A necessidade de guerra

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Escrevi anteontem, 04, em minha conta no Twitter, que antes que se faça qualquer análise sobre o ataque americano, ordenado pelo presidente Donald Trump contra um comboio de veículos que estava saindo do aeroporto de Bagdá, capital do Iraque, e nele estava Qasem Soleimani, o chefe da Guarda Revolucionária iraniana, considerado por muitos o segundo homem mais importante do país, depois de Ali Khamenei, o líder supremo, se faz necessário entender os motivos políticos e até econômicos de tal ação.

O ataque ocorreu com a palavra final de Trump. E ele tem método. Vamos aos fatos: em matéria vinculada no portal UOL, em 2018, o jornalista Rafael Salido, trata do tema. Segundo ele: “A indústria armamentista dos Estados Unidos vive um novo auge, refletido no aumento de cerca de 25% nas vendas de material militar, um crescimento ocasionado devido à escalada de conflitos no mundo e também pela política do presidente do país, Donald Trump, de fomentar a economia americana”, e segue: “De qualquer forma, o que está claro é que Trump viu na indústria armamentista uma solução para enfrentar um dos grandes desafios de sua presidência: reduzir um déficit comercial que neste ano foi de US$ 50,5 bilhões”.

Salido em sua matéria volta-se mais à análise do fator exportação, ou seja, a venda de arsenais bélicos americanos aos países aliados, e claro, armando-os contra inimigos da Casa Branca. Na história americana, fatos exógenos servem para resolver casos endógenos, portanto, domésticos; e isso ocorre independente de qual partido esteja no poder (Democratas ou Republicanos). Trump enfrenta impeachment, este já aceito pela Câmara (maioria Democrata), e que agora chegará ao Senado (maioria Republicana). Dificilmente o presidente será afastado do cargo, mas tal processo desgasta a sua imagem às vésperas de uma disputa eleitoral.

Não precisa ir muito a fundo na história para perceber que, ex-presidentes – novamente independente de partidos – criam fatos, geralmente militares para impulsionar as suas avaliações internas. Até Barack Obama se utilizou de tal procedimento ao manter sete guerras ao redor do mundo e ter ordenado a captura e morte de Osama Bin Laden.

Talvez, o assassinato de Soleimani tenha sido uma decisão errada, desproporcional de Trump. O fato não proporcionará uma guerra direta entre Estados Unidos e Irã, mas despertará no país persa uma onda ainda maior de ataques a alvos americanos ao redor do mundo. A figura do ex-comandante era  muito emblemática no país. Por isso, causou comoção nos iranianos e os convocou para um levante contra os americanos e seus aliados. O ataque levantou outra questão: o desrespeito à soberania iraquiana. A ação não teve a autorização do governo de Bagdá, o que causou revolta naquele país em relação ao processo de ocupação americana. São cinco mil soldados norte-americanos que ainda estão no Iraque.

Enquanto escrevia esse artigo, o parlamento iraquiano aprovou a remoção das tropas dos EUA do país. Um duro golpe a Trump e a primeira vitória iraniana após a morte de seu general. Desde 2003 que os Estados Unidos ocupam o Iraque, e de lá ficam de olho no país vizinho, o Irã. Resta saber se, de fato, a decisão – de saída – será cumprida por Washington?

Um fato altamente relevante foi o alteamento de uma bandeira vermelha, que na tradição xiita, simboliza o sangue derramado injustamente e servem como um chamado para vingar uma pessoa que é morta. É a primeira vez na história que a bandeira vermelha é hasteada no topo da mesquita de Jamkaran, na cidade iraniana, e vem após avisos de duras retaliações contra os EUA.

A decisão de matar Soleimani foi um erro de Trump, que com ele criará um nível de tensão perigoso na já complicada relação do citado país com os Estados Unidos e, de quebra, proporcionará desdobramentos político e econômico incertos. Ainda é cedo para diagnósticos mais precisos, mas a máquina de guerra americana foi colocada novamente em funcionamento, desta vez diretamente.

Mais uma guerra a caminho, com coincidência de ser – como sempre – em ano de disputa presidencial americana. Em guerra, democratas e republicanos não se diferem, são siameses. Quem paga a conta é o resto do mundo.

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