Nada incomoda mais uma sociedade do que a afirmação: “Os políticos brasileiros são a cara do povo”, e na verdade nós não queremos ver espelhados nos eleitos. Com base nessa premissa me vejo diante dessa classe tão privilegiada e odiada ao mesmo tempo. A “cara do povo”, que inclui a mentira e a corrupção, não é a de um outro, mas é a ‘cara’ de nós mesmos. Ainda votamos como sempre, pensando em seus interesses privados e dessa forma se elegem políticos com a mesma lógica de conduta. E dessa maneira se você pensa em mudar a política, só mudando a si mesmo.
Nesse hiato entre o eleitor e o eleito, existem os servidores públicos quase sempre achincalhados como incompetentes dessa gestão pública dos serviços, quase sempre técnicos, qualificados e com raízes que o justificam trabalhar por uma causa justa e nobre que é servir ao povo. Mas o que dizer deles se quando o serviço não funciona, é por que fazem “corpo mole”? Servidor público não compra insumos, não contrata aliados, não decide os rumos de uma cidade, apenas lhe cabe a execução quase sempre de seus gestores despreparados. A opção por gestão política tem nos mostrado incansavelmente que iremos pagar essa conta no final. E precisamos repensar o que elegemos a cada pleito.
A política, diferentemente do que muitos pensam e até tentam macular, não é a arte da enganação ou a escória do comportamento humano, quem assim pensa, na verdade faz o desvirtuamento das razões filosóficas da política e acaba gerando a degradação do sistema: a politicagem, praticada por pessoas desprovidas do mínimo ético-moral necessário para representa-la.
E quando os políticos falam em mudanças, apertem os cintos e fiquem atentos, pois a mudança na política não pode ser encarada com a mesma paixão que se tem no futebol, que na minha opinião é doentia e cega para quem a possui, afinal, o jogador muda de time, o técnico muda de time, os patrocinadores mudam de time, e você torcedor não.
Então, se manter em escolhas erradas ou desvirtuadas em erros no caminhar, não as revendo pelo medo ou convicção de não querer mudar, além de ser prova de ignorância, é prova de desarranjo intelectual, afinal o homem deve mudar, e sempre para melhor, para aquilo que satisfaz o seu ideal de justo.
Não é possível ou aceitável, no atual estágio histórico em que vivemos, a sustentação de posicionamentos políticos radicais, cunhados no ódio e nos sentimentos menores que (infelizmente ainda) cabem no coração humano.
A ideia do “nós contra eles”, a polarização de ideias, irresponsavelmente bradada por populistas corruptos, me parece mais um veneno mental que busca incutir na cabeça dos menos avisados que uma segregação resolverá o colóquio em questão, mas pelo contrário, incentiva o ódio, separa pessoas e esconde a incompetência de uma gestão fracassada.
Assim na política, não é vergonhoso nem desonroso o homem mudar de lado, quando essa mudança é justificada pelos anseios que fogem os delírios da paixão e vão de encontro com a razão, afinal, política não é futebol onde muitos optam por um time, e mesmo o time sem títulos por décadas, sofrem calados sem a coragem de mudar.
Porém diferentemente da política, não há prejuízo nas pessoas envolvidas. Não há declínio na segurança, na saúde, na educação, moradia etc., e por isso não se deve confundir estas duas searas.
Finalizo com o inconfundível Raul Seixas, que já dizia sabiamente: “Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Eu quero dizer, agora o oposto do que eu disse antes. Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Allan Werbertt de Miranda, 57, Psicólogo, servidor público, especialista em gestão e professor universitário.