Não há dúvida que o mais novo problema de saúde do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ocasionado por uma obstrução intestinal, provocou a sua internação em São Paulo, depois de passar por exames em Brasília, foi o fato da semana, ofuscando até as denúncias de corrupção e desdobramentos da CPI da Pandemia. A enfermidade do presidente não precisou de intervenção cirúrgica, o que levaria mais tempo de recuperação, e, consequentemente, de afastamento do cargo.
Pelos boletins médicos atualizados o mandatário da nação logo teria alta, o que ocorreu ontem (18). O afastamento por motivo de saúde coincide com o seu pior momento na condição de presidente. Sua popularidade diminui a cada nova pesquisa. Inversamente proporcional a isso, o seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT), cresce a cada nova medição.
A história da política brasileira mostrou até aqui que o eleitorado sempre se comove, fica sentido, quando problemas de saúde acometem personalidades políticas. Não há como negar que o atentado que o então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora, mudou os rumos daquela eleição. Não foi só a facada que elegeu o atual presidente, mas ela, sem dúvida, o impulsionou nas pesquisas, ocasionando uma comoção geral, que o fez vencer.
E agora? A mais nova internação do presidente, terá o mesmo efeito relatado junto ao eleitor? As próximas pesquisas tendem a apresentar um cenário mais favorável a Bolsonaro, recuperando um pouco de sua popularidade?
Neste caso, a situação parece que não terá o efeito desejado pelo Palácio do Planalto. Basta acompanhar a repercussão do caso. Excluindo os apoiadores do presidente – que claro estarão sempre do seu lado, independente do que Bolsonaro faça -, todavia, a ampla maioria da população foi indiferente ao novo problema de saúde do chefe do Executivo. Nem parece que ele foi internado às pressas.
Isso tem um motivo: a forma de como Bolsonaro se comportou e ainda se comporta em relação aos 540 mil mortos nesta pandemia. A sua tratativa em relação à morte alheia é, sem dúvida, um ponto negativo na avaliação do público, e interfere na avaliação dos próprios problemas de saúde que o presidente tenha ou venha a ter.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) resumiu bem o presidente Jair Bolsonaro ao tocante (termo que o mandatário da nação adora usar, e uma das poucos que não é classificado como palavrão em seu escasso vocabulário) do assunto que se trata neste artigo. O parlamentar potiguar o denominou de “rufião da morte”. Alguém discordaria de tal termo?
Inegavelmente, a internação de Bolsonaro é usada politicamente, ao ser explorada por fotos, muitas delas em situação que visam causar comoção. Enquanto isso, o governo vive o seu pior momento. Desdenhar a morte alheia nunca é o melhor caminho.