Brasil secando

O título deste artigo é muito mais do que simplesmente uma força de expressão. De fato, o Brasil está literalmente secando. Os dados são alarmantes e demonstram na prática o caos que estamos prestes a viver. Essa afirmação se sustenta através da conclusão obtida pela análise de imagens de satélite de todo o território nacional entre 1985 e 2020 feita pela equipe do MapBiomas. A perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos equivale a mais de uma vez e meia a superfície de água de toda região nordeste em 2020.

Imagens de satélite do território brasileiro entre 1985 e 2020 mostram que, em apenas 35 anos, há perda de superfície de água em oito das 12 regiões hidrográficas, em todos os biomas do Brasil. A redução de água doce no país entre 1991 e 2020 foi de 15,7%, aponta reportagem da jornalista Daniela Chiaretti, e que foi publicada no Valor.

O MapBiomas é hoje a plataforma com base de dados mais atualizada sobre as transformações da cobertura e uso da terra no Brasil. Lançado agora, o MapBiomas Água faz o mapeamento territorial da dinâmica da água superficial para todo o Brasil. Foram processadas mais de 150 mil imagens de satélite ao longo de 36 anos, entre 1985 e 2020, distinguindo o que está acontecendo com os corpos hídricos naturais (rios, lagos, lagoas) dos feitos pelo homem, como reservatórios de hidrelétricas, açudes, barragens de mineração ou em propriedades privadas. O estudo aponta um cenário crônico, que se agrava nas últimas três décadas.

Todos os Biomas apresentaram perdas, porém, a situação mais preocupante é do Pantanal, que teve redução de 74% de sua superfície hídrica. Em termos de perda de superfície de água por ente federativo, Mato Grosso do Sul lidera com 57%. Entre as causas da perda de água estão: uso da terra, construção de barragens, poluição e uso excessivo dos recursos hídricos e as mudanças climáticas. Os dados indicam uma clara tendência de perda de superfície de água em 8 das 12 regiões hidrográficas – em todos os biomas do país.

Conforme tratado recentemente pelo Blog do Branco, importante lembrar que, vivemos o pior índice de chuvas dos últimos 91 anos, e o Brasil se prepara para atravessar uma das piores crises hídricas e energéticas. Os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste chegaram ao fim de julho com o armazenamento médio mais baixo de toda a série histórica disponibilizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – que teve início em 2000. Os números para o mês são piores, inclusive, que julho de 2001, ano em que o país enfrentou um racionamento de energia. Agora o risco de ter o fornecimento de energia racionado é muito maior do que no início deste milênio.

De acordo com o último boletim divulgado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), os reservatórios das Usinas Hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste operam com apenas 22,7% de sua capacidade de armazenamento. Responsáveis por cerca de 70% da geração hídrica do país, os reservatórios apresentam os níveis mais baixos dos últimos 91 anos. O volume útil de Furnas está em 18,3% e da usina de Nova Ponte em 12,2%.

De acordo com o relatório do ONS, os reservatórios do Norte devem terminar o mês de agosto com 72,4%, da capacidade de armazenamento seguido do Nordeste com 49%, do Sul com 26,8% e do subsistema Sudeste/Centro-Oeste com 21,7%. Segundo o operador, as afluências continuam abaixo da média histórica.

A situação é dramática e só vem se agravando. Não se observa nenhuma mudança de postura ou ações que visem a curto e médio prazos, reverter essa realidade alarmante. Enquanto isso, o Brasil vai secando.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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