precisa do conflito, do inimigo comum, de manter um Estado beligerante para que a sua militância (real e virtual, esta última com grande destaque) possa estar em estado de alerta e em intenso movimento.
A questão a partir de agora é saber como se comportará o governo Jair Bolsonaro? Se aproximará do campo social, buscando criar ações para as classes menos abastadas, reduto de Lula e do PT? O ressurgimento político de Lula, poderá – de alguma forma – mudar os planos do ministro da Economia, Paulo Guedes? A favor de Lula está os dados sobre a desigualdade que foram recentemente divulgados e que mostram que a pobreza e a miséria no país só crescem, o combustível perfeito a narrativa lulista. Bolsonaro terá um postura mais “leve”, mais apaziguadora? Ou intensificará os ataques e a narrativa do confronto direto?
Entre ambos os polos há uma convergência: críticas e ataques a Rede Globo. Os Marinho, a partir de agora, terão dois obstáculos pela frente, não só mais um como antes. Bolsonaro com os ataques de Lula a emissora carioca, poderá, por exemplo, propor um armistício ao referido grupo de comunicação? A ver.
Como dito, Lula livre, mais ajuda do que atrapalha (na atual etapa do processo político) o bolsonarismo, que a partir de agora, precisará pensar nas estratégias de como agir, e como o governo irá conduzir as suas ações. A polarização dos extremos está posta. Jair Bolsonaro terá uma voz opositora importante contra si, que promete fazer muito barulho. Os movimentos dentro do tabuleiro político mudaram. O PSDB que parecia se restruturar e buscar ser a oposição ao bolsonarismo, com Lula nas ruas, solto, se contentará em ser coadjuvante novamente. E o centro político vai aguardar os efeitos dessa disputa, ou se lançará como uma nova opção?