Harvard, Lattes e a mentira

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Escrevo de dentro de um ônibus, estacionado em cima de uma balsa ancorada na margem direita do rio Pará, esperando autorização para atracar no porto do Arapari, em Barcarena. A ociosidade, a ansiedade, além da inspiração da floresta, me fizeram escrever, pelo celular, este texto.

Em matéria vinculada ao jornal Diário do Pará, deste domingo, 26, produzida pela Folha de São Paulo sobre os currículos de autoridades públicas, dados estes que são divulgados na Plataforma Lattes e na rede social LinkedIn.

Em 2016, o RUF (Ranking Universitário Folha), que classifica as instituições superiores do país, resolveu estudar os dados informados nas duas citadas bases de quem possui diploma universitário no país. E o esperado foi confirmado: a maioria das informações postadas não eram verídicas. Ou seja, eram inventadas. E isso é perfeitamente possível. Tanto no Lattes, quanto no LinkedIn, que permitem ao usuário a inserção de informações livremente. Não é exigido a comprovação no ato da informação do conteúdo vinculado.

O debate veio à tona por conta de diversos casos de falsas informações. A matéria da Folha pega como base duas personalidades públicas brasileiras que afirmavam terem passagens acadêmicas pela Universidade Harvard (EUA), o que comprovou não ser verdade. E isso coloca em xeque o uso de informações sem verificação de currículos. A química premiada Joana D’arc e o atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) tiveram que excluir informações que constavam em seus currículos sobre ambos terem tido atividades na citada universidade americana.

A questão é centrada em apenas dois exemplos, de pessoas públicas, que tiveram suas informações verificadas, isso em um universo gigante. A questão é: quantos currículos que estão nessas plataformas são, de fato, reais?

Em uma sociedade de aparências, que propaga guerras de egos, sobretudo no mundo acadêmico e político, o que é real e ou o que seria fictício? Deixo aqui a reflexão e provocação deste domingo, produzida de dentro de um ônibus sob uma balsa ancorada, tendo Belém no horizonte. Culpa da floresta que me inspirou. Ao leitor peço antecipadamente desculpas pelo texto curto, mas não é fácil produzir pelo celular e com o ônibus balançando.

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