O Presidente Jair Bolsonaro viajará a Israel neste fim de semana. Será a sua terceira viagem internacional no mês de março. No sistema presidencialista, o Chefe de Estado é o mesmo de Governo, diferente, por exemplo, do parlamentarismo, em que há claramente essa diferença funcional. Dito isto e acompanhando o desenrolar da crise política no Brasil, causada – em parte – pela própria (não) atuação do presidente, pode-se, portanto, afirmar que Bolsonaro torno-use pelas circunstâncias um Chefe de Estado ao modo parlamentarista, mesmo o regime sendo presidencialista.
O presidente claramente parece se importar pouco com Brasília. Seus interesses estão voltados ao exterior (e claramente com viés ideológico – algo que o bolsonarismo tenta combater, mas que produz ao seu modo). A ida a Israel é a confirmação desse direcionamento mantido pela ideologia, que hoje direciona o Ministério das Relações Exteriores, chefiada por Ernesto Araújo, mas controlado nos bastidores por Eduardo Bolsonaro (o verdadeiro chanceler) conforme explicado em outro texto.
Não há como negar que Jair Bolsonaro não reúne minimamente as condições para governar. Seus auxiliares mais próximos sabem disso. Ele não é, portanto, um Chefe de Governo, passou a ser um Chefe de Estado (nesta condição se assemelhando mais ao parlamentarismo, pela própria divisão de funções na prática). Essa é a nossa crise. Sua agenda, até intensa ao exterior demonstra isso, mesmo com a crise, e com a reforma da Previdência em risco de não passar, ou se passar, totalmente desfigurada do texto original, o presidente viaja. Em dia de expediente puxado em Brasília, vai ao cinema. Esse é o estilo Jair Bolsonaro de governar.
Em sua análise diária no programa “3 em 1” da rádio Jovem Pan, Carlos Andreazza afirma que o presidente parece o “Jaiminho” – clara referência ao personagem do seriado “Chaves”, em que o mesmo trabalha pouco, faz quase nada, tudo isso para evitar a fadiga. É essa a visão sobre o presidente. Um homem de pouco trabalho, de baixo empenho. E isso, por exemplo, pode ser confirmado se compararmos à sua atividade parlamentar: quase três décadas no parlamento, dois projetos aprovados. O retrato da inexpressão política. Não, por acaso, a sua permanência no parlamento, que virou uma dinastia, sempre o colocou no chamado “baixo clero”.
Bolsonaro não governa. Terceiriza a Presidência, e parece se interessar mais pelos assuntos de fora do país, com base na composição ideológica; e lá, como aqui, existe também o “inimigo” a ser combatido – a base de manutenção da atividade bolsonarista. A imprensa internacional sabe que não temos um presidente. Ou melhor, um Chefe de Governo. Instituímos um parlamentarismo às avessas, para que, o presidente possa ser o Chefe de Estado e não de Governo. Estamos à deriva.