Andando em círculos

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A gestão do prefeito Darci Lermen completou 15 meses. Já trabalha com o próprio planejamento e orçamento há mais de 90 dias. Por todo o ano passado um mantra foi propagado por todo o primeiro escalão como um ano de organização e preparação para “arrumar” a máquina para os três últimos anos do mandato. Para isso, diversos arranjos institucionais foram criados (planejamento participativo e levantamento das demandas através de dezenas de audiências públicas), para que se garantisse a aplicação mais certeira possível dos recursos nas mais urgentes necessidades da população.

Em diversas cerimônias foram assinadas as Ordens de Serviço (OS) para o início de sucessivas intervenções urbanas em diversos pontos do município (zonas urbana e rural). Tudo isso, com a perspectiva de aumento gradual da arrecadação (centrada no reajuste da Cfem). Complementando ainda o aumento da arrecadação, há processos judiciais que podem garantir aos cofres municipais mais de meio bilhão de reais, além de captação de recursos, especialmente de nível federal.

O prefeito Darci, bem ao seu estilo mostra-se um político habilidoso e um reconhecido negociador. Tem carisma e sabe fazer articulações. Mostra competência exógena. A questão endógena é outra história e parece que ela é o maior problema. No início do ano ao analisar ¼ da gestão Lermen, afirmei que o mandatário municipal estava fazendo um bom trabalho “fora”. A falha estava “dentro”, ou seja, a forma de gerir a prefeitura e seus assessores mais diretos.

Darci é político (e dos bons) mas transparece ser ruim em gestão. Seus dois mandatos anteriores parecem não terem sidos suficientes para que ele pudesse acumular minimamente a expertise necessária para ser o maestro da orquestra. Para piorar a situação gerencial, além da deficiência do prefeito, o governo foi montado com excesso de perfil político e pouco técnico. 

Conforme analisei em outro texto, a estratégia foi clara: acomodar os agentes políticos apoiadores e tornar a gestão com ótimo nível de articulação política. Esse foi o primeiro passo. Dentro do espectro da articulação política viriam os passos seguintes (2,3): o controle do legislativo e dos maiores veículos de comunicação da cidade, ou seja, manter acomodado a maioria das mídias locais. Tudo isso foi gradativamente dando certo, especialmente os dois últimos. O Palácio do Morro dos Ventos não tem oposição na Casa de Leis. Tudo foi muito bem “costurado” possivelmente em caráter pessoal pelo próprio prefeito, como um grande articulador que é.

Mas não só de política ou de articulações vive ou sobrevive um governo. Em um município em grave crise econômica, o processo dialético da política, pautado em acordos, se perdem, viram pó. Já passou de a hora do governo imprimir uma verdadeira agenda de realizações e ações práticas. Tudo emperra no campo das pretensões. Não, por acaso, que a população já reclama e questiona os agentes políticos que estão no Palácio do Morro dos Ventos.

Já se faz necessário mudanças no primeiro escalão. Elas deverão ocorrer nas próximas semanas, mas terão como objetivo acalmar possíveis rebeliões que estavam sendo articuladas dentro da Casa de Leis, e não por conta do melhoramento do nível gerencial. Claramente o governo está amarrado aos acordos políticos, costurados na campanha. Darci parece que só irá promover maiores mudanças depois da disputa eleitoral, que só ocorrerá em outubro. Até lá, a sua gestão continuará andando em círculos, tendo um elevado custo negativo (mesmo com a postura conivente da Câmara e de grande parte da mídia local). Ou o alcaide municipal deixará de ser menos articulador político e mais gestor? E os feudos do primeiro escalão, continuarão? Serão a caricatura em pleno século XXI do feudalismo?

O período chuvoso vai passar e com ele a paciência de muitos que apoiam o governo. O problema já deixou de ser o orçamento ou falta de planejamento. As ações exógenas de Darci parecem ter lhe custado desgaste de sua imagem internamente, ou seja, avaliação popular vem caindo. A administração pública em Parauapebas torna-se cada vez mais complexa, frente aos crescentes problemas e cada vez mais a imposição de demandas urgentes, aliado desgraçadamente a falta de empregos. 

A questão é gerencial. Darci Lermen já está sentado na cadeira mais importante de Parauapebas a 3364 dias (duas gestões anteriores somadas a atual, com a contagem encerrada na data de publicação deste texto). Tempo suficiente para mediar as ações políticas com ações gerenciais. Em dois meses Parauapebas completará 30 anos de emancipação política, três décadas, um marco histórico. Lermen está a frente do Poder Executivo quase 1/3 deste período. A data passará sem que uma grande obra esteja sendo entregue ou, pelo menos, em execução. Andar em círculo, até quando?

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