A Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) manifesta preocupação com o anúncio do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros. A análise concentra-se nos efeitos dessa medida para o Estado do Pará, cuja economia possui forte dependência das exportações nos setores de mineração, metalurgia e agronegócio. A taxação imposta tende a gerar consequências limitantes para o crescimento econômico regional, o nível de emprego e a arrecadação pública estadual.
Para a indústria paraense, a medida acende um sinal de alerta, considerando a relevância estratégica das relações comerciais entre Brasil e EUA, bem como os impactos diretos para a economia do nosso Estado. A decisão traz incertezas significativas para o ambiente econômico, especialmente em estados exportadores e importadores como o Pará, onde as relações comerciais com o mercado norte-americano têm papel relevante para a atividade industrial e para a geração de empregos e renda.
2. Contextualização
O Estado do Pará tem posição estratégica na balança comercial brasileira. Em 2024, respondeu por aproximadamente 6,81% das exportações nacionais, com destaque para:
• Minério de ferro e manganês;
• Madeira;
• Alumínio e bauxita;
• Pescado.
3. Impactos na Indústria Paraense
A medida tarifária dos EUA incide sobre a maior parte desses produtos, o que torna o Pará um dos estados mais vulneráveis à política adotada. Ressalta-se que a média das exportações paraenses para os EUA, nos últimos três anos, alcançou o valor de mais de US$ 860 milhões de dólares, demonstrando a relevância desse destino para as exportações de produtos paraenses, sendo o 8º estado que mais exporta para os EUA. Somente em 2025, as exportações já alcançaram quase US$ 570 milhões de dólares, com uma variação positiva de 43,08%.
3.1 Mineração e Metalurgia
• O setor de mineração (especialmente minério de ferro e bauxita) representa mais de 80% das exportações do Pará, esse setor tem contratos expressivos com o mercado norte-americano;
• A tarifa de 50% torna os produtos paraenses menos competitivos, levando à possível redução de contratos e paralisação de remessas;
• Efeitos em cadeia: queda na produção, redução do uso de infraestrutura (portos, ferrovias), e retração em setores como energia, logística e serviços industriais.
3.2 Agroindústria e alimentos
• A agroindústria do sudeste paraense, que tem crescido com base na produção de grãos e carnes, também será prejudicada;
• Pequenas e médias indústrias podem ser especialmente afetadas pela queda na demanda externa e perda de um potencial comprador internacional;
• Embora o setor de carnes do Estado do Pará não tenha como destino direto o mercado norte-americano, os impactos da nova taxação serão sentidos de forma indireta no mercado interno. Com a restrição às exportações para os Estados Unidos, produtores das regiões Sudeste e Sul — tradicionais fornecedores ao mercado norte-americano — tenderão a redirecionar sua produção para o mercado doméstico. Esse movimento deve aumentar a oferta interna e intensificar a concorrência, especialmente nas regiões para onde o Pará tradicionalmente destina suas vendas, como o próprio Sudeste e o Sul do Brasil. Como resultado, o setor paraense poderá enfrentar dificuldades para manter sua participação nessas regiões, com possíveis prejuízos à comercialização e à rentabilidade.
3.3 Setor Madeireiro
• Como é amplamente reconhecido, os Estados Unidos representam o principal destino das exportações paraenses de madeira, absorvendo mais de 40% do volume comercializado. A recente alteração na política tarifária, com a imposição de uma taxa de 50%, tem potencial para gerar efeitos adversos expressivos sobre a indústria madeireira e sobre a economia local como um todo.
O setor madeireiro desempenha papel estratégico no desenvolvimento econômico do Estado do Pará, não apenas pela geração de empregos e renda em diversas regiões, mas também por sua contribuição à conservação ambiental, por meio da adoção de práticas sustentáveis de manejo florestal. O aumento substancial da taxação compromete a competitividade dos produtos madeireiros no mercado internacional, podendo acarretar uma retração significativa nas exportações e, consequentemente, colocar em risco a sustentabilidade econômica e ambiental da região.
3.3 Emprego e arrecadação
• A indústria da transformação e extrativa mineral responde por uma parte significativa dos empregos formais no Pará, especialmente em municípios exportadores como Parauapebas, Marabá e Barcarena;
• Impacto na geração de empregos, considerando que, durante o ano de 2024, para as exportações brasileiras um aumento nos preços tende a desestimular a demanda externa, tem-se, especificamente, um aumento de 10% nos preços dos produtos exportados, resultando em uma diminuição de 2% na quantidade vendida ao exterior (Kawamoto, et al., 2010). Considerando também que o aumento de 50% no preço ocorreu em apenas 3,63% da pauta de exportação do Estado, o impacto final estimado é:
1. Exportações: Sofreriam uma redução de 0,363%.
2. PIB: Teria uma redução de 0,1452%.
3. Emprego: Teria uma redução de 0,0305%.
• A queda na produção e exportação pode provocar a demissão de milhares de trabalhadores, além de uma expressiva perda de arrecadação dos impostos como ICMS e ISS.
4. Recomendações para o Estado do Pará
Diante da imposição da tarifa de 50% sobre exportações brasileiras pelo governo norte-americano, recomenda-se que o Estado do Pará, inserido no contexto da região amazônica, adote uma série de medidas estratégicas para mitigar os impactos negativos sobre sua economia, especialmente nos setores mais afetados. Entre as principais recomendações, destacam-se:
- Articulação federativa e diplomática: Atuar em conjunto com o governo federal, por meio dos ministérios responsáveis pelo comércio exterior e relações internacionais, a fim de assegurar que os interesses da economia paraense estejam contemplados nas negociações;
- Apoio emergencial aos setores impactados: Estabelecer linhas de crédito especiais, incentivos fiscais temporários e programas de compensação para os setores mais atingidos, como mineração, metalurgia, madeireiro, agroindústria e logística, visando garantir a manutenção de empregos e da atividade produtiva;
- Diversificação de mercados e promoção comercial: Fortalecer ações de prospecção de novos mercados internacionais para os produtos paraenses, com foco em regiões como Ásia, Oriente Médio e África, reduzindo a dependência de mercados tradicionais e aumentando a resiliência comercial;
- Fomento à agregação de valor e à industrialização local: Estimular políticas que promovam a verticalização das cadeias produtivas no Pará, especialmente nos setores extrativo e agroindustrial, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade da economia estadual à exportação de commodities in natura;
- Criação de um comitê estadual de monitoramento de impactos: Implantar um grupo técnico multidisciplinar com representantes do governo, setor produtivo, universidades e centros de pesquisa, para acompanhar continuamente os efeitos da medida norte-americana, elaborar diagnósticos atualizados e propor ações corretivas.
Com informações Ascom Fiepa
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