Narrativa como método

Ontem, 07, comemorou-se 200 anos da Independência do Brasil. O Bicentenário é, sem dúvida, um marco. Portanto, esperava-se um grande evento de cunho nacionalista, como de fato ocorreu. Todavia, o evento seria usado – ainda mais em ano eleitoral – para promover, por exemplo, não o presidente Jair Bolsonaro (PL), e sim o candidato que disputa a reeleição.

O que se viu ontem, em Brasília e no Rio de Janeiro, locais em que o presidente esteve (na capital fluminense sua apresentação foi exclusivamente de candidato) foi o descumprimento dos limites legais do ponto de vista eleitoral. As comemorações do Bicentenário foram, na verdade, usadas como palanque político de Bolsonaro, que atacou seus inimigos nesses locais.

Ato eleitoral foi reconhecido pela ampla maioria dos analistas políticos. Os partidos que disputam o Palácio do Planalto, entraram com representações junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra à campanha de Bolsonaro, pedido, por exemplo, que sejam proibidas o uso de imagens do Sete de Setembro na campanha eleitoral. O caso cabe até a impugnação da chapa, mas isso está fora de qualquer cogitação.

Narrativa Bolsonarista

Não é novidade que este Blog sempre tratou da narrativa bolsonarista como método. Mais uma vez ontem, 07, essa tática voltou a ser usada. Em discurso em um carro de som, o presidente Jair Bolsonaro atacou indiretamente a esposa de seu maior adversário, quem lidera as pesquisas até o momento, o ex-presidente Lula (PT), comparando as primeiras-damas. Ao fim, o mandatário afirmou ser “imbroxável”, palavra que nem existe na língua portuguesa, sendo, portanto, um exemplo de neologismo. Todavia, o termo foi usado com clara estratégia: gerar repercussão. Assim, se pode promover outras narrativas, já que a mídia e os analistas ficaram “presos” ao uso do citado termo.

O uso político do Bicentenário da Independência 

Havia um temor de que as comemorações dos 200 anos da Independência pudessem ser marcadas por eventos ou ações que atentassem contra às instituições. Me refiro à depredações aos prédios públicos, em especial o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Felizmente, nada disso aconteceu. O que se viu foram cartazes (alguns com erros gramaticais) pedindo o fechamento do STF, do Congresso, querendo golpe militar. O menu bolsonarista de sempre.

A questão é: as aparições de Bolsonaro nas comemorações de Sete de Setembro podem ter efeito eleitoral, como fazê-lo subir nas próximas pesquisas? Ou sua atuação política continua voltada ao seu grupo, seus apoiadores?

O Sete de Setembro foi, sem dúvida, uma oportunidade que Bolsonaro usou para fazer campanha eleitoral. Na risca da Lei, ele cometeu crime eleitoral e improbidade administrativa (uso de recurso público para promoção político-eleitoral). Vale o registro que nenhum outro presidente de Poder: Luiz Fux (STF) e Rodrigo Pacheco (PSD), que preside o Congresso Nacional, compareceram aos atos comemorativos do Bicentenário. Nem mesmo, Arthur Lira (PP) estava presente em Brasília.

Sem dúvida, vivemos um estado de miséria institucional no Brasil. Essa será a maior e pior herança do Bolsonarismo.

Imagem: reprodução Internet. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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