Mais uma ponte da Alça Viária é derrubada. Em resumo: a irresponsabilidade privada e a inoperância do Poder Público

O que seria algo infelizmente esperado, aconteceu. Mais uma ponte do Complexo de Integração da PA-150 com a capital do Estado, chamada Alça Viária, inaugurada em setembro de 2002, e que liga a Região Metropolitana de Belém as regiões sul e sudeste do Pará, teve quase metade de sua estrutura derrubada, após ser atingida por uma balsa, a exemplo do ocorrido em outra ponte, em 2014, do mesmo complexo.

No sinistro de 2014, foi atingido um pilar, ficando suspensos dois vãos. No de hoje, 06, a situação é muito pior. Foram três vãos derrubados, a área atingida é – pelo menos – três vezes mais extenso do que no caso ocorrido, em 2014; justamente porque a embarcação atingiu o pilar central da ponte. Na ocasião anterior, o sinistro ocorreu em março de 2014 e a ponte foi entregue dias antes do natal de 2015, quase dois anos depois. E agora, talvez, o prazo seja maior (mesmo levando em consideração a agilidade que o governador demonstra em suas ações).

A partir de hoje, novamente um dos maiores pontos de conexão do estado do Pará volta a ser interrompido em seu modal rodoviário. Historicamente o nosso estado é uma ilha econômica, haja vista, as suas grandes desigualdades
regionais, criadas por falta de políticas públicas que promovessem a integração. As principais cidades paraenses ainda poderiam ser consideradas feudos, caso estivéssemos na Idade Média. O acidente na ponte é algo trágico para a economia paraense, e criará um grande problema ao atual governo, que tem como bandeira a integração regional.

Informações levantadas junto a um engenheiro de Belém (que preferiu não ser identificado por razões profissionais), afirmou que, a concepção do projeto da época não previa trânsito de comboios de balsas, por isso, a distância entre os pilares não é tão grande. Os vãos entre as estruturas de sustentação foram dimensionadas para embarcações pequenas e médias. E, ainda – segundo ele – a falta de Dolfins (estruturas ou barreiras físicas, geralmente de concreto, que protegem os pilares de uma ponte), como os existentes em toda a extensão da ponte Rio-Niterói, deixa em estado de vulnerabilidade uma ponte que, sem sinalização, como a que foi parcialmente derrubada, torna-se uma tragédia anunciada.

Cogitou-se, por exemplo, a proibição da circulação dessas embarcações (balsas) nos rios que cortam a Alça Viária. Sem generalizar, porém, em muitos casos de circulação de embarcações com cargas, o material ou esses barcos estão com alguma pendência documental. A balsa que causou o sinistro desta madrugada, estava irregular. Outro ponto levantado pelo engenheiro civil ouvido pelo blog, diz respeito à falta de profissionais habilitados para conduzir esse tipo de embarcação pelos rios. A maioria desses “condutores” não tem o devido preparo técnico; geralmente são pescadores que são “preparados” para exercerem tal função, tendo como base o conhecimento que possuem da hidrografia da região.

Claramente ocorreu descaso por parte do governo anterior em relação a manutenção das estruturas suspensas que estão na extensão da Alça Viária. Nos primeiros dias da nova gestão, observou o estado crítico, totalmente deteriorado de um dos blocos de coroamento que sustenta um dos pilares da ponte. A manutenção estava sendo feita para amenizar o problema e garantir maior segurança, mas o choque com a balsa determinou a derrubada de parte da estrutura da ponte, instaurando o caos. Na relação entre a irresponsabilidade privada e a inoperância do poder público (neste caso, as gestões passadas), a conta recai sob a sociedade, o elo mais frágil na relação. Resta-nos contabilizar os prejuízos econômicos que virão. Triste Pará.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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