Neste Blog há diversos artigos que tratam do governo do presidente Jair Bolsonaro. E neste acervo há análises em diversos sentidos sobre o processo de montagem e inicio da atual gestão federal. Da mesma forma, foi dissecado as diferentes alas que operam a União. E elas foram divididas em: ideológica, militar e técnica; formando, portanto, um tripé de sustentação.
Nesse percusso que já dura pouco mais de um ano, alguns erros analíticos ocorreram (e os assumo aqui, sem problema). Como exemplo, cito o prognóstico em que afirmei que a ala militar iria se sobrepor as demais, podendo, quem sabe, “enquadrar” o presidente. Logo nas primeiras semanas de 2019, esse prognóstico havia se desfeito, pois os militares que assumiram cargos no governo – alguns como ministro de Estado – todos, sem exceção, foram enquadrados pelo presidente. Até os que eram reconhecidos como “durões” sucumbiram ao mando presidencial; estabelecendo, portanto, total supremacia da ala ideológica sobre as demais citadas.
No início da gestão, tal grupo (o ideológico) foi montado e seguia os direcionamentos de Olavo de Carvalho, chamado de guru pelo clã Bolsonaro, e que ainda é referendado desta forma por membros do alto escalão do governo. Depois de algumas indisposições, Olavo se afastou, deixando publicamente de ter maior influência em decisões ou em até indicações, como os gestores das pastas da Cultura e Educação. Mas ainda a distância e com menor frequência, Carvalho opina sobre diversas questões do governo, e tem influência.
Como já dito aqui, Jair Bolsonaro se elegeu presidente com a promessa de combater o comunismo, a ideologia esquerdista e criar uma agenda de costumes pautada na família. O que de fato ocorre é que o governo combate ideologia com mais ideologia. A agenda de costumes parece ser mais importante, por exemplo, que a geração de emprego e renda e o combate à inflação. Por isso, a supremacia da ala ideológica frente a outras.
Mas apesar de tudo, há bons nomes técnicos na gestão, infelizmente esta subordinada a ala ideológica, ligada restritamente ao gabinete presidencial. Isso explica, por exemplo, o porque diversos gestores (de competência técnica duvidosa ou sem comprovação) estão à frente de pastas importantes. O currículo e experiência gerencial que deveriam nortear contratações para operar a máquina pública, são colocados de lado em detrimento à proximidade ideológica. O caso do agora ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, é apenas um exemplo da supremacia ideológica que impera no governo. Outro exemplo, mas que não será abordado em profundidade neste artigo – e sim em outro específico – é a pasta da Educação.
A agenda de costumes e o cerco à produção cultural têm, ambos, método. Impor o Estado como regulador da Cultura é uma forma de controle social. Como é sabido, na democracia, o Estado fomenta a produção cultural – em suas diversas vertentes -, mas não cabe a ele definir qual será produzida, qual a melhor. No modus operandi do bolsonarismo, a supremacia ideológica é o motor, é quem conduz. Nada é por acaso, há método.