A banalização do AI-5. A Democracia em xeque

Em 1968, no governo do general Costa e Silva, o segundo, após Castelo Branco, editava o Ato Institucional número cinco, o mais rígido até então de todos. A determinação era claramente cecear os direitos individuais que constavam e eram garantidos pelo Constituição da época. O AI-5 é entendido como o marco que inaugurou o período mais sombrio da ditadura e que concluiu uma transição que instaurou de fato um período ditatorial no Brasil.

O ato contava com doze artigos e trazia mudanças radicais para o Brasil. Por meio desse decreto, foi proibida a garantia de habeas corpus em casos de crimes políticos. Também decretou o fechamento do Congresso Nacional, pela primeira vez desde 1937, e autorizava o presidente a decretar estado de sítio por tempo indeterminado, demitir pessoas do serviço público, cassar mandatos, confiscar bens privados e intervir em todos os estados e municípios.

Por meio do AI-5, a Ditadura Militar iniciou o seu período mais rígido, e a censura aos meios de comunicação e a tortura como prática dos agentes do governo consolidaram-se como ações comuns da Ditadura Militar. O Estado de exceção entrava em outro momento, outro nível, agora prezando pela rigidez e controle social. Crescia naquele momento resistências ao regime, e era preciso tomar medidas. Sem garantias, torturava-se, matava-se e cometia as mais duras atrocidades.

Hoje, 51 anos depois, o AI-5 torna-se algo popular, falado a todo momento, como um simples acaso histórico. Sem, por exemplo, debatê-lo. presenta-se hoje não como forma de consciência coletiva para evitá-lo, deixá-lo na história, mas, por conta de algumas narrativas vindas de componentes do governo – que inclui o presidente – de reativa-lo, caso seja necessário. Foi assim com Eduardo, filho do presidente, o próprio mandatário e agora com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

A ressonância dessas narrativas tomam as ruas e recebem apoiadores, adeptos. Quem não estudou ou não faz questão de conhecer o que foi o AI-5 e suas consequências, as apoia, pois erroneamente, percebe como algo necessário, como medida, por exemplo, para garantir e manter a ordem. E assim, o banalizam. A ação mais perversa dos 21 anos de ditadura militar no Brasil, passa a ser para alguns, uma medida outrora necessária, sendo assim, justificada, e que pode ser reeditada.

Isso reflete, infelizmente, a nossa falência educacional. A ditadura e suas atrocidades não foram bem trabalhadas nas escolas; as gerações seguintes não a reconhecem como foi de fato. Culpa, de certa forma dos professores. Deveriam ter ido além, mesmo que a matriz curricular desse menos importância a esse período histórico. A Ditadura Militar, em termos de abordagem didática, tornou-se um capítulo como outros tantos de nossa história. Diferente de muitas partes do mundo, em que se estuda, até de forma obrigatória, a fundo, atrocidades, para que as gerações seguintes possam não cometer os mesmos erros do passado, neste caso, cito o Nazismo na Alemanha, mas há outros casos.

O governo banaliza o AI-5, e o faz de forma pensada, analisada, provocativa, buscando analisar a ressonância da própria narrativa. Isso compõe, como disse, o modus operandi do Bolsonarismo, chancelada por sua ala ideológica. O próprio guro, o terraplanista Olavo de Carvalho, já recomendou medidas ditatoriais, aos moldes do AI-5 ao presidente Jair Bolsonaro, para evitar a queda de seu governo. O Bolsonarismo segue em sua narrativa, a testa a todo momento. A estratégia avança.

#veja mais

Inadimplência bate novo recorde e atinge 66,6 milhões de brasileiros

Dados do Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor revelam que, em maio, o Brasil bateu o recorde com 66,6 milhões de inadimplentes, o maior

Eleições 2022: festa da democracia no Hangar

Após sair das últimas eleições como o candidato ao cargo de governador com o maior percentual de votos em todo o País, e como o

Eleições 2022: ou vai ou racha

Manoel Carlos Antunes um mineiro, que chegou ao Pará no final da década de 1970, fixando residência no município de Ananindeua, que naquele período não

Quem segura Jeannot Jansen?

O Pará chegou a nível de insegurança insuportável, ostentando números que sustentam estatísticas tenebrosas. E neste cenário de terror, a situação só piora a cada

MPPA recomenda ao Estado e a Prefeitura de Belém que decretem Lockdown

O Ministério Público do Estado do Pará, por meio da 3ª Promotoria de Justiça de Direitos Constitucionais Fundamentais e dos Direitos Humanos, com atribuição para

ORM “paz e amor”?

Na semana passada o blog abordou a questão da guerra familiar que ocorre no interior do maior grupo de comunicação do Pará, as Organizações Rômulo