No dia 11 de março o avião presidencial tocava o solo brasileiro, após quatro dias nos Estados Unidos, em que o presidente Jair Bolsonaro encontrou com o presidente americano Donald Trump, em Miami, no estado da Flórida.
A comitiva brasileira era numerosa e, do grupo, 25 pessoas testaram positivo ao novo coronavírus. Ou seja, o avião presidencial tornou-se – mesmo sem querer, é claro – uma bomba de proliferação do vírus no Brasil.
Dos 25 infectados, em qual proporção os mesmos tiveram contato com outras pessoas? Em que nível atingiu essa proliferação involuntária? A maioria só testou dias depois de estarem no Brasil, até pelo processo gradativo de manifestação dos sintomas.
Todos os que testaram positivo, estiveram ao lado do presidente. Bolsonaro até agora realizou dois testes, e ambos deram negativo. As dúvidas sobre o verdadeiro resultado do exame aumentaram depois que o Hospital das Forças Armadas (HFA), onde o presidente fez os exames, omitiu dois nomes da lista de contaminados. A unidade foi obrigada a revelar a lista após decisão da juíza da 4ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Raquel Soares Chiarelli.
Quem seriam esses dois nomes? Por que foram omitidos da lista de testagem positiva? Por que agora, a Presidência da República classificou como “sigilosos” os exames que Jair Bolsonaro fez para detectar se tinha sido infectado por coronavírus? O que se quer esconder?
O presidente Bolsonaro sempre relativiza a pandemia, mesmo com o número cada vez crescente de infectados (ainda que com testagem insuficiente e denúncias de subnotificações) e crescimento de óbitos (nas últimas 24 horas, dobrou o registro de pessoas que perderam a vida por conta de Covid-19), o que nos faz pensar que o citado possa ter sido infectado, e tenha sido tratado com cloroquina e/ou hidroxicloroquina (um derivado com as mesmas propriedades farmacológicas, mas menos efeitos tóxicos), tendo sido curado, sem ter apresentado maiores sintomas, ou mesmo ter sido assintomático.
Qual sentido em dizer que a Covid-19 é uma “gripizinha”? Relativizar seus sintomas e as medidas de isolamento social? Por que ter tanta certeza da ação de um medicamento e seu derivado, sem que sejam, de fato, comprovados cientificamente?
O que mais intriga quem tem bom senso é o segredo, o sigilo (agora institucionalizado) sobre os resultados dos exames do presidente. Se os dois testes feitos deram negativo para coronavírus, por que, então, não divulgá-los? Torná-los públicos, como fizeram e fazem diversas autoridades que estavam sob suspeita ou contraíram o vírus?
A questão é simples: caso os resultados (prova e contraprova) dos exames atestem positivos para Covid-19, será a prova cabal de que o presidente Jair Bolsonaro cometeu crime contra a saúde pública, por exemplo, ao cumprimentar pessoas em frente ao Palácio do Planalto, por ocasião do apoio de seus seguidores que foram às ruas no dia 15 de março. O presidente ignorou a orientação de ficar em isolamento enquanto refazia os testes para o coronavírus e cumprimentar seus apoiadores durante a manifestação pró-governo.
Para dar um basta ao mistério, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados aceitou o requerimento feito pelo deputado Rogério Correia e enviou à Secretaria-Geral da Presidência determinação expressa para que Bolsonaro apresente em 30 dias o resultado de seus testes de coronavírus. O não cumprimento pode levar à abertura de processo de impeachment. Se a Presidência não responder o pedido, vai desobedecer o artigo 50 da Constituição, que prevê crime de responsabilidade para autoridades do executivo que não prestarem informações solicitadas pela Câmara ou Senado
E agora, irá mostrar? Caso não mostre pode ser aberto o pedido de impeachement. E se o resultado divulgado testou positivo, cabe crime de responsabilidade. Se o resultado foi negativo, por que não mostrá-lo? Torná-lo público? Deixo a resposta a cargo dos bolsonaristas de plantão.