A ressignificação da Seleção Brasileira?

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Indiscutivelmente, a seleção brasileira de futebol é a melhor do mundo por sua história de conquistas, a única que venceu cinco vezes uma Copa do Mundo. Por outro lado, é evidente que o seu prestígio nunca esteve tão baixo. O escrete canarinho não empolga, não atrai torcida como antes. O desinteresse é geral.

A sensação que se tem é que o torcedor cansou de tantos escândalos de corrução na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que associa ao futebol. Além disso, as sucessivas exibições cada vez mais irregulares, fazem aumentar o desinteresse. A Copa de 2010, realizada na África do Sul, oportunidade em que a seleção brasileira perdeu para a Holanda por 2 a 1, por duas falhas individuais de marcação, é um exemplo.

Quatro anos depois, deveria ter sido a redenção para a seleção canarinha, pois a Copa do Mundo estava sendo realizada no Brasil; oportunidade de afastar de vez o que aconteceu no Maracanã, em 1950, ocasião em que o Brasil perdeu na final para o Uruguai, no Maracanã, e resgatar a imagem do escrete canarinho. Porém, a situação foi vexatória. Perdemos de 7×1 para a Alemanha, a maior goleada sofrida pela seleção brasileira em Copa do Mundo. O placar poderia ter sido mais elástico, se os alemães não tivessem “tirado o pé” como foi confessado publicamente por eles.

A Copa da Rússia, em 2018, foi mais uma oportunidade de buscar o tão almejado hexa. Novamente não veio. Brasil perdeu para a Bélgica nas quartas de final. No citado ano, a seleção brasileira já vivia algo estranho, o uniforme amarelo, era visto como instrumento político em manifestações, enfrentando forte rejeição após escândalos de corrupção que abateram o país e a CBF. Usar a “amarelinha” passou a ser associado ao bolsonarismo, ao dito “cidadão de bem”. Muitos torcedores perderam o interesse em usar o uniforme número um, passaram a usar o segundo (azul), terceiro, de treino ou outros modelos.

Sou da época em que dia de jogo da seleção brasileira tudo parava na hora da partida. As pessoas se organizavam para assistir. Nos últimos anos o interesse despencou. A seleção perdeu a importância para a maioria dos torcedores que preferem assistir outra programação.

O mais novo capítulo desse cenário de crise é o aceite por parte da Presidência da CBF de realizar a Copa América no Brasil, depois do torneio – cada vez mais desprestigiado – ser preterido por Colômbia e Argentina, por questões sanitárias. O aceite da Confederação Brasileira de Futebol foi feito sem reunir com comissão técnica, jogadores; fez para atender claramente um pedido desejo do governo Bolsonaro.

Diversos governadores afirmaram que não aceitariam jogos em seus estados. Jogadores da seleção que estão reunidos para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, se rebelaram, com apoio do técnico Tite. O clima pesou nos bastidores da CBF. O governo Bolsonaro quer de todas as formas que o tornou sul-americano seja realizado no Brasil. Informações dão conta que o técnico Tite deverá ser demitido após o jogo contra o Paraguai, caso não seja, deverá pedir demissão. Os jogadores, sobretudo, os que atuam na Europa, não querem jogar o torneio. O agora presidente afastado Rogério Caboclo (decisão de afastamento publicado no momento em que esse artigo estava sendo escrito) cogitou demitir Tite e contratar Renato Gaúcho, que foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro.

A questão é: os jogadores irão se rebelar e decidir não jogar o citado torneio? Se isso ocorrer, a CBF irá desconvocar todos os atletas e convocar outros? Irá puni-los? O Palácio do Planalto irá interferir politicamente na CBF?

O Estatuto da Fifa, em seu artigo 14 e 19, dispõe sobre a independência e autonomia de suas federações em atuar e tomar decisões sem nenhuma interferência de terceiros em seus assuntos internos. Caso o governo brasileiro interfira diretamente na CBF, a seleção brasileira poderá até ficar de fora do Mundial no Qatar.

De toda forma, a resistência dos jogadores e comissão técnica em disputar um torneio que não faz sentido existir neste momento, podendo ser adiado como ocorreu com a Olimpíada e a Eurocopa e até nem ser realizado. Ainda mais no Brasil que vive a expectativa de uma “terceira onda” e mantém um ritmo de vacinação muito devagar.

O levante que está ocorrendo na seleção brasileira poderá ressignificar a camisa, o time, a história mais vitoriosa entre todas as seleções do mundo. Reaproximar os jogadores dos fãs, e recuperar o respeito de admiração que outrora se tinha. Ou todo o movimento será estancado? Amanhã, 08, será um dia decisivo. A ver.

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