PT: fim de um ciclo

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Em 1º de janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva, subia a rampa do Palácio do Planalto para ser o primeiro presidente operário de toda a história brasileira. Iniciava naquele momento um novo ciclo na política nacional com a chegada de um governo popular, situado à esquerda dentro do espectro político. O PT tinha claramente em seu projeto de poder, um longo caminho no governo central. No plano teórico seriam oito anos com Lula, depois o seu sucessor por mais oito (neste caso, depois de muitas baixas no primeiro escalão do governo e partido, surgiu Dilma Rousseff) e em seguida, Lula governaria por mais oito primaveras. Seriam 24 anos no poder, no mínimo. O maior tempo de um partido político no poder central.

Mas a história quis registrar os fatos por outros caminhos. Já em 2014, Dilma quase não conseguiu se reeleger, vencendo com diferença apertada o tucano Aécio Neves. Logo em seguida vieram as crises econômica e política, fragilizando o governo e o colocando no caminho do impeachment. Ontem (31) Dilma Rousseff foi afastada em definitivo. Foram 61 votos que encerraram  os 13 anos do ciclo de poder do Partido dos Trabalhadores. O PT já vinha gradativamente se desidratando e o impeachment de Dilma foi o tiro de misericórdia. O que fazer agora? Quais caminhos seguir? Qual postura tomar? Recomeçar? Se reinventar?

São indagações que o próprio PT possa está se fazendo, mas sem respostas. Elas não são fáceis, pelo contrário, requerem uma profunda análise. O que deu errado? Por que um partido que chegou a ter 80% de aprovação e o controle das massas, chegou a esse ponto de quase isolamento político?

Algumas indagações o PT deve saber responder. Elas são resultados de decisões e posturas que o próprio partido tomou desde quando chegou à presidência. Entre as mais evidentes estão o distanciamento da base, das ruas. O PT ficou mais próximo dos gabinetes, atendeu a interesses elitistas e aderiu ao jogo político de alianças. Tudo para se manter no poder. Foram decisões que possibilitaram avanços em algumas áreas e perdas em outras.

Conforme escrevi em outras oportunidades neste espaço, o Partido dos Trabalhadores  tornou-se refém das suas próprias conquistas. Promover só o acesso aos bens de consumo, talvez tenha sido um dos maiores erros. Essa grande conquista de distribuição de renda aliado ao aumento do consumo, sem formação política e aumento do nível educacional, de nada valem ou não causam o efeito desejado. Quem não tinha ou nunca teve acesso a esses bens, de início creditou ao PT, mas depois não mais. Queriam mais e o governo petista já não conseguia atender as expectativas de uma nova classe média, mais sedenta por avanços. Ou seja, o aumento de renda, possibilitou perda de votos ao partido.

Inegavelmente houve também o embate de classes. Uma linha dominante que nunca aceitou que os avanços sociais promovidos pelo PT ameaçasse sua hegemonia e seu projeto de poder. Parte da mídia fez o seu papel e promoveu ataques sistemáticos aos petistas, fazendo com o que o antipetismo virasse uma patologia social.  Parte do judiciário completou o processo.

Agora o PT precisa se reinventar. Debater uma ampla reformulação. Analisar os pontos que o levaram ao poder e os que o afastaram do mesmo. Pela sua história e força, o partido não irá desaparecer como muitos pregam, mas deverá – se nada for feito para reverter esse processo de antipetismo – se desidratar cada vez mais. Depois de 13 anos no poder, não há alternativas ao PT para além do lulismo que já foi mais forte do que nos dias atuais.

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