A tragédia anunciada completa sete anos

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Passava das 16 horas quando um barulho ensurdecedor interrompeu, em 5 de novembro, a tranquila rotina do distrito de Bento Rodrigues, na cidade mineira de Mariana. Seguiu-se, então, uma nuvem de poeira e o revoar dos pássaros. Os moradores do vilarejo perceberam ali que havia algo errado. Em questão de minutos, gritos e buzinas tomaram as ruas: a onda de lama se aproximava. Só havia tempo para correr. O rompimento da barragem liberou 39 milhões de metros cúbicos de rejeitos.

Isso foi em 2015, sendo considerado o maior desastre ambiental da história do país. Sete anos depois, como esperado, os culpados não responderam criminalmente; as reparações e indenizações não foram pagas em sua totalidade e diversas ações se arrastam pelos procedimentos jurídicos que retardam o andamento dos processos, ação protagonizada pela empresa Samarco, uma subsidiaria da Vale, responsabilizada pela tragédia.

Quatro meses após a tragédia citada, em março de 2016, a Samarco, suas acionistas Vale e BHP Billiton, a União e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo assinaram um acordo que ficou conhecido como Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC). Ele estabeleceu 42 programas. A indenização é tratada em um deles, mas há outros que abordam, por exemplo, os processos de reflorestamento, a melhoria da qualidade da água e a reconstrução das comunidades que foram destruídas. Conforme previsto no acordo, para administrar todos esses programas, foi criada a Fundação Renova. Ela deve ser mantida com recursos das três mineradoras, mas deve ter autonomia em relação a elas.

Foi criada uma fundação para tratar da situação, a Renova, que ficou responsável por gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão. A Vale é uma das empresas mantenedoras. Em seu site, a Renova afirma que o diálogo com as comunidades norteia as suas ações que buscam compensar, de forma eficiente e transparente, o que não é passível de remediação. Recuperar a bacia hídrica, reassentar os moradores e indenizar todas as famílias que sofreram perdas devido ao acidente são suas prioridades.

A Samarco irá completar dois anos do reinicio de suas operações. A mineradora não quitou nenhuma das multas ambientais impostas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em decorrência do rompimento de sua barragem. Conforme informações do órgão ambiental, foram lavrados 25 autos de infração que totalizam R$ 350,7 milhões. Todavia, em nota a empresa nega que não efetuado pagamentos. Segundo a justificativa, os processos pendentes seguem por inconsistências administrativa e jurídica.

Como anda a vida em Bento Rodrigues

Em 2015, Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, tinha uma população estimada em 600 habitantes, que ocupavam cerca de 200 imóveis. O lugar foi o primeiro a ser atingido pela avalanche de lama (rejeitos) após o rompimento da barragem. Nada sobrou. Praticamente os seus moradores passaram a morar em Mariana. Sem a possibilidade de retorno ao local, a Fundação Renova constrói um novo lugar, através de um reassentamento de Bento Rodrigues, em um terreno de 398 hectares escolhido pela comunidade, em maio de 2016. A área foi urbanizada e planejada com ruas em duas vias e calçadas e com os lotes das casas de, no mínimo, 250 metros quadrados. Além da construção das casas, o trabalho envolve a retomada das atividades produtivas e o acesso da comunidade à infraestrutura e aos bens coletivos.

A tragédia de Mariana interrompeu 19 vidas. O seu impacto ambiental  considerado até hoje, o maior de nossa  história. Para quem achou que poderia ter servido de lição e ter sido o último, quatro anos depois, outra tragédia, essa com maior perda de vidas. Viver no Brasil é perigoso.

Imagem: reprodução Internet. 

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