Reunião Distópica

Enfim, o país conheceu o conteúdo da polêmica reunião ocorrida no dia 22 de abril, entre o presidente da República Jair Bolsonaro e seus ministros de Estado, além de alguns componentes do segundo escalão do governo. E tal encontro só tornou-se o centro, após ter sido citado pelo ex-ministro Sérgio Moro, por ocasião de sua saída do governo e apresentação de provas da acusação que fez contra o presidente de interferência na Polícia Federal.

Todo material foi analisado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ficando a seu cargo, a decisão de divulgar o conteúdo na integra, com cortes ou não torná-lo público. O decano da Suprema Corte resolveu divulgar na última sexta-feira, 22, o conteúdo com cortes nas partes que tratam ou fazem referência a países. Neste caso, China e Paraguai, nações foram citadas pelos presentes na reunião.

O que se viu ao ter acesso ao conteúdo, foi um show de horrores. Uma sequência de palavrões, termos de baixo calão, ataques e narrativas desvaneadas, que não encontram relação com a realidade. Novamente está claro que a ala ideológica do governo comanda. Nem os militares e muito menos a parte técnica dos ministérios, tem poder de decisão. E foi justamente a ala ideológica, a que alimenta o Bolsonarismo, que produziu uma sequência de narrativas desastrosas, a começar pelo próprio presidente.

Dentre tantas declarações polêmicas, regadas pelo preconceito, racismo e apologia à violência, a do ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi a mais incisiva e que causou maior polêmica, ao afirmar que por ele, parlamentares e ministros do STF deveriam ser presos. Mas não foi a mais grave. As falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles sob o ponto de vista administrativo e gerencial, foi gravíssimo, pois recomenda agilidade em “afrouxar” normas e leis, enfraquecendo, portanto, a defesa do meio ambiente, aproveitando que a mídia e o Legislativo estão todos voltados à cobertura da pandemia do novo coronavírus. No bojo das sandices, ainda tem o presidente cobrando mudanças na segurança, na liberação de armas.

A reunião escancarou que não existe respeito à liturgia do cargo por parte dos presentes. Que a institucionalização não tem importância. Que se prega – como já tratado neste Blog inúmeras vezes – um terraplanismo republicano, que a intenção de quem o defende através de um arranjo próprio, e a de desconsiderar a existência de outros poderes que não seja o Executivo.

O encontro mostra também que não há projetos ao país. Que muitos que estão nos ministérios não tem o devido preparo para assumirem tamanha responsabilidade. Estão porque se alinham a ideologia do presidente.

Mas, de fato, o tal vídeo seria a “bala de prata” de Moro contra Bolsonaro? Creio que não. O seu conteúdo – além de mostrar todo o despreparo da maioria dos presentes – não aponta narrativamente que o presidente queria interferir na Polícia Federal. Quando ele trata da questão da segurança, deixa no ar tal pretensão, mas ela não é falada, exporta verbalmente. Não há, por exemplo, a citação da instituição. O que está mais do que evidente é que, Bolsonaro não sabe os limites institucionais de nada. Não entende o que significa impessoalidade, independência dos poderes.

O que é mais desolador é saber que, na reunião, nenhuma decisão ou plano em relação ao combate à pandemia foi feito. Nada. Absolutamente nada. O então ministro da Saúde, Nelson Teich, ao falar, tratou do tema, mas ele não obteve ressonância alguma perante os seus pares. Pelo contrário, o presidente Jair Bolsonaro ao tratar indiretamente do problema, atacou governadores e prefeitos. Manteve a sua posição pelo fim do isolamento social.

O Brasil como já dito aqui, vive uma distopia total. Antes ela era fomentada na rua, por quem apoia o Bolsonarismo. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao cargo máximo do país, ela se institucionalizou. A reunião ministerial foi o maior exemplo disso. Talvez, ela não sirva as pretensões de Sérgio Moro no que diz respeito à criminalizar o presidente, mas mostra o nível de conhecimento que o governo se encontra. Como sempre digo: “melhor para o vírus”.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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