“A vida é um momento. É um sopro. E a gente só leva daqui o amor que deu e recebeu. A alegria, o carinho e mais nada…”
É dessa forma que encaro a tragédia ocorrida com o helicóptero que levava o jornalista Ricardo Boechat. Algo parece surreal, metafísico, além de qualquer entendimento humano, terrestre. Qual justificativa para o ocorrido?
Perdemos um dos maiores jornalistas que esse país conseguiu produzir nas últimas décadas. Uma mente privilegiada, que ia além do normal. Sua atuação com análises críticas, sempre contundentes e embasadas, não permitia réplica de quem era criticado. Havia o respeito a narrativa de Boechat. Todos os dias nos acostumamos a acompanhá-lo na rádio, pela manhã, e a noite como âncora do Jornal da Band. E, ainda tinha, sem enjoar, o Canal Livre no fim do domingo e início da madrugada de segunda. Quantas vezes acordei me arrastando da cama horas depois para trabalhar, depois de acompanhar o programa no decorrer da madrugada.
Por anos acompanhei o trabalho de Boechat. Seu estilo crítico ajudou a me formar como analista político, restrito, é claro, ao campo da escrita; mas a narrativa de Ricardo era fenomenal. Poderia – como sempre fazia pela manhã bem cedo – falar por um bom tempo sem cansar o ouvinte. Justamente porque a cada frase, um fato novo, um processo dialético envolvente. Sua crítica dava voz a milhões de brasileiros, que tinham esperança em sua narrativa.
Sem dúvida, o Brasil ficou mais pobre intelectualmente. Uma mente como a de Boechat é algo raro, e não aparece facilmente. Demora para se formar e atuar ao grande público. No jornal, após uma reportagem ir ao ar, vinha o seu comentário, desta vez mais rápido pelo formato da televisão, mas não menos proveitoso. A sua partida deixará ao jornalismo brasileiro um buraco, um vazio. Igual a Boechat não há outro. Era único e assim será por um bom tempo.
Ricardo não era só jornalista, fazia jornalismo. A nós, e especialmente a mim, só resta agradecer. Obrigado, Boechat.