Na semana passada, o governador Helder Barbalho (MDB) esteve em Marabá para assinar de contratos para a implantação do projeto TecnoRed, da mineradora Vale. O empreendimento será uma usina com capacidade de produzir até 500 mil toneladas de ferro gusa. O investimento passará de 1,6 bilhão de reais até 2025, quando entrará em operação.
A matéria produzida pela Agência Pará, do Governo do Pará, disse que o projeto será implantado no Distrito Industrial do município, e produzirá ferro gusa com baixa emissão de carbono (gusa verde), com a projeção de geração em sua fase de implantação, 2,6 mil empregos diretos e indiretos e 400 postos de trabalho na fase operacional. Ao longo de toda a sua vida útil, o projeto tem expectativa de gerar R$ 15,2 milhões em salários por ano e R$ 350 milhões em exportações anualmente.
De acordo com a empresa, a iniciativa conta com uma tecnologia inovadora que permitirá a produção de ferro-gusa (usado na fabricação do aço) a partir da substituição de combustível fóssil por biomassa, reduzindo significativamente as emissões de carbono. Desenvolvida ao longo dos últimos 35 anos, a tecnologia permite, ainda, a eliminação de etapas anteriores à produção do aço na usina siderúrgica, proporcionando a redução na emissão de gases do efeito estufa.
Ao ser ler a propaganda da gestão estadual sobre o assunto, se tem a sensação de que o Pará terá um mega empreendimento, e que, finalmente, terá a tão sonhada verticalização da cadeia mineral. De fato, ela ocorrerá, com o adicional de ser mais limpa, menos poluente. O uso de tecnologia inovadora permitirá a produção de ferro-gusa, para a fabricação de aço, substituindo o combustível fóssil por biomassa. Tudo muito lindo, todavia, o projeto em questão mascara um outro maior e que a mineradora Vale finge que nunca se comprometeu: ALPA (Aços e Laminados do Pará).
Vamos relembrar… (síntese de um artigo escrito por este que vos escreve, em 2015)
Em 2008, o governo federal e estadual do Pará, anunciavam que estava “fechado” o acordo para a implementação de um dos maiores projetos que o estado do Pará já havia recebido: a construção de uma gigantesca siderúrgica, que seria localizada em Marabá, a ALPA (Aços e Laminados do Pará), que teria a função de produzir aço, implementando a tão sonhada verticalização da cadeia do ferro.
O referido projeto nasceu de uma grande disputa nos bastidores. O então presidente Lula e a ex-governadora Ana Júlia Carepa, ambos do PT, cobravam da mineradora Vale a implementação de uma planta industrial no Pará que verticaliza-se a produção do ferro, agregando valor ao produto. Meses e meses de negociações entre os referidos governos e a empresa, chegou-se a um acordo. A Alpa seria uma realidade, construída em Marabá, ao custo de 5 bilhões de reais (valores da época).
Terreno foi concedido pelo governo do Estado à mineradora, que construiria naquele lugar a siderúrgica. As primeiras expectativas indicavam que a obra seria inaugurada em 2010, ainda nos governos que negociaram a sua construção. A hidrovia Araguaia-Tocantins seria a contrapartida do governo federal para criar o “corredor” de escoamento da produção da siderúrgica. Anos se passaram, houve troca de comando na presidência da mineradora, mudanças nos governos federal e estadual (no Pará, à época com o retorno do PSDB ao Palácio dos Despachos) e nem os poderes públicos citados e nem a empresa cumpriram as promessas. Alpa alimentou e ainda alimenta o sonho das pessoas que residem no sul e sudeste paraense, especialmente os habitantes de Marabá que viam na obra, a esperança de dinamizar a economia daquele município e de toda a região.
Alpa era muito mais do que mais um projeto de muitos já implementados na Amazônia. Seria se tivesse sido implementado, a quebra da lógica perversa do modelo de desenvolvimento pensado e imposto na Amazônia desde a década de 1980. A tão sonhada e esperada verticalização mineral ficará – mais uma vez – na retórica? Até quando continuaremos a exportar minério em seu estado bruto, sem agregar valor, penalizados pela Lei Kandir? Até quando iremos manter o modelo de desenvolvimento colonial que concentra riqueza e deixa gigantesco lastro de pobreza por onde passa?
Agora, doze anos depois, a mineradora Vale fecha em parceria com o governo do Pará um novo projeto, uma “Alpinha”, mas com o discurso de ser muito mais sustentável. Após a festa, os confetes, quem perdeu foi o Pará que terá um projeto muito menor, como compensação. Ficamos novamente com as migalhas da Vale.
Imagem: Blog Zé Dudu.