Rossi, a minha outra droga

Parece que o tempo de perdas chegou e será longo. Em janeiro do ano corrente, Carlos Heitor Cony, nos deixava. E por sua importância como referência de produção textual, este blogueiro, reservou espaço neste veículo para homenageá-lo, através da crônica: “Cony, a minha droga” (Leia Aqui) e infelizmente, faço novamente, mas agora ao saudoso Clóvis Rossi.

Me acostumei a ler a coluna de Rossi na Folha de São Paulo, a exemplo do citado Cony. Ambos eram referência na escrita, mas tinham as suas diferenças. Existia, por exemplo, um desconforme claro: Rossi escrevia religiosamente a Folha. Cony era irregular, ou seja, não havia uma regularidade, mesmo assim não deixava de ser brilhante. Clóvis era mais “rua”, mais reportagem, algo inclusive que o orgulhava. Rossi começou sua  carreira em 1963, um ano antes do golpe militar no Brasil, e trabalhou em jornais como O Estado de São PauloCorreio da Manhã e Jornal do Brasil. Escrevia na Folha desde 1980 e era membro de seu conselho editorial. Tornou-se uma referência da casa e da renovação jornalística que na época empreendia, destacando-se pelo trabalho como repórter de Política, enviado especial a todas as partes do mundo e correspondente na Argentina e na Espanha. A Folha recordou em seu obituário que, para ele, a melhor reportagem seria a seguinte. Mas tinha um orgulho especial pela cobertura que fez da transição espanhola —também é mítica sua cobertura em 2004 do ataque terrorista em Madri. 

Portanto, mesclava entre assuntos internos e externos dentro da sua esperada coluna na Folha de São Paulo. Era um mestre, e eu, começando a escrever, com produções sofríveis, me deliciava com aquela produção direta, sem rodeios e bem objetiva de Rossi.

Segundo matéria do El Pais (periódico que ele lia todos os dias e usava como base para as suas produções) Clóvis Rossi foi acima de tudo um mestre de jornalistas, uma referência constante a quem se dedica ou quer se dedicar a esta profissão. Em seu livro O Que é Jornalismo, obrigatório nas universidades, explica que de nada serve a melhor preparação se não vier acompanhada de um valor essencial: a honestidade. Argumentava que as condições precárias a que muitos jornalistas estão submetidos não são uma desculpa para renunciar à nossa responsabilidade. Porque o jornalismo, dizia, não é um ofício técnico, mas uma função social relevante. “O dever fundamental do jornalista não é para com seu empregador, mas com a sociedade. É para ela, e não para o patrão, que o jornalista escreve”, ensinava.

Rossi tinha 76 anos e morreu na madrugada desta sexta-feira (14) em sua casa. Estava se recuperando de um ataque cardíaco que teve uma semana antes, como ele mesmo revelou na quarta-feira em uma coluna intitulada “Boletim Médico”, em que justificava a sua ausência aos seus leitores e afirmava que estava “zerado”, pronto para recomeçar a escrever. O referido artigo seria o último de Rossi, a sua última produção.

A Clóvis Rossi deixo o meu agradecimento por ter me estimulado através de seus artigos a escrever. Mais uma perda. O Brasil fica menos inteligente. Aos jornalistas um arrasamento. Obrigado, chefe.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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