O G20 foi criado em 1999 após uma série de crises financeiras que abalaram as economias dos países emergentes. O G20 reúne 20 importantes economias do mundo em um fórum de discussão para cooperação e coordenação de políticas econômicas a fim de promover mais estabilidade no sistema financeiro internacional. O G20 surge no vácuo deixado pelo fim do regime de Bretton Woods nos anos 1970, quando o FMI perdeu parte do seu papel de regulador das políticas macroeconômicas dos países passando a ter um papel mais de observação e monitoramento nesse sentido. Num primeiro momento, foi criado o G7 que reúne as 7 maiores economias do mundo, que naquele momento eram todos países europeus. Contudo, as crises financeiras dos anos 1990 mostraram que para a promoção efetiva da estabilidade da economia internacional era preciso a cooperação e a coordenação com importantes economias em desenvolvimento como o Brasil, a Índia, entre outros.
Até a crise financeira de 2008-2009, o G20 era um ambiente secundário de discussões sobre as finanças globais, sendo o G7 o principal fórum. A crise, porém, alterou essa dinâmica uma vez que sua origem foi na principal economia do mundo, os Estados Unidos, e afetou duramente outras economias desenvolvidas. Essa crise foi seguida pela crise da zona do Euro tendo impactos globais.
Países como China e Brasil foram marginalmente afetados por essa crise, sofrendo mais com as consequências da crise nos mercados centrais do que de forma direta por exposição aos títulos podres que desencadearam a crise nos EUA. Nesse cenário, os países em desenvolvimento tiveram uma atuação de grande importância na contenção dos efeitos da crise e na diminuição dos impactos de uma recessão global profunda. Políticas domésticas de estímulo à economia ajudaram a manter a demanda global elevada reduzindo os desdobramentos da crise financeira. Nesse cenário, destacou-se a atuação da China e seu massivo plano de estímulo econômico, ajudando a manter a demanda global elevada e estimulando a atividade econômica em outros países parceiros.
Desde então, o G20 passou a ter um maior protagonismo e as suas reuniões ganharam espaço nos holofotes internacionais. A consolidação da função do G20 mostra que os países emergentes hoje são considerados atores imprescindíveis para a manutenção da estabilidade econômica internacional. O G20 não é uma organização internacional formal, como a ONU ou o FMI, mas é um conjunto de reuniões anuais entre ministros e membros dos governos dos países membros que discutem temas de diversas áreas, mas principalmente sobre questões das finanças internacionais. Há, também, anualmente as reuniões de cúpula que reúnem os chefes de estado para aprovação de uma declaração conjunta final negociada ao longo do ano. A presidência do grupo é rotativa entre os membros e anual. Em 2024, o Brasil é quem está na presidência do G20.
A presidência brasileira do G20 tem sido um importante instrumento para o governo brasileiro retomar o protagonismo do país como emergente no cenário internacional. A presidência brasileira tem direcionado suas principais propostas de agenda para questões como o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. Nesse sentido, o Brasil propôs um projeto de tributação internacional com o objetivo de reduzir a desigualdade econômica e o pacto global contra a fome e a pobreza. Ambos os temas serão alvo central das discussões da cúpula de novembro. Além disso, em negociações no âmbito do G20, o Brasil conseguiu obter o apoio de importantes países do grupo, incluindo países desenvolvidos como os EUA até então resistentes, para a reforma da ONU e das organizações multilaterais que fazem parte do sistema ONU. Na abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, os países do G20 se manifestaram de forma uníssona em prol da reforma da organização e o CSONU com o objetivo de fortalecer a cooperação internacional e a efetividade da organização.
Há grandes expectativas para a declaração conjunta a ser anunciada em novembro. Durante o ano, os diferentes grupos de trabalho do G20 se reuniram em diversas ocasiões para avançar a discussão sobre temas específicos. Já foi entregue ao G20 a declaração final do T20 que reúne think tanks e centros de pesquisa dos diferentes membros do grupo com o objetivo de fortalecer a participação da sociedade civil, uma prioridade da presidência brasileira do grupo.
Por Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio
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