Uma das torres caiu

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Tomei de empréstimo a analogia das antigas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, ambas derrubadas em ataques terroristas sincronizados, no dia 11 de setembro de 2001, para associar com a saída do agora ex-ministro Sérgio Moro do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro foi eleito com a promessa de acabar com a corrupção, instaurar uma nova política. Para isso, convidou logo após vencer a eleição, o juiz Sérgio Moro para ser o seu ministro da Justiça, algo que já era cogitado por seus apoiadores mesmo no período de campanha, como uma forma de atrair mais votos.

Moro, portanto, ao aceitar o convite, renunciou a magistratura, pedindo exoneração do cargo que ocupava, o de juiz federal titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava Jato em 1º grau. Foi dessa forma que Moro ficou conhecido nacionalmente, tornando-se uma celebridade ao prender figuras importantes do cenário político, como o ex-presidente Lula, que tornou-se o seu troféu. Escrevi aqui, neste Blog, diversos artigos críticos ao agora ex-ministro. Não sou especialista em Direito, mas procurei profissionais da área para saber sobre alguns procedimentos feitos por Moro. Mas essa questão, a priori, não cabe neste momento.

Moro assumiu como ministro, sendo ele ao lado de Paulo Guedes, os chamados de “Duas Torres” (WTC) do governo. Os superministros. Há tempo venho tratando da relação de Bolsonaro com Moro. Estava claro que a união de ambos não seria longa. O maior adversário do presidente não era a imprensa, o PT, comunistas, esquerdistas, etc. O maior adversário que Bolsonaro teria pela frente (tendo que resolver a questão) atendia pelo nome de Sérgio Moro. E por quê? Justamente porque o então ministro era mais popular do que o presidente e carregava um simbolo muito precioso a maioria dos brasileiros: combate à corrupção. Algo que Bolsonaro não consegue ter em torno de si.

Como já havia dito em outras oportunidades, Sérgio Moro mesmo exercendo a magistratura, era político. Agiu assim, mesmo quando os limites da atuação enquanto juiz dizia o contrário. Por isso, não pensou duas vezes (mesmo impondo condicionantes para aceitar o cargo, como citou em seu pronunciamento de despedida) em concordar ser ministro, mesmo sabendo que perderia todas as regalias e estabilidade que o juízo lhe garantia. Fez uma aposta. Ela durou 14 meses. Tempo com certeza menor do que esperava.

Em minhas análises, o futuro de Moro se apresentava – a depender é claro do presidente da República, a quem era subordinado –  em três direções: a primeira, poderia lhe levar a ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, por ocasião da vacância proporcionada pela aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello, o decano daquela corte; segundo: ser convidado a ser vice na chapa de Jair Bolsonaro, em 2022 e por último, e que acabou por se concretizar foi a ruptura entre os dois.

Moro é político e aceitou o cargo de ministro para poder exercer a política (e não como antes em que a exercia de forma “leve”, operacionalizando nos bastidores e não de frente). A vaga na Suprema Corte, que cogitava-se que seria o seu “prêmio” por sua atuação tanto quanto parcial na condução da Lava Jato, não era e nunca foi o seu objetivo.

Iria sair do governo, talvez não agora. Mas soube sair. Seu pronunciamento de hoje mostra o perfil político que carrega. Falou de Covid-19, relatou a sua biografia, seus feitos enquanto ministro. Falou de Lula, o seu troféu que o impulsionou mais ainda a sua popularidade.  Depois de se “vender”, partiu para a segunda parte, esta justificando a sua saída. Começou afirmando que a interferência do Executivo nos trabalhos investigativos (tratando da postura do presidente Jair Bolsonaro). Deixou claro que as trocas na Polícia Federal foram pedidas pelo mandatário da nação, e que atendiam os interesses políticos e pessoais deste. Esse fato é grave e deverá mover a oposição contra o presidente.

Moro deixou claro que ao aceitar o cargo, Bolsonaro havia lhe prometido “carta branca”, ou seja, total liberdade em nomear e decidir o que fazer em sua pasta. O presidente sempre colocou pressão sob Moro. Tanto que sugeriu que fosse nomeado alguém no comando da PF, que possibilitasse a ele ligar, acessar relatórios e a informações sigilosas. O medo do presidente é os inquéritos que estão no STF, e que tratam das Fake News, em que o seu filho, Carlos, estaria com a corda no pescoço. Bolsonaro reclamava que Moro fazia pouca coisa em questões de interesse do presidente e de sua família.

A saída de Moro fará grande estrago na base política do governo e em seu apoio social. Os bolsonaristas mais moderados, se alinhavam mais ao ex-ministro do que ao presidente. Esse grupo (volumoso) deverá se descolar o governo. Ficará junto ao presidente os 30% bolsonaristas que são raiz, que, independente do que o presidente faça, estarão com ele. A questão que só esse grupo não segura o governo.

Bolsonaro – segundo Moro – voltou a cometer crime de responsabilidade. Até a produção deste artigo, 18 processos de impeachment contra o presidente já deram entrada na Câmara. Cabe ao presidente Rodrigo Maia aceitá-los ou não. O impacto político causado pela saída de Moro ainda é incalculável. Mais uma crise gerada pelo presidente Bolsonaro, aquele como disse recente, é um gerador de crise.

Moro ao sair deixá-se livre. Deixou claro que é um presidenciável desde já. O embate está posto entre os dois, caso Bolsonaro chegue até 2022. Moro candidato, pior para João Dória e Luciano Huck.

Daqui a pouco, o presidente fará o seu pronunciamento. Conseguirá diminuir o estrago feito pelo seu ex-ministro? Irá para o embate? Uma das duas torres caiu. Só falta a outra, que atende por Paulo Guedes. A ver.

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