Ministério da Saúde não terá protagonismo. Do jeito que o chefe quer

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Na última quinta-feira, 16, o presidente Jair Bolsonaro demitia o seu então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O embate entre ambos sobre os procedimentos e ações do governo em relação à pandemia, durou semanas, havendo virado enredo de novela. Após inúmeros confrontos dialéticos, muitos destes em forma de indiretas do presidente, Mandetta foi desligado de sua função.

Para o seu posto foi convidado o médico oncologista, Nelson Teich. O novo ministro tem currículo robusto dentro da área, que inclui a produção de três livros. Sem dúvida, muito mais técnico que seu antecessor.

Mandetta é médico, portanto, técnico, porém muito mais voltado para a política. Já havia sido deputado federal. No comando do Ministério da Saúde, forjou-se como técnico, mas era o tempo todo um agente político altamente atuante. sabia se comunicar, ser o centro. De uma oratória elogiável. Não, por acaso, tornou-se mais popular que o próprio presidente. Soube chamar para si os holofotes, ao ponto de insubordinar-se ao seu chefe.

O propósito maior deste artigo é, neste momento, sobretudo agora, levantar a reflexão sobre o novo ministro, sua equipe e as ações em relação à pandemia. Primeiro ponto, e, talvez, o que motivou a troca no comando da pasta, é a atuação discreta de Teich. Não faz questão de aparecer, e principalmente: ofuscar Bolsonaro. Não produz narrativa que vá ao encontro do presidente. Não é de seu perfil chamar para si a atenção. Tem péssima apresentação e oratória horrível. Ou seja, não sabe se comunicar.

Passado alguns dias da troca, é normal e compreensível que se leve em consideração um tempo de adaptação, de organização da nova equipe. Outro fator complicador foi que a troca se deu em meio a uma crise de saúde pública sem precedentes; mudança nestas condições não é recomendável. Mandetta caiu por incompetência? Por gerir erroneamente a crise? Não. Foi demitido por não concordar com as decisões de seu chefe, enfrentando-o publicamente em diversas ocasiões.

O novo ministro desde quando assumiu, há cinco dias, não deu entrevista. Não participou de coletivas. Não se coloca como protagonista. Sob a gestão de Mandetta, o Ministério da Saúde concedia todas as tardes, entrevistas coletivas para tratar das ações e o quadro nacional da Covid-19. A nova equipe, até o momento, não faz questão de manter tal relacionamento com a imprensa. Recomendações do Palácio do Planalto? Do presidente?

Ontem (20), por exemplo, o balanço diário no número de mortos apontava 383 (o que já direcionava a questão de uma subida substancial em comparação com dias anteriores em que a média ficou entre 200 a 240 óbitos). Logo em seguida, ocorreu a correção para um quantitativo bem menor: 113. A justificativa foi erro de digitação (sendo que, apenas o último dígito repete entre os dois quantitativos).

Inevitavelmente temos a subnotificação, como diz Carlos Andreazza, como política de Estado. Se testa em níveis de países africanos. A média é de 300 testagens para cada um milhão de habitantes. Como saber em que nível está a curva? Qual a sua projeção de crescimento? Como projetar o seu pico?

O número corrigido de mortos – para baixo – apontaria uma redução? Nessa lógica, já atingimos, portanto, o pico e agora caminhamos para um platô? Seria muita ingenuidade pensar ou concordar com esse cenário positivo. Sem antes um diagnóstico mais completo. Conforme escrevi há alguns dias, voamos no escuro.

E a nova equipe do Ministério da Saúde, está sem autonomia? Tem como função diminuir o alarmismo e caminhar – como quer o presidente – para a flexibilização do isolamento? Forçar os governadores a tomarem tal posição? A citada pasta seria hoje totalmente subordinada ao Ministério da Economia?

Muitas perguntas e poucas respostas. O silêncio impera no Ministério da Saúde. Seu protagonismo sumiu, do jeito que desejava o presidente Jair Bolsonaro.

 

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