A inviabilidade comprovada

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Novamente, dias depois, volto ao tema de Belo Monte. A última postagem abordou a questão de erro técnico, estrutural na usina, o que pode comprometer a segurança da hidrelétrica que barrou o rio Xingu, sendo a obra mais cara já feita neste país, com o custo total na casa dos 50 bilhões de reais. Agora, para reafirmar a sua tão propagada inviabilidade técnica, a Norte Energia, concessionária que gerencia o empreendimento no rio Xingu, segundo matéria vinculada no jornal Estado de São Paulo, da última sexta-feira, 13, fez uma consulta formal à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pedindo autorização para mudar seu estatuto social e liberar a construção das termelétricas, que são mais caras e poluentes. 

Conforme já dito aqui em diversas ocasiões, a geração de energia firme sofre forte oscilação. A variação é enorme, e causada por um fator natural, a diferença de vazão do rio entre o inverno e verão amazônicos. Isso provoca, por exemplo, o desligamento por cinco meses da barragem principal. A usina tem capacidade de geração de 11,2 mil MW, mas por conta dessa oscilação, a média de geração fica em 4,5 MW por ano. Portanto, pode-se dizer que Belo Monte é uma usina subutilizada. O pior é que toda essa problemática era prevista, foi levantada nos estudos. Então, por que construir a usina nessas condições adversas? E ainda com erro de engenharia que poderá comprometer o funcionamento do empreendimento mais caro da história do Brasil. 

Com essa subutilização da capacidade de geração, a Norte Energia (que sabia desses problemas ainda na época da construção, fato que já era apontado por diversos críticos), agora quer complementar a geração de energia com a construção de termoelétricas. Segundo a advogada Biviany Rojas, do Instituto Socioambiental, a decisão de construir Belo Monte foi política, pois segundo ela,  os problemas de hoje não ocorrem por falta de informação e nem erro de cálculo. E complementa: “o rio Xingu nunca teve água suficiente para mexer todas as turbinas que foram instaladas”.

Há duas semanas a usina entrou 100% em operação com o funcionamento de sua 24ª e última turbina (18 grandes e seis menores, chamadas de complementares). No ato de inauguração estavam presentes diversas autoridades, dentre elas o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Pará, Helder Barbalho. A festa foi feita e os discursos bem elaborados, mas tudo isso de nada adianta com a atuação situação do empreendimento.

Se forem construídas usinas termoelétricas no caso de Belo Monte, será a assinatura de atestado de inviabilidade do empreendimento, fato sempre negado pela Norte Energia, apesar das evidências irrefutáveis dos – naquela época – futuros problemas. Termoelétricas são um modelo de geração de energia condenável por seu alto poder de poluição. Há anos tenta-se construir no município de Barcarena esse tipo de usina, mas até hoje os movimentos sociais e ambientais, assim como o Ministério Público, barram.

A questão não é não construir usinas hidrelétricas nos rios amazônicos. O potencial de geração de energia nos principais rios da bacia da região é algo indispensável, porém, precisa ser viável sob todos os aspectos. Belo Monte é um erro, do ponto de vista econômico, social e ambiental. Os problemas aqui apontados escancaram a sua inviabilidade, agora atestada com a solicitação da Norte Energia em construir usinas termoelétricas.

Pobre rio Xingu. Pagou caro pela ganância e decisão política sob algo inviável. 

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