#TBT do Blog: Parauapebas e seus morros, uma relação insustentável

O ano era 2015, mais precisamente o mês de junho daquele ano, e o município de Parauapebas vivia um intenso processo de transformação urbana que tinha como objetivo prover a cidade de maior infraestrutura, sobretudo em relação às vias de tráfego urbano, mas concomitantemente a isso, o custo ambiental começava a ser elevado. Tal proposta intervencionista era uma das marcas da gestão do então prefeito Valmir Mariano (PSD). A pauta é importante, por isso está na sessão TBT do Blog nesta semana.

Pelas características topográficas, Parauapebas está no pé da serra dos Carajás, conjunto de elevações que formam recorte de relevo muito bonito de “linhas” em “sobe e desce” que engrandecem a paisagem e encantam quem a contempla. Desde a década de 1980, quando iniciou a exploração mineral dentro do PGC (Programa Grande Carajás) que a cidade de teve grande expansão urbana com a gigantesca onda de migrantes que aqui chegavam. Todo esse crescimento urbano teve que ir se adequando as dezenas de morros que compõe a paisagem natural da cidade.

Ruas, projetos e a própria expansão populacional estavam se ‘contorcendo’, para continuar o crescimento horizontal urbano entre essas elevações naturais. A partir do final dos anos de 1990, na virada do milênio, com a pressão ainda maior populacional, que naquele momento ‘explodia’ em Parauapebas, os morros que, a princípio seriam ‘a cereja do bolo’, o charme da cidade, começaram a ser entraves ao desenvolvimento urbano. Nessa lógica expansionista, essas elevações começaram a ser exploradas de forma desordenada, com construções habitacionais irregulares, sem planejamento, colocando em risco a vida de pessoas que não tinham onde morar, mas por falta de opção e condições financeiras, passaram a construir suas residências nesses locais.

O próprio poder público, incluindo vários governos, especialmente os de Darci Lermen (PT) e o atual de Valmir Mariano (PSD), construíram obras (praças, conjuntos habitacionais e sistema de abastecimento de água e esgoto) no topo desses morros. Em outros casos, algumas elevações foram derrubadas sem cerimônias ou entraves de controle ambiental. A opinião pública local, no geral, sempre assistiu o processo sem maiores questionamentos.

Recentemente em minhas andanças por bairros mais afastados do centro, localidades na divisa do urbano e rural, me defrontei com a queima da cobertura vegetal em diversos morros. Verdadeiro crime ambiental, realizado a luz do dia, sem receio de multa ou ação por parte do poder público. Aliás, os órgãos de fiscalização, como a Sema (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) parece ser mera formalidade legal e institucional, em Parauapebas. Não há ação efetiva ou mobilização para controlar esses desmandos ambientais. Parece que na “Capital do Minério”, tudo pode, tudo se faz.

A derrubada dos morros que contornam a cidade, a construção de equipamentos urbanos nos mesmos ou a simples retirada da cobertura vegetal dessas elevações naturais estão causando o aumento da temperatura média em Parauapebas. A sensação térmica vem gradativamente subindo, incomodando os seus habitantes. Comparavelmente com anos atrás, vivemos em uma cidade com menos cobertura vegetal em sua área urbana, o que naturalmente tornar o calor mais latente, o que nos da Geografia chamamos de ‘ilhas de calor’.

Como mudar essa realidade? A falta de responsabilidade ambiental e a falta de ações sustentáveis da sociedade tornam a mudança do cenário mais difícil e lento. Ou talvez sem retorno. O Poder Público Municipal se mostra incapaz de mudar essa realidade ambiental perversa. Não há – pelo menos na prática – ações de controle e ocupação do solo ou o zoneamento da cidade, que cresce de forma assustadora, mesmo em época de crise econômica, tornou-se, infelizmente, uma simples peça obrigatório do Estatuto das Cidades.

O crescimento urbano descontrolado pressiona as áreas mais “verdes”, geralmente nessas elevações topograficas, que chamamos de morros. Isso sem falar no início do período de queimadas, que consomem essas estruturas geológicas e tornam o ar parauapebense irrespirável. Até quando?”

Imagem: reprodução Internet.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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