O Texto Apócrifo… Jânio… Collor… Bolsonaro… Renúncia e Impeachment

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O presidente Jair Bolsonaro divulgou na última sexta-feira (17), em grupos de WhatsApp, texto de “autor desconhecido”, que trata de pressões dos poderes e dificuldades de governar. Segundo o presidente, o texto é “no mínimo interessante” e “para quem se preocupa em se antecipar aos fatos, sua leitura é obrigatória”. Logo após a publicação, as redes sociais entraram em reboliço, pois ali havia uma mensagem política clara, e que estava relacionada ao atual governo. 

O texto relembra a famosa carta-renúncia entregue pelo ex-presidente Jânio Quadros, que renunciou ao mandato presidencial, sete meses depois de ter assumido. Como justificativa ao ato, afirmou à época que “forças ocultas” não o permitiam governar. Vamos ao texto e depois prosseguir a análise:

TEXTO APAVORANTE – LEITURA OBRIGATÓRIA

Alexandre Szn

Temos muito para agradecer a Bolsonaro.

Bastaram 5 meses de um governo atípico, “sem jeito” com o congresso e de comunicação amadora para nos mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o interesse dos eleitores. Sejam eles de esquerda ou de direita.

Desde a tal compra de votos para a reeleição, os conchavos para a privatização, o mensalão, o petrolão e o tal “presidencialismo de coalizão”, o Brasil é governado exclusivamente para atender aos interesses de corporações com acesso privilegiado ao orçamento público.

Não só políticos, mas servidores-sindicalistas, sindicalistas de toga e grupos empresariais bem posicionados nas teias de poder. Os verdadeiros donos do orçamento. As lagostas do STF e os espumantes com quatro prêmios internacionais são só a face gourmet do nosso absolutismo orçamentário.

Todos nós sabíamos disso, mas queríamos acreditar que era só um efeito de determinado governo corrupto ou cooptado. Na próxima eleição, tudo poderia mudar. Infelizmente não era isso, não era pontual. Bolsonaro provou que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável.

Descobrimos que não existe nenhum compromisso de campanha que pode ser cumprido sem que as corporações deem suas bênçãos. Sempre a contragosto.

Nem uma simples redução do número de ministérios pode ser feita. Corremos o risco de uma MP caducar e o Brasil ser OBRIGADO a ter 29 ministérios e voltar para a estrutura do Temer.

Isso é do interesse de quem? Qual é o propósito de o congresso ter que aprovar a estrutura do executivo, que é exclusivamente do interesse operacional deste último, além de ser promessa de campanha?

Querem, na verdade, é manter nichos de controle sobre o orçamento para indicar os ministros que vão permitir sangrar estes recursos para objetivos não republicanos. Historinha com mais de 500 anos por aqui.

Que poder, de fato, tem o presidente do Brasil? Até o momento, como todas as suas ações foram ou serão questionadas no congresso e na justiça, apostaria que o presidente não serve para NADA, exceto para organizar o governo no interesse das corporações. Fora isso, não governa.

Se não negocia com o congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política. O que resta, se 100% dos caminhos estão errados na visão dos “ana(lfabe)listas políticos”?

A continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil não quebre, apenas para continuarem mantendo seus privilégios.

O moribundo-Brasil será mantido vivo por aparelhos para que os privilegiados continuem mamando. É fato inegável. Está assim há 519 anos, morto, mas procriando. Foi assim, provavelmente continuará assim.

Antes de Bolsonaro vivíamos em um cativeiro, sequestrados pelas corporações, mas tínhamos a falsa impressão de que nossos representantes eleitos tinham efetivo poder de apresentar suas agendas.

Era falso, FHC foi reeleito prometendo segurar o dólar e soltou-o 2 meses depois, Lula foi eleito criticando a política de FHC e nomeou um presidente do Bank Boston, fez reforma da previdência e aumentou os juros, Dilma foi eleita criticando o neoliberalismo e indicou Joaquim Levy. Tudo para manter o cadáver procriando por múltiplos de 4 anos.

Agora, como a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente NENHUMA corporação (pelo jeito nem dos militares), o sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante.

Na hipótese mais provável, o governo será desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações. Que sempre venceram. Daremos adeus Moro, Mansueto e Guedes. Estão atrapalhando as corporações, não terão lugar por muito tempo.

Na pior hipótese ficamos ingovernáveis e os agentes econômicos, internos e externos, desistem do Brasil. Teremos um orçamento destruído, aumentando o desemprego, a inflação e com calotes generalizados. Perfeitamente plausível. Claramente possível.

A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível. É o Brasil sendo zerado, sem direito para ninguém e sem dinheiro para nada. Não se sabe como será reconstruído. Não é impossível, basta olhar para a Argentina e para a Venezuela. A economia destes países não é funcional. Podemos chegar lá, está longe de ser impossível.

Agradeçamos a Bolsonaro, pois em menos de 5 meses provou de forma inequívoca que o Brasil só é governável se atender o interesse das corporações. Nunca será governável para atender ao interesse dos eleitores. Quaisquer eleitores. Tenho certeza que esquerdistas não votaram em Dilma para Joaquim Levy ser indicado ministro. Foi o que aconteceu, pois precisavam manter o cadáver Brasil procriando. Sem controle do orçamento, as corporações morrem.

O Brasil está disfuncional. Como nunca antes. Bolsonaro não é culpado pela disfuncionalidade, pois não destruiu nada, aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou. Ele é só um óculos com grau certo, para vermos que o rei sempre esteve nu, e é horroroso.

Infelizmente o diagnóstico racional é claro: “Sell”.

Autor desconhecido.

A carta de teor bolsonarista é uma justificativa do que vem ocorrendo no governo nesses cinco meses incompletos. Ela supõe que não há como governar fora das corporações, e que o presidente é refém, além de que nada pode-se fazer, mesmo que se queira romper com tal formato.

Em comparação ao ex-presidente Fernando Collor, a jornalista Mônica Bergamo, na edição da última quarta-feira (20) da Folha de S.Paulo, informa que a crise que se instalou no Palácio do Planalto já faz com que parlamentares falem abertamente sobre a possibilidade de Jair Bolsonaro (PSL) não chegar até o fim do governo.

Nas conversas, inclusive com parlamentares do PSL, Bolsonaro é comparado ao ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PROS/AL), que venceu a eleição em 1989 com grande apoio popular, mas sofreu um processo de impeachment em 1992.

Dito isto, se reafirma novamente que a lógica do bolsonarismo é: “nós contra eles”; e não, por acaso, que o presidente produziu a narrativa em formato de ataque aos manifestantes que foram às ruas. Não existe por parte do governo (especialmente em sua ala ideológica) algum movimento na direção de agregar ou apaziguar quem os crítica. O modus Operandi é outro, é a do ataque ao inimigo permanente, este de diversas faces e formatos. A postagem do presidente seguiu uma lógica, a de ser propagar um dos pilares do bolsonarismo: ser anti-establishment.

O presidente vai renunciar? Acredito que não. Suas réplicas são direcionadas e tem método de ação, buscam – como já dito – provocar, manter o clima de confronto. Impeachment? Creio que para os próximos meses não há motivos. E nem se deve ser a favor. Como já dito por este blog inúmeras vezes, estão banalizando este instrumento democrático, e altamente traumático ao sistema político presidencialista, como presenciamos há três anos, no caso da ex-presidente Dilma Rousseff. 

 

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